A necessidade de renovação da frota, mais os sinais de recuperação da economia brasileira – que causaram elevação nas previsões – provocaram alta nas vendas de caminhões e filas de meses espera para os transportadores receberem novos modelos pesados. Executivos das montadoras estão otimistas com o volume de pedidos em carteira e esperam que 2019 seja melhor ainda para o setor, com mais um período de crescimento 

Por João Geraldo

Após quatro anos de retração e com baixos volumes de vendas, o mercado de caminhões voltou a respirar e a trazer boas expectativas tanto para fabricantes do setor quanto para toda a cadeia de fornecedores e o futuro do País.  Os sinais da recuperação são visíveis principalmente no crescimento do número de emplacamento, que entre janeiro e outubro deste ano atingiu 59.206 unidades (modelos pesados, semipesados, médios,  leves e semileves) contra 38.983 no mesmo período do ano passado, representando um avanço de 56,6%.

Os pedidos de caminhões pesados, principalmente, têm fila de espera, com prazos que podem superar 90 dias para serem entregues.  O fato é que as vendas se encontram aceleradas, embora a falta de componentes na linha de montagem seja um dos maiores entraves para o aumento de produção e redução dos prazos para entregas de veículos aos transportadores enfrentado pelos fabricantes de caminhões em diferentes níveis. 

“Em nosso caso, ainda produzimos muitas coisas aqui na fábrica, como eixos, por exemplo. Porém, sempre temos ao menos uma pequena surpresa sobre a falta de algum componente”, disse o vice-presidente de vendas e marketing de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, Roberto Leoncini, acrescentando que a empresa tem trabalhado com previsão de entrega de quatro a cinco meses.  Quando falou com a reportagem, no final de outubro, o tempo de espera para o Actros, por exemplo, estava entre oito e 12 semanas.

Otimista em relação a 2019, o executivo ameniza lembrando que os fornecedores não são exclusivos da marca e que também precisam de tempo para estarem aptos a atender a demanda do mercado. Acrescentou que além dos fornecedores do Brasil existem também os de componentes importados, como itens eletrônicos, por exemplo, que podem sofrer atrasos mesmo já estando aqui no País, podendo aumentar o prazo de chegada à fábrica e até parar uma linha de produção. No entanto, Leoncini admite que essa questão ligada à produção acontece em todas as ocasiões de retomada do mercado de caminhões.

Roberto Leoncini 1
Leoncini, da Mercedes-Benz: transportadores ficaram muito tempo sem comprar e agora precisam de veículos novos

Quanto às expectativas em relação ao mercado, o executivo da Mercedes-Benz afirmou que os transportadores ficaram tanto tempo sem comprar caminhão que agora estão ansiosos para terem os veículos novos. “Não tem milagre, se o cliente faz um pedido de 300 caminhões ele vai ter entre 40 e 50 unidades por mês”. Leoncini acrescentou que na alta do mercado de usados a pressa do cliente era maior para receber o veículo novo, mas a estabilização dos preços reduziu a ansiedade e deu tranquilidade para alongar um pouco mais os prazos de entregas e assim atender um maior número de transportadores.  Disse que tem transportador que quer comprar de três a 10 caminhões por mês e que assim é o ideal, porque ele tem visão do que vai acontecer e consegue se programar. 

Ricardo Barion
Barion, da Iveco: os fornecedores vão acompanhar a retomada consistente do mercado brasileiro de caminhões

Até quando as vendas de caminhões continuarão em alta como está acontecendo agora não é fácil de prever, conforme disse o diretor de vendas e marketing da Iveco para a América Latina, Ricardo Barion. Ele acredita que uma média de crescimento pode ser garantida se o presidente eleito seguir com a agenda reformista. Diz que se o Brasil tiver uma retomada econômica consistente, os fornecedores da indústria automotiva vão acompanhar e não haverá problema com a falta de componentes. 

Na sua opinião, a indústria nacional é muito competente e preparada para as idas e vindas econômicas que o País já se acostumou a enfrentar. Porém, admite que teremos uma curva de aceleração e ainda poderão ocorrer oscilações no processo.  No caso da produção, assegura que a Iveco trabalha para acompanhar a retomada do mercado, com novidades no portifólio, como o Daily City, lançado recentemente, e a chegada de um novo modelo de caminhão pesado que será apresentado em dezembro, conforme adiantou.  Barion destaca também o aperfeiçoamento da rede de con­ces­sionários, com novos parceiros, e planos de revisão pensados para atender os todos os segmentos do transporte.

Sobre 2019, Barion acredita que um cenário de estabilidade política o