Daniela Giopato

Todo motorista sabe que para manter o bom desempenho de seu bruto é necessário utilizar um combustível de boa qualidade. A mesma teoria deveria ser aplicada quando fosse escolher os tipos de alimentos para comer durante as refeições. Afinal, da mesma forma que um caminhão sem um bom combustível tem as suas funções reduzidas, um corpo que não ingere alimentos saudáveis não funciona bem e ainda fica mais vulnerável ao desenvolvimento de doenças como pressão alta, infarto, obesidade e colesterol.

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Mas o que seria certo não é o que acontece no dia-a-dia desses profissionais. Com a desculpa de que “o tempo é curto” os motoristas de caminhão, muitas vezes sem saber, ingerem de forma exagerada proteínas, gorduras e sal, o que para a saúde não é nada bom.

A nutricionista Gabriela Nery Ribeiro Casado concorda que é muito difícil mudar o hábito alimentar. Porém, deve-se fazer um esforço já que os benefícios são muitos. “Alguns carreteiros que optaram por uma alimentação mais saudável registraram diminuição de peso, melhora na pressão arterial, cessação de desconforto, como dor nas costas, por exemplo”, afirma.

Luiz Cesar Curi, Bajé/RS, 15 anos de profissão, dirige na rota Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro e costuma cozinhar a própria comida no caminhão. Apesar do tempo ser um pouco apertado procura se alimentar para poder trabalhar bem. Ele diz que salame e queijo não podem faltar no seu café da manhã e na hora do almoço não recusa um prato de arroz, feijão, bife e salada. “Tudo é feito bem rapidinho para não perder tempo”, brinca. Durante a viagem tem o hábito de comer frutas. “Como temos pouco tempo para cuidar da saúde, procuro fazer um check-up em postos que ofereçam esse tipo de serviço. Mas eu sei que o ideal seria procurar um médico a cada seis meses”, reconhece.

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Os alimentos embutidos, tais como salame, mortadela, presunto etc, e os queijos amarelos (mussarela, prato e parmesão) são ricos em sal e gorduras portanto devem ser pouco consumidos ou até excluídos da dieta de pessoas com hipertensão arterial. O ideal é consumir uma fatia média de queijo branco fresco no café da manhã”, explica Gabriela.

Diferente do colega Luiz, Flávio Ritter, Garibaldi/RS, 10 anos de profissão, não tem como cozinhar no caminhão e por isso faz as refeições em restaurantes. “Tenho costume de comer salada e, claro, um bom churrasco. Na verdade eu confesso que costumo pegar o que mais me atrai no buffet e na hora nem me preocupo se é ou não muito saudável”.

Flávio faz três refeições por dia e para a viagem sempre carrega fruta no caminhão, as quais compra na beira da estrada. “Outra coisa que tenho de fazer, mas acabo deixando de lado, são as visitas ao médico. Há dois anos que não passo por um doutor e para prevenir faço check-ups na estrada”.

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Outro inimigo número um dos carreteiros, segundo a nutricionista, é o churrasco. “A ingestão exagerada de proteínas e gorduras de qualidade ruim pode resultar em problemas de hipertensão arterial, devido ao alto teor de sal e doenças cardiovasculares, em virtude da circulação ineficiente, ocasionada pelo depósito de gorduras nas artérias e aumento de ácido úrico”. Além disso, Gabriela faz um alerta aos motoristas para uma visita regular ao médico, porque a rotina que inclui dormir pouco, estresse, falta de atividade física, é um fator de risco para o desenvolvimento de diversas doenças.

Temos informação, mas não temos tempo para seguir o que aprendemos”, afirma Denilson Carvalho, de Porto Alegre/RS, que garante visitar o médico a cada cinco meses. Na sua opinião, a refeição mais importante do dia é o café da manhã, então ele capricha, com leite, café, pão com manteiga e queijo. Além disso, para evitar cãibra, em razão de passar muito tempo sentado, come banana. “Quando volto para casa procuro me exercitar um pouco, jogando um futebol com os amigos”.

Alguns carreteiros parecem não se preocupar muito com a saúde e optam em contar com a sorte, como é o caso de Luiz Carlos de Almeida, de São Paulo/SP, 15 anos de profissão, e de Marcelo Suniga, areeiro de São Paulo/SP com 13 anos de estrada. “Acho que não me preocupo muito com essas coisas. A minha rotina já diz tudo: comer, sentar e dirigir. E a marmitex não tem salada. Como arroz, feijão, bife, batata e jamais dispenso um churrasco. O máximo que faço é dar uma caminhada de meia hora. Além disso, já faz uns quatro anos que não vou ao médico. Às vezes vou a um posto de saúde perto de casa para medir a pressão e fazer um teste de diabete. Nunca deu nada”, afirma Luiz.

Marcelo diz não ter tempo para se preocupar com o que come. “Geralmente é um prato básico de arroz, feijão e bife. Visito o médico uma vez por ano e não tenho o costume de fazer exercício. Fiz um check-up e foi detectado pressão alta, por isso tive de tomar remédio. Agora controlo o sal e evito muita gordura”, diz o carreteiro acrescentando ter conhecimento que essa rotina de se alimentar mal, parar o remédio e não se exercitar é perigosa.

Já o carreteiro Moisés Leme, de Goiânia/GO, 28 anos de profissão, que faz o trecho Goiânia/Minas Gerais e São Paulo, chega a permanecer de 20 a 30 dias na estrada e por isso procura comer alimentos saudáveis e descansar duas horas entre uma viagem e outra, apesar de ser fumante. “Sempre que posso participo das campanhas das concessionárias de rodovias e aproveito para tomar uma vacina e medir a pressão. Os resultados sempre foram positivos e acho que é porque sou uma pessoa tranqüila, não me estresso, dirijo com calma e estou sempre de bem com a vida. Tenho duas filhas e minha mulher me esperando em casa”, acrescenta.

Uma das soluções apontadas pela nutricionista para ajudar os carreteiros a terem uma alimentação saudável seria o uso de geladeira no caminhão. “A qualidade dos alimentos preparados nas estradas seria de qualidade muito superior, considerando que a falta de um refrigerador faz com que os carreteiros utilizem alimentos com alto teor de sal e conservantes”, afirma. Alguns alegam que a geladeira altera o bom desempenho do caminhão. Eduardo Duarte, coordenador comercial da Elber – fabricante das geladeiras – explica que os produtos atendem a todas as características de instalação no caminhão, inclusive nos eletrônicos. “As nossas geladeiras, por exemplo, podem ser instaladas em qualquer caminhão, seja na cabina, carroceria, caixa de rancho ou no cavalo-mecânico. E suporta chuva, sol, poeira e solavancos da estrada”, garante. Entre as vantagens apontadas pelo fabricante estão a redução no custo da alimentação, ter sempre comida no caminhão já que a geladeira congela e resfria, e o fato do motorista saber o que está ingerindo.

Uma comparação aproximada da importância dos cuidados com a saúde é relacioná-la aos cuidados que se dispensa com o caminhão. Sem manutenção preventiva, o diagnóstico prévio de doenças detectadas por exames simples de rotina, que podem prevenir complicações muitas vezes irreversíveis, o carro pára. Às vezes, para sempre.

Legendas:

Queijo e salame são os alimentos que não podem faltar no café da manhã do gaúcho Luiz Cesar Curi, que faz sua comida na caixa cozinha do caminhão

Flávio Ritter faz três refeições por dia durante a viagem e carrega frutas no caminhão, mas está há dois anos sem visitar o médico e fazer um check-up

Denilson Carvalho procura comer somente nos restaurantes de postos onde ele conhece a qualidade dos alimentos e come banana para evitar cãibra

Os amigos Luiz Carlos e Marcelo comem prato feito, arroz, feijão, salada e bife. Luiz diz que caminha pouco e há anos não vai ao médico. Em Marcelo já foi detectada pressão alta

Moisés Leme se considera uma pessoa tranqüila. Se alimenta com produtos saudáveis, dirige com calma e nunca se estressa, mas é fumante