O seminário Caminhos para a retomada, evento promovido pela Associação Nacional dos Veículos Automotores (Anfavea) e realizado em São Paulo, em junho, teve como principal objetivo analisar a situação do mercado de veículos comerciais e encontrar soluções para reduzir os efeitos provocados pela crise econômica brasileira que vem afetando diretamente nas vendas de caminhões pesados.

O presidente da Anfavea, Antônio Megale, abriu o evento ressaltando a queda do mercado de caminhões a partir de 2012. “Em 2011 foram comercializados 170 mil caminhões e em 2016 o mercado sofreu uma queda de 70%, com apenas 51 mil unidades licenciadas. A previsão para 2017 é de uma ligeira melhora, fechando o ano com aproximadamente 52 mil unidades, porém esse número ainda não pode ser confirmado”, avaliou.

Megale destacou ainda a variação mensal e o acumulado deste ano em relação ao mesmo período em 2016, que apontam para uma ligeira melhora. Lembrou que entre janeiro e abril foram comercializadas 13.134 unidades, havendo uma redução de 24,1%. Já em maio, o total de emplacamentos atingiu 17.312 e a queda passou a ser de 19,4%. “Estamos olhando com muita atenção esses números. Embora haja uma redução ainda está muito longe de chegarmos ao número do ano passado. Se em 2016 a situação já era dramática, em 2017 o problema é ainda maior”, reforçou.

Mas apesar da realidade, Megale destacou que existem alguns fatores interessantes. Primeiro, a safra recorde desse ano, fechada em 234 milhões de toneladas de grãos, que naturalmente contribui para a recuperação do agronegócio. Outros pontos são os investimentos em infraestrutura, importantes para a retomada e crescimento do PIB puxado pelo agronegócio, e a grande expectativa dos empresários. “Sem as reformas trabalhistas e previdenciárias, entre outras, o Brasil terá dificuldade de chegar ao equilíbrio fiscal e retomar a confiança dos investidores”, afirmou.

Para os representantes das montadoras Volvo, Iveco, Mercedes-Benz, MAN, Ford e DAF, a retomada no mercado de veículos comerciais depende de estabilidade política e econômica e previsibilidade. “Precisamos pensar em algo previsível. Estamos num momento complicado, mas é também uma grande oportunidade para deixarmos de fazer “cirurgias emergenciais” e passarmos para um “ transplante” completo de órgãos. Precisamos de soluções que não criem uma bolha como no passado e trabalhar para aumentar a competitividade do País globalmente”, afirmou o presidente da Volvo Bus Latin America, Fabiano Todeschini.

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VOLVO Fabiano Todeschini
Precisamos de soluções que não criem uma bolha, como aconteceu no passado, disse Fabiano Todeschini, executivo que representou a Volvo

Ele destacou que atualmente a Volvo do Brasil perde mercado para as próprias plantas na Suécia. “É mais barato vender da Suécia para a Colômbia do que do Brasil.  Por esse motivo, quanto mais competitivos nós formos, melhor será para o mercado brasileiro. Mas para isso é necessário ter estabilidade nas políticas. Tenho grande expectativa na rota 2030, que tenha uma política bem definida, de longo prazo, que nos permita olhar para frente. Precisamos de simplicidade e menos burocracia”, concluiu.

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Marco Borba, vice-presidente da Iveco, destacou ser inadmissível que o Brasil esteja em uma classificação tão baixa de competitividade

Para o vice-presidente da Iveco, Marco Borba, é inadmissível que o Brasil esteja em uma classificação tão baixa de competitividade. Hoje, as dificuldades de exportar e importar um veículo são muito grandes por conta dos impostos. “Nós somos empresários de multinacionais e com certeza temos muita tecnologia lá fora que poderiam ser incorporadas no País para benefício do consumidor brasileiro e clientes da América Latina. Por isso endosso a importância de uma política a longo prazo e de visibilidade”, analisou.

O plano para 2030, na opinião de Borba, tem de estar acima de qualquer governo que assuma o cargo. Afinal, o plano é para 20 anos e não pode ser mudado a cada quatro anos com as alterações de governo. “Hoje nós não temos isso. Até na questão de financiamento. Não conseguimos em outubro dizer qual a regra do Finame para janeiro e isso dificulta as vendas. Temos de trabalhar juntos para corrigir a rota”, propôs.

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Devemos pensar em um projeto para o futuro do País, afinal, queremos o Brasil inserido no mundo moderno. Temos de abrir o mercado, mas também temos de ter condições de exportar mais, disse Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz

O presidente da Mercedes-Benz, Philipp Schiemer, lembrou o momento dramático do Brasil e do mercado de caminhões, por isso destacou a necessidade de tomar decisões emergenciais e criar soluções a longo prazo. “É na crise que temos as maiores oportunidades e quando realmente começamos a mudar as situações. Porém, o Brasil precisa ser mais competitivo para as mudanças aparecerem”.

Schiemer acrescenta que o mercado fechado não vai salvar a indústria e que todos os envolvidos devem ceder. O governo, por exemplo, terá de incentivar a exportação, facilitar os trabalhos internos e reduzir o custo Brasil. “Juros elevados e legislação trabalhista cara deveriam ser ajustados”, acrescentou. O executivo, destacou ainda que temos de abrir o mercado, mas também temos que ter condições de exportar mais. Devemos pensar num projeto para o futuro. Afinal, queremos o Brasil inserido no mundo moderno”, concluiu.

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O governo tem que deixar os fabricantes de veículos trabalharem com situações estabelecidas, reforçou Ricardo Alouche, vice-presidente da MAN

Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN Latin America, reforçou a questão da simplicidade e previsibilidade para iniciar a caminhada rumo a retomada. Ele cita as questões do Finame, dos impostos, taxa cambial e políticas. “Precisamos ser simples na previsibilidade. O governo tem que deixar as fabricantes trabalharem com situações estabelecidas, para que o nosso cliente não tenha expectativa de que amanhã terá uma taxa de juros mais baixa ou alta de maneira drástica, ou que não vai ter o Finame”.

Alouche acredita que apesar de 2011 ter sido um ano pontual com várias condições que elevaram o mercado a 170 mil caminhões comercializados, o Brasil é grande para voltar a esse patamar. “Quando analisamos a Alemanha, por exemplo, já está tudo pronto, estradas, hidrelétricas e infraestrutura, portanto, a chance de crescer é limitada. Tanto é que quando o mercado cresce 5% é um fenômeno. Quando cai 3% é crise total. Aqui, entre 2011 e 2016 o mercado caiu 70%. Apesar de estarmos um pouco enfraquecidos, lutamos porque acreditamos na volta do mercado”, avaliou.

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Já estamos adequados à nova realidade e prontos para a volta do mercado, afirmou João Pimentel, da Ford

O diretor de vendas, marketing e serviço para caminhões da Ford, João Pimentel, acrescentou que acredita em uma retomada do mercado, porém não tem como precisar quando, devido as instabilidades políticas. “Acredito que esse cenário volátil vai permanecer por algum tempo ainda. A gente percebe que o cliente ainda não tem confiança para investir e vai postergar as compras. Enquanto isso, temos que fazer a nossa lição de casa, melhorar a nossa eficiência, buscar alternativas, investir e ser competitivos nas exportações”.

Pimentel acredita que o as fabricantes já se adequaram a nova realidade do País, e quando o mercado voltar todos estarão mais preparados. “A minha preocupação está em sustentar e manter a confiança dessa rede no mercado de caminhões durante esse período”, opinou.  O executivo da Ford citou também a renovação de frota e disse que se realmente tivermos um programa bem estruturado teremos um forte aliado na retomada, além de melhorar a segurança e preservar o meio ambiente.

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Faltam regras claras e previsíveis para ajudar a sermos mais competitivos, acrescentou Michel Kuester, da DAF

Já o presidente da DAF, Michel Kuester, destacou que a empresa acreditava estar investindo num País de transparência e previsibilidade, mas o momento mostra características opostas. “Essa transparência é importante. O Brasil tem de ter regras claras e previsíveis para ajudar a sermos mais competitivos”, sugeriu.

O executivo disse ainda que apesar do momento difícil, em seis anos no Brasil ele nunca viu tantos clientes desejando comprar caminhão. “O setor precisa dessas discussões em busca de soluções a longo prazo para ajudar o mercado de caminhões  voltar a crescer”, finalizou. Estiveram presentes também representantes da Fenabrave, Anfir, Anef, Fenabran, Sindipeças, AEA e BNDES.