Por Daniela Giopato

As mudanças no transporte de cargas que chegaram aos caminhões, como as novas tecnologias que os tornaram mais eficientes, chegaram também aos motoristas na forma de exigências que ultrapassam o currículo de anos e anos na estrada. Para ser profissional afinado com o mercado e se manter competitivo, o carreteiro precisa estar sempre atualizado através de treinamentos e cursos, cuidar da aparência, do caminhão e procurar manter o nome limpo na praça. Apesar de haver profissionais que resistem às mudanças, há também aqueles que acreditam que as novas regras estão contribuindo para a categoria se profissionalizar e se valorizar, além de ganhar mais respeito.

Carlos Alberto Santos acredita que devido às exigências, dentro de alguns anos os bons profissionais não irão pagar pelos erros dos ruins
Carlos Alberto Santos acredita que devido às exigências, dentro de alguns anos os bons profissionais não irão pagar pelos erros dos ruins

“Todas essas exigências praticadas pelas empresas ajudaram a categoria a se organizar melhor. Antes estava tudo muito bagunçado, pois bastava ter um caminhão, um pouco de experiência e estacionar em uma empresa para carregar. Mas agora é diferente”, afirma o paranaense Carlos Alberto Santos, 54 anos de idade e 19 de profissão. Ele explica que atualmente há um tipo de filtro e quem não atender aos pré-requisitos fica fora ou com os fretes de menor valor. Santos tem opinião de que ainda falta muito para a classe ter mais respeito, mas lembra que a reciclagem já começou e que daqui um tempo o bom profissional não vai mais pagar pelo ruim. “Quem não se atualizar vai carregar apenas no interior de Mato Grosso, puxando madeira”, sugere.

Carlos aproveita para ressaltar que os empresários do transporte não estão errados, pois é o motorista que trata com o cliente, e se ele não tiver o devido preparo, e se apresentar de qualquer jeito, pode até prejudicar a imagem da empresa. “Por isso, cuidar da aparência e ter um bom currículo é imprescindível para aqueles que querem crescer na profissão, caso contrário serão eternamente um“chofer de cargas”, diz. Para não perder competitividade, Carlos diz que procura fazer cursos para se manter atualizado sempre

Para o Nolberto Pereira, não aceitar as mudanças é um problema, pois diz que têm colegas que nem conseguem operar o teclado do rastreador
Para o Nolberto Pereira, não aceitar as mudanças é um problema, pois diz que têm colegas que nem conseguem operar o teclado do rastreador

que pode e também para saber das novidades, porque tem consciência que o caminhão está cada vez mais desenvolvido. “Outro ponto importante é estar com a barba feita, cabelo penteado, ficar longe da bebida e manter o nome limpo na praça, além de estar com a manutenção do caminhão em dia”, finaliza.

Na opinião do gaúcho Nolberto Pereira Aust, 44 anos, quatro de estrada, São Borges/RS, entre os requisitos básicos para um motorista conseguir bons fretes é estar com o nome limpo na praça, fazer cursos especializados, não beber e estar sempre apresentável com a barba feita, além da roupa limpa, cabelo penteado, cumprir horários e ter bom comportamento. “Parece bobagem, mas hoje em dia as empresas olham muito o comportamento do carreteiro, como ele lida com as situações e se está adequado às normas de segurança pré-estabelecidas. E não contratam e nem disponibilizam cargas para motoristas que arranjam confusão em qualquer lugar que chega”, assinala.

Cabelos cortados e arrumados, barba bem aparada e roupa limpa são importantes para a valorização da categoria, diz Paulo Ricardo Santos
Cabelos cortados e arrumados, barba bem aparada e roupa limpa são importantes para a valorização da categoria, diz Paulo Ricardo Santos

Nolberto ressalta também que o maior problema é o fato de alguns carreteiros não aceitarem as mudanças impostas pelo mercado e continuarem agindo conforme as suas próprias regras. Para ele, se todos respeitassem as normas e realmente quisessem crescer profissionalmente, algumas situações constrangedoras poderiam ser evitadas. “Muitas empresas, por exemplo, proíbem a entrada do motorista com a sua família por conta do mau comportamento de alguns”, desabafa.

As exigências, quando seguidas, contribuem para que a categoria deixe de ser desorganizada e passe a ser mais valorizada, acredita Nolberto. “O problema é que nem todos entendem assim. Parece brincadeira, mas tem colega que até hoje não consegue operar um teclado de rastreador”, avalia. Na sua opinião, este tipo de motorista não pensa em evoluir e só consegue carregar ainda por conta da experiência. Outra sugestão do carreteiro é investir no caminhão e diz que por conta disso procura sempre fazer manutenção nos pneus, manter a bomba e o bico regulado para fazer menos fumaça. A receita é evitar que o veículo fique parado, o que significa prejuízo.

Fernando Reck acha que o motorista é o cartão de visitas, que trata diretamente com o cliente, por isso tem de passar boa impressão
Fernando Reck acha que o motorista é o cartão de visitas, que trata diretamente com o cliente, por isso tem de passar boa impressão

Com 43 anos de idade e oito na profissão, Paulo Ricardo Santos, de Três Passos/RS, conta que a empresa para a qual trabalha é bem criteriosa na questão da aparência dos motoristas. “Todos tem que estar com o cabelo arrumado, uniforme limpo e barba bem aparada”, afirma. Na opinião dele, todo esse cuidado é importante para a valorização da categoria, pois o profissional do volante tem de se atualizar e acompanhar as novas tendências. “Meu pai, apesar de estar na estrada há mais de 30 anos, nunca ficou parado no tempo e sempre me aconselhou a estar atualizado, por isso procuro fazer cursos e estar por dentro das novidades”, declara.

