Revista O Carreteiro – Na sua visão de profissional com larga experiência adquirida em décadas de trabalho na indústria automobilística, com destaque para a área de caminhões, o que você considera um grande problema para os transportadores?
Antonio Dadalti – A operação de substituição da frota, que envelhece cada vez mais rápido devido à velocidade dos avanços tecnológicos dos novos produtos que tornam os veículos antigos menos seguros, pouco econômicos e menos valorizados. Com o financiamento das unidades novas com juros cada vez mais baixos e prazos mais longos, os veículos usados perdem mercado. Hoje, grandes frotistas montam empresas para vender sua frota antiga, pois encontram dificuldade para efetuar operações casadas de troca na compra de veículos novos. Não é uma situação fácil de ser solucionada, pois o que acontece agora aqui é o que já é comum nos países desenvolvidos, aonde os veículos usados são cada vez mais baratos e as leis ambientais mais severas obrigam rigorosas inspeções veiculares, impedindo essas unidades de trafegarem. Precisamos desenvolver um plano de sucateamento estimulado, como já foi desenvolvido em outros países que enfrentaram problemas semelhantes.
O Carreteiro – No leque de atividades sob sua responsabilidade na Iveco, até que ponto é importante conhecer e entender as necessidades dos clientes da marca?
Antonio Dadalti – É na verdade o escopo do meu trabalho. Se eu não entender o que o cliente deseja e o que ele vai fazer com o caminhão tenho uma alta probabilidade de fazer uma venda errada, gerando insatisfação para ele e custos adicionais para ambos, pois utilizando o equipamento inadequado para o trabalho os custos operacionais podem subir ou a vida útil do equipamento poderá ser menor.
O Carreteiro – O transportador ficou mais exigente em relação a produto?
Antonio Dadalti – Hoje as empresas são altamente profissionalizadas, pois as margens operacionais são menores e o sucesso ou fracasso de uma empresa tem uma fronteira muito próxima, por isso o cliente ficou mais critico e atento ao produto que está comprando, não só com o preço inicial, mas principalmente com o custo operacional do veículo. Isso se evidencia com o aumento da procura por operações de venda que incluam pacotes de manutenção. Dessa forma, o custo inicial passou a ser um componente da decisão de compra, mas não é mais o determinante.
O Carreteiro – Ele sabe comprar o caminhão mais adequado à sua operação?
Antonio Dadalti – Poucas são as empresas que ainda compram produtos por tradição, utilizando o mesmo modelo ou a mesma marca já conhecida. Os empresários hoje estão atentos às novidades e buscam comprar produtos atualizados e cada vez mais direcionados aos serviços que executam. Sabem que qualidade é um pressuposto de qualquer marca, então buscam o equipamento mais adequado para atendê-lo e a marca que lhe dê melhor pós-venda.
O Carreteiro – Você faz sugestões sobre o tipo de veículo e configurações que o atenderia da melhor maneira, conforme as características de sua operação de transporte?
Antonio Dadalti – Procuro sempre seguir o que o cliente deseja, mas se existe na linha Iveco um produto que atenda melhor às necessidades de transporte da sua empresa, faço a minha recomendação ou peço para que meus técnicos o façam, quando o tema for tecnologicamente complexo.
O Carreteiro – Em caso afirmativo, existem situações que você tem de interagir junto ao pessoal de desenvolvimento para se chegar a um resultado satisfatório?
Antonio Dadalti – Isso é muito comum, pois na constante busca do produto mais adequado para a tarefa, surgem as SVEs (Solicitações de Veículos Especiais) que na maioria das vezes exigem um trabalho de desenvolvimento da Engenharia do Produto, uma vez que o modelo solicitado não existe na configuração padrão da empresa.
O Carreteiro – O que mudou entre o frotista de hoje e o de 30 anos atrás?
Antonio Dadalti – Muita coisa, pois 30 anos atrás o frotista não dispunha desse leque de produtos oferecido atualmente no mercado e comprava o que era disponível na época, ainda que não atendesse seu trabalho, e normalmente em suas próprias oficinas adaptava o veículo para as suas tarefas. Tinham verdadeiros centros de modificações em suas próprias oficinas, reforçando longarinas, suspensão e mudando entreeixos. Hoje fazemos isso para os clientes e até pintamos seus veículos na cor padrão de sua frota.
O Carreteiro – Você poderia fazer uma comparação também para o motorista autônomo?
Antonio Dadalti – No caso dos autônomos essa corrida para a excelência nos produtos anda mais devagar. Não que eles conheçam menos tecnicamente os caminhões, pelo contrário, mas por conta da impossibilidade de manterem seus produtos atualizados devido à dificuldade no financiamento de novas unidades e dos baixos rendimentos que os fretes deixam para esses abnegados profissionais, que detêm uma frota de 300.000 caminhões com idade média de 20 anos. Não estou generalizando, porque existem exceções, mas infelizmente a maioria encontra-se nessa situação.
O Carreteiro – É possível dizer que ações como a redução de IPI, ampliação dos prazos de pagamentos e juros menores sejam o caminho para a redução da idade da frota?
Antonio Dadalti – Reduzir os impostos nesse tipo de produto, ampliar o seu período de financiamento com baixos encargos é a única maneira de começar um movimento positivo na redução da idade da frota nacional. Essas medidas alcançam os consumidores que estão mais perto da base da pirâmide social, onde se concentram os veículos mais velhos da frota, dando-lhes a oportunidade de evoluir. Mas o sistema financeiro é pragmático e dificilmente abre linhas de crédito para esse tipo de consumidor. Mesmos os programas atuais (tipo Procaminhoneiro) têm aplicação restrita, limitando-se a atender aqueles autônomos que podem comprovar sua renda, o que é uma minoria.
O Carreteiro – A Inspeção Veicular pode contribuir para a redução da idade média da frota?
Antonio Dadalti – Programas como a Inspeção Veicular precisam ser tocados com seriedade e determinação ou nunca vamos tirar de circulação produtos que não têm mais condições de segurança, altamente poluidores e campeões de acidentes. Mas é preciso solucionar o problema social que essa medida acarretará, pois é necessário colocar em prática um programa de sucateamento dessa frota deteriorada, que pague ao autônomo um valor que propicie a ele a possibilidade de ter um veiculo mais novo (não obrigatoriamente zero KM). Se não dermos condição dele continuar trabalhando, não há programa de renovação de frota que tenha sucesso.