Com a nova fábrica a todo vapor e uma forma diferente de vender caminhões, a Scania iniciou o ano de 2019 posicionada como uma fabricante alinhada com o que há de mais moderno no mundo dos veículos pesados

Por: João Geraldo

Fotos: Divulgação

A Scania começou 2019 a todo vapor. Depois de dar por encerrada a produção e vendas da linha P, G e R no final de dezembro de 2018, a montadora iniciou o ano com mais de 3.000 pedidos da linha 2019 em carteira. Os veículos começaram a ser entregues aos transportadores no início de fevereiro. Totalmente novos, no que diz respeito principalmente à motorização, caixa de transmissão e cabine, com os modelos dessa geração a empresa estreou também uma forma diferente de comercializar caminhões, pela qual o veículo é o resultado de uma minuciosa e detalhada especificação técnica direcionada à aplicação.

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Silvio Munhoz: o mercado já reconhece que os caminhões Scania da nova geração têm capacidade para entregar a eficiência e rentabilidade esperada pelos transportadores. E que são esses os motivos que elevaram as vendas rapidamente

Na ótica do diretor comercial da Scania no Brasil, Silvio Munhoz, o mercado já reconhece que os veículos dessa nova geração têm capacidade para entregar a eficiência e rentabilidade esperada pelos transportadores. Explica que esses são dos motivos que levaram as vendas a avançarem rapidamente. Destacou que o setor agrícola é um dos grandes motivadores das encomendas e que em 2018 a Scania obteve crescimento de 63,8% no segmento, com o licenciamento de 8.028 unidades contra 4.901 em 2017.

Assim como outros executivos do setor, a expectativa de Munhoz é que o mercado continue crescendo durante 2019, com um avanço sobre o ano passado de até 20% dos modelos acima de 16 toneladas. Isso, caso as medidas econômicas propostas pelo governo se concretizem. Mesmo diante da confiança sobre a capacidade de entrega dos caminhões da marca, o executivo de vendas da Scania não descarta que introduzir a nova geração de caminhões no mercado tem seus desafios.

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A nova geração mereceu uma reformulação da fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Uma das novidades da unidade é a Revisão Final, onde um dos caminhões fabricados passa por uma vistoria antes de ser entregue ao cliente. João Batista Fernando dos Santos, responsável pela área, explicou que o local concentra etapas que antes eram menores e descentralizadas. “Com isso, a qualidade ficou ainda melhor”, acrescentou.

A Revisão Final funciona em duas etapas que a Scania chama de fluxos frio e quente. No primeiro os técnicos da fábrica checam o sistema de freios, direção e alinhamento de faróis, entre outros detalhes. Em seguida todo o funcionamento do caminhão é checado em teste drive. Já no fluxo quente, são analisados os níveis de líquidos (água e óleo) para depois o veículo receber o selo e, em seguida, a aprovação final de cada um dos itens revistos.

Fábio Souza
Fábio Souza: nenhum outro fabricante de caminhões revolucionou tanto o mercado com soluções de serviços nos últimos anos como a Scania

Os novos caminhões e a forma de comercializá-los exigiu mudanças na rede de concessionários. A jornada teve início há três anos, com o processo em oficinas, conforme lembrou Fábio Santos, diretor de serviços da Scania, ao falar sobre as soluções customizadas para os novos caminhões. Uma delas são os serviços conectados, cujo objetivo é transformar os dados em informações para atender os clientes. “Nenhum outro concorrente revolucionou tanto o mercado com soluções de serviços nos últimos anos como a Scania”, complementou.

Essa troca de dados possibilita, entre outras coisas, que se programe a troca de componentes e também a parada do veículo. “Estamos transformando dados em informação e informações em meios de atender nossos clientes”, disse Fábio Souza. O PMS Fleet Care, lançado com a nova geração de caminhões, funciona por meio de um gestor coordenado pela rede de concessionários.

PLANOS DE MANUTENÇÃO

A partir de abril de 2016, todo caminhão Scania já sai de fábrica com módulo de conexão, bastando que o transportador autorize a conexão para ter, gratuitamente, o plano de manutenção “Análise” pelo período de 10 anos. Atualmente já existem cerca de 15.500 caminhões conectados e 11 mil com planos de manutenção geral. Em 2018, 41% dos caminhões vendidos saíram de fábrica com algum tipo de plano (além do Análise existem o Flexível, Desempenho e Fleet Care).

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Para 2019, a projeção é que mais de 50% dos caminhões novos saiam de fábrica com algum tipo de programa de manutenção que os serviços conectados entre caminhões e ônibus atinjam 28 mil veículos. Na perspectiva de Santos, nos próximos cinco anos os veículos conectados deverão subir para 90 mil e os com Programas de Manutenção, 60 mil. 

Cerca de 85% dos planos serão Flexíveis, no qual a cobrança é feita de acordo com a operação de cada cliente, por quilômetro efetivamente rodado e de acordo com a faixa de combustível. É feito sob medida usando dados do caminhão em tempo real. Para a Scania trata-se de uma nova era da manutenção personalizada, o próprio caminhão comunica ao sistema quando a preventiva é necessária, conforme os módulos de manutenção.

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Scania iniciou 2019 com alto volume de pedidos d de caminhões da nova geração.Os veículos começaram a ser entregues em fevereiro e a empresa está confiante no desempenho dos produtos e na continuidade do aquecimento da economia brasileira

“Com o PMS Flexível, se paga pelo que  o veículo rodar e a cobrança passa a ser conectada ao consumo de combustível. Se o caminhão permanecer parado durante todo o mês, o custo de manutenção será zero. Já os que consumirem menos combustível entram em uma faixa de economia de menor demanda de manutenção preventiva e de tarifas reduzidas por quilômetro rodado.

PARCERIAS

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Atílio Contatto: eu não compro caminhão. Eu compro rentabilidade. Por isso, um dos pilares mais importantes é o que a marca entrega ao cliente

Atílio Contatto, da Transportadora Contatto, empresa especializada na movimentação de cargas perigosas (gás, combustíveis e fertilizantes), disse que a entrega ao cliente é um dos pilares mais importantes para o relacionamento entre as duas empresas, e isso a Scania faz. “Eu não compro caminhões, compro rentabilidade”, reforçou. De acordo com Atílio, a trajetória da transportadora, fundada em 1960, desde quando comprou o primeiro caminhão, se mistura com a da montadora. Atualmente, dois terços de sua frota de 325 veículos são da marca.  

As soluções customizadas da empresa passam pelo programa de manutenção Scania, o PMS Fleet Care, que tem os serviços conectados como base. Um dos cinco principais pilares do PMS é a identificação do estilo de direção do motorista e, caso necessário, corrigir eventuais itens que contribuam para tirar maior rendimento do caminhão com economia de combustível. 

Para o transportador, a receita para atrair novos profissionais no setor é a valorização. “Isso inclui remuneração justa, premiações e cursos de capacitação incluindo simuladores para testes de segurança”, concluiu.        

Outra transportadora que opera há décadas com veículos da Scania é a Transportes Botuverá, empresa com operação no Mato Grosso. Segundo Adelino Bissoni, diretor da empresa e também produtor rural, a parceria já dura 43 anos. Sobre o motorista, ele comenta que num passado recente já houve falta de carreteiros qualificados, principalmente no Mato Grosso. 

A solução, lembrou, foi fazer parceria com o Sest-Senat, para incentivar o ingresso na profissão das novas gerações e acabar com a ideia de que trabalhar com caminhão é desconfortável. “Afinal, hoje os veículos são mais confortáveis que muitos automóveis de passeio”, afirmou. Independente da capacidade do motorista, a qual é tida como um dos itens para se obter melhor resultado operacional, é preciso também prever as manutenções para que o caminhão fique parado o tempo mínimo possível. Isso pode ser uma realidade com aplicação da conectividade, que permite a troca de dados entre o veículo, a concessionária e a fábrica.

MOTORISTA AUTÔNOMO

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Adelino Bissoni: parceria foi uma solução para suprir a falta de motoristas. Hoje, os caminhões são mais confortáveis do que muitos automóveis de passeio

Independente de toda a tecnologia da conectividade para se obter maior rentabilidade no negocio de transporte, motorista o autônomo precisa estar cada vez mais preocupado em controlar seu negócio. Nas palavras do transportador Adelino Bissoni, o profissional autônomo precisa saber quanto vai gastar de combustível e receber também condições técnicas, econômicas, de infraestrutura na rodovia e segurança durante a jornada. 

Sobre o frete, disse, a definição de um valor por quilômetro rodado poderia ser uma solução para o frete, mesmo assim, estaria longe de chegar a um consenso. “O profissional do setor deve conhecer seu custo e não trabalhar abaixo dele. Não adianta a tabela dizer que o quilômetro rodado custa R$ 5, o transportador pagar R$ 3 e o motorista aceitar”, opinou.

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Além do profissional do volante capacitado, é preciso também prever as manutenções do caminhão

Ainda de acordo com o transportador, o transporte de grãos está até mesmo acima do valor da tabela, principalmente nos trechos acima de 1.000 km. “O problema reside no frete de retorno, que não consegue acompanhar a tabela”, disse, acrescentando  que transportar grãos de Rondonópolis para Natal, por exemplo, leva a tabela de frete às alturas. “Por isso, o livre mercado acaba protegendo o autônomo”, concluiu.