Por Daniela Giopato
Apesar de serem atitudes primordiais para promover maior segurança nas estradas, apenas saber dirigir caminhão e respeitar as leis de trânsito não garantem mais ao carreteiro o ingresso em uma empresa ou até mesmo a contratação de uma carga, no caso dos autônomos. Isso porque transportadores e embarcadores buscam carreteiros capacitados para conduzir de maneira eficiente os seus veículos e assim obterem melhor resultado operacional, com maior economia de combustível e de pneu, entre outros itens. Outro fator importante é a atualização e conscientização do profissional em relação às novas regras e legislação, caso da Lei 12.619, que regulamenta a profissão, e provocou mudanças principalmente no tempo de direção.
Vitor Müller diz achava bobagem fazer cursos, mas hoje reconhece a importância
do treinamento para dirigir de maneira mais segura e econômica
“Os caminhões estão vindo cada vez com mais tecnologia embarcada e a legislação está mais exigente. Antes, o carreteiro era uma pessoa com o mínimo de conhecimento, mas com a nova tecnologia essa mão de obra hoje é extremamente valiosa, principalmente quando temos um profissional capacitado e desenvolvido para ter diferenciais no mercado do transporte de carga”, afirma Claudemir Turquetti, gerente de desenvolvimento da JSL.
No caso da transportadora JSL, um motorista que passa pelo Centro de Treinamento oferecido pela empresa tem muitas chances de ser contratado, devido a capacitação diferenciada que inclui carga horária extensa e conteúdo que varia de comportamento às mais adversas situações que o profissional pode se deparar no dia a dia. “Para se manter competitivo e valorizado, o motorista tem de investir em treinamentos e atualização de capacitação do produto embarcado, ser um bom condutor, respeitar e se inteirar dos conceitos das leis que regem a sua função no trânsito”, complementa Turquetti.
Apesar da importância, a coordenadora dos Cursos Caminhão Escola e In Company da Fabet, Gláucia Pizzolatto, explica que considerando a necessidade do mercado e as notícias de que faltam motorista, a instituição ainda não sentiu um aumento de procura por parte dos carreteiros. “O que temos percebido é o aumento da iniciativa, por parte de algumas empresas, em investir no profissional antes mesmo dele começar a trabalhar. Elas selecionam o motorista e o encaminham para qualificação na Fabet. Algumas alegam que é visível a diferença de postura do profissional e no desempenho dele na condução do veículo”, acrescenta Gláucia. Entre 2009 e 2012 a Fabet treinou 12.586 profissionais nas categorias Formação de Motorista, Qualificação e reciclagem de conhecimentos e In Company (realizados dentro das empresas).
Mesmo com a baixa procura por parte dos carreteiros, a coordenadora faz questão de ressaltar o quanto esses profissionais se surpreendem durante e depois de terem finalizado os cursos. Ela conta que no início, quando ficam sabendo que serão encaminhados para a Fabet, não gostam da notícia, pois eles têm certeza de que não há mais nada para aprender; ou, então porque não sentem a necessidade de aprimorar seus conhecimentos por terem experiência suficiente acumulada e terem aprendido na prática, com as dificuldades do dia a dia.
“Quando finalizam a participação, percebem o quanto o curso agregou no conhecimento deles e que todos precisam se atualizar constantemente, até mesmo porque, precisam saber e conhecer para acompanhar as tecnologias e as evoluções relacionadas ao transporte”, destacou.
A diretora da RAJ Consult, Marlene de Paula, reforça que além de fazer a diferença na rotina do profissional, os treinamentos motivam os carreteiros a quererem procurar outros cursos que os ajudem a se comunicar melhor e a crescer como pessoa e profissional. “Antes do treinamento, o motorista acredita que apenas dirigir o caminhão e não tomar multa é suficiente para não perder o emprego. Porém depois do processo passa a ter uma visão diferenciada e passa a compreender que o relacionamento interpessoal e com o cliente é muito importante para ele, além de aprender a disseminar conhecimentos, tais como economia de pneus, redução de troca de marchas”.
O carreteiro Vitor Müller, 43 anos de idade e 23 de profissão, de Mandai/SC, que trabalha no transporte de perecíveis, é um bom exemplo de motorista resistente a cursos e que depois de participar mudou de opinião. “Confesso que no começo não tinha muita paciência achava tudo isso uma bobeira. Perguntava: se sei dirigir e fazer a minha função, para que participar desses treinamentos? Mas aos poucos fui percebendo a importância e o quanto eu aprendia e me ajudava a realizar as minhas atividades de uma maneira mais econômica e segura. E o interessante é que ajudamos outros colegas também”, comenta.
Nos últimos dois anos, Müller realizou cursos de aperfeiçoamento de estrada como modo de conduta, responsabilidade, novas leis, andar corretamente, não usar rebite e importância de parar para descansar. Tudo através da empresa em que trabalha. Apesar de ter 23 anos de estrada, acredita que os cursos o ajudam a repensar nas atitudes e a controlar mais o estresse, que segundo ele, é muito forte por conta da pressão do dia a dia.
Outro motorista que também faz treinamentos constantes pela empresa que trabalhão é Odesio Francisco de Mattos, 55 anos e 37 de profissão de Curitiba/PR. Geralmente ele transporta embalagens entre São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte. Há seis meses participou de um treinamento sobre primeiros socorros e direção defensiva. E todo ano faz atualização do MOPP. “Quando comecei na profissão bastava saber dirigir, mas de 15 anos para cá as coisas foram mudando, as tecnologias chegando e hoje para você conseguir acompanhar todas essas mudanças tem de participar de cursos e se especializar”, aconselha. Odesio lamenta o fato de poucos motoristas terem acesso aos treinamentos, para melhorar a segurança nas estradas. Porém, destaca que um intervalo para se profissionalizar pode significar perda de dinheiro para o autônomo. Cita que as drogas, por exemplo, são um grande problema hoje em dia e recorda que antes o motorista usava só o rebite, mas agora passou para a cocaína. “Esses cursos são importantes para mostrar os perigos de misturar droga com direção”, opina. Uma sugestão sua seria utilizar os postos de serviços para promover cursos rápidos, pois com a Lei do Motorista os carreteiros passaram a ter tempo ocioso e que está sendo aproveitado de maneira errada.
O posto seria realmente um bom local para promover cursos e treinamentos, concorda o gaúcho de Uruguaiana, Dilmar Fernando Gomes, 33 anos de idade e 10 de profissão. “O posto é praticamente a nossa casa, seria o ideal, e assim mais motoristas poderiam se atualizar e conscientizar, principalmente”, destacou Gomes, que faz a linha do Mercosul transportando autopeças.
Há dois anos ele participou de cursos como o MOPP, Direção Defensiva e Legislação, e acredita que o ajudou a ter um conhecimento básico sobre alguns produtos perigosos e como reagir em caso de acidente, a dirigir de maneira mais segura e econômica e também a entender melhor as novas leis, para evitar multas. “Se todo mundo dirigisse como é ensinado nesses cursos, os acidentes diminuiriam. Tenho vontade de fazer um sobre tecnologia, já sinalizei e agora é esperar”, afirmou o carreteiro que diz não ter enfrentado dificuldades para se adaptar ao câmbio automatizado.
“Antes tinha de ter experiência, bastava dar uma volta no caminhão, ter uma indicação e pronto, o emprego era seu. Agora não, com a chegada do caminhão automático, ABS, e outras tecnologias, tivemos que aprimorar nossos conhecimentos para dirigir corretamente este tipo de veículo”, declarou Gilberto Souza Silva, 49 anos de idade e 28 de profissão, de Xaxim/SC.
Recentemente, ele participou de treinamento oferecido por uma montadora, que incluiu economia de combustível, pneus e sistema de freio. Apesar de certa experiência na profissão, garante que sempre se aprende e descobre alguma coisa que jamais poderia imaginar.
Adailton Djavan Ruhmke, 29 anos de idade e oito de profissão, de Concórdia/SC, faz a rota Nordeste e apesar de ainda não ter tido a oportunidade de realizar curso algum tem vontade de fazer, principalmente o de direção defensiva. “Cada viagem é diferente da outra e sempre aprendemos algo novo, porém é importante se atualizar para aprimorar o conhecimento da estrada e lidar com as situações que vivenciamos no nosso dia a dia”, opina.
Para Adailton, os treinamentos deveriam começar momento em que motorista ingressa na profissão e pensa que os testes nas empresas deveriam ser mais rígidos. “Lembro que quando comecei a trabalhar fiz o teste em um caminhão vazio e já no dia seguinte peguei uma carga de porcos para Belo Horizonte. Um transporte perigoso e complicado. Tive medo, afinal não tinha muita experiência, mas fui na sorte. Os treinamentos deveriam ser mais rígidos e eficazes como o da Fabet. Nessas escolas o motorista realmente sai profissional, o único problema é o valor que temos de investir. Eu mesmo nasci encima de um caminhão mais quando fui para a estrada vi que era completamente diferente”, destaca.
Diferente dos colegas, Jean Pierre Cunha, de São Paulo/SP – e atualmente morando em Itajaí/SC – de 45 anos de idade, acredita que o que faz a diferença na estrada é saber dirigir. Com apenas oito meses de experiência como motorista de caminhão, ele garante que ter o nome limpo e exercer a profissão de maneira correta. “A falta de motorista está dando a oportunidade para quem quer ser carreteiro. Antes de dirigir a carreta vim de carona com outro motorista que me explicou o básico, Eu entendi e não tive nenhuma dificuldade. Tem que dirigir com consciência. A melhor experiência é a vida”, opina.
Já o experiente Vivaldo José Luiz, de Guarambi/BA, 51 anos de idade e 33 de profissão, discorda. Ele acredita que realmente era assim quando começou na profissão. Bastava aprender com o pai, arranjar um caminhão ou uma vaga em alguma empresa e já estava na área. Mas as coisas mudaram muito e hoje é muito importante buscar informação, participar de cursos e treinamentos para acompanhar as novas tecnologias dos caminhões e até mesmo as novas legislações. “Nos últimos anos fiz vários cursos, como Direção Defensiva, Primeiros Socorros e iniciei um de mecânica. O interessante é que aprendemos a ter mais disciplina e não cometer loucuras na estrada. Afinal, quase todos os acidentes são provocados pela falha humana”, alertou.
Em sua opinião, deveriam ser realizados cursos rápidos e em locais de fácil acesso para os motoristas de caminhão e que abordassem temas como educação no trânsito, conscientização e principalmente direção defensiva. “Seria interessante, pois dessa forma mais motoristas poderiam ter acesso, inclusive os autônomos, conclui.