Paulo defende que todos têm que correr atrás e se profissionalizar, não importando se o motorista é autônomo ou empregado. Acrescenta que quem trabalha para uma empresa tem de ser responsável e obedecer as normas estipuladas para ser bem visto, enquanto o autônomo tem a sua própria empresa e portanto é sua obrigação de cuidar bem dela, em todos os aspectos, que envolve desde uma boa aparência até um caminhão em ótimo estado de conservação. Esta tendência de mercado, conforme acredita Paulo, ajuda a valorizar o motorista de caminhão, que para se manter no mercado é obrigado a abandonar aquela imagem de desleixado e adotar uma postura mais profissional.

Estar sempre bem apresentável e ser submetido a cursos e exames médicos fazem parte da rotina de Gabriel Veiga, que trabalha para empresa na Argentina
Estar sempre bem apresentável e ser submetido a cursos e exames médicos fazem parte da rotina de Gabriel Veiga, que trabalha para empresa na Argentina

Fernando Reck Aust, 26 anos e seis de profissão, de Uruguaiana/ RS, faz a rota São Paulo e Buenos Aires, tem opinião de que as empresas estão certas em exigir essa nova postura dos motoristas de caminhão. “Somos o cartão de visitas, afinal, tratamos diretamente com os clientes e se não passarmos uma boa imagem podemos prejudicar a empresa”, disse. Ele cita como exemplo negativo chegar num lugar para descarregar e arranjar briga ou mesmo se apresentar com roupa suja e barba por fazer. “Parece que deste jeito o profissional perde a credibilidade”, imagina.

Para se manter sempre competitivo, Fernando diz que procura estar bem apresentável, faz cursos e acompanha as novas tecnologias. “Acho importante o profissional saber operar o rastreador, já que hoje o equipamento é quase item obrigatório na hora de carregar”, diz. Para ele, o caminhão é como sua casa, então tem de estar sempre limpo e com a manutenção em dia. “Essas atitudes valorizam a classe, já que aos poucos a imagem daquele motorista bruto, de camiseta curta, chinelo, barba por fazer e caminhão sujo, está ficando para trás”, opina.

Vilmar Souza lembra que diante da tecnologia dos caminhões, acompanhar a evolução e as tendências fazem parte das obrigações do motorista de caminhão
Vilmar Souza lembra que diante da tecnologia dos caminhões, acompanhar a evolução e as tendências fazem parte das obrigações do motorista de caminhão

Gabriel Veiga, 35 anos de idade e 10 de estrada, mora na Argentina e conta que em seu país cuidar do caminhão, estar sempre bem apresentável e nunca beber durante o expediente de trabalho são regras que jamais podem ser descumpridas. “O motorista é a imagem da empresa, portanto, quem opta em ser diferente está fora e não consegue bons fretes. Na empresa que trabalho somos submetidos a exames médicos e cursos de direção defensiva, cargas perigosas, como acomodar a carga para não tombar, como manobrar em caso de neblina, entre outros”, comenta. Para Gabriel essas regras estipuladas pelas empresas ajudam o motorista a trabalhar com mais segurança e a chegar bem em casa.

Conhecer as novas tecnologias, saber operar o sistema de rastreamento e estar sempre com a aparência física e do caminhão em dia são, na opinião de Vilmar Souza, 42 anos de idade e 22 de profissão, de Guaíba/RS, os fatores determinantes no momento da contratação do frete. Lembra que hoje é imprescindível estar sempre bem vestido e saber se comunicar, além de ter de fazer cursos. “Eu gosto do que faço, portanto, invisto na minha profissão. A tecnologia dos caminhões estão cada vez mais avançadas, portanto, acompanhar essa tendência faz parte das obrigações do carreteiro”, afirma.

Um bom profissional deve fazer o maior número de cursos possível, trabalhar corretamente e estar com o nome limpo na praça, opina Edinei da Silva
Um bom profissional deve fazer o maior número de cursos possível, trabalhar corretamente e estar com o nome limpo na praça, opina Edinei da Silva

Vilmar conta que escuta alguns colegas de estradas, principalmente aqueles que têm muitos anos de estrada, dizer que não é preciso nada disso, que o importante é a experiência. Mas para ele, esta teoria pode até valer em alguns casos, mas, geralmente, um motorista com esse perfil perde fretes bons e acaba ficando sempre no mesmo lugar.

“Gostar do que faz é o primeiro passo para querer acompanhar as novas tendências”, opina Edinei da Silva, 31 anos, 16 de profissão. Defende que um bom profissional deve estar sempre atualizado, fazer o maior número de cursos possível, trabalhar corretamente e estar com o nome limpo na praça. “Nesses anos que estou na estrada, as coisas evoluíram muito. A começar pelo caminhão, que hoje em dia só falta falar. Hoje o carreteiro, além de saber dirigir, tem que conhecer um pouco de informática e entender a linguagem eletrônica do veículo”, acrescenta.

Outro ponto importante, reforça, é a aparência do motorista, já que as empresas têm um nome a zelar. “É difícil um profissional mal educado ou desarrumado conseguir um emprego. No caso do autônomo, essa preocupação deve ser ainda maior, afinal ele tem de defender o seu patrimônio, pois é dele que depende o seu sustento. Portanto, deve sempre estar por dentro das novidades em tecnologia”, aconselha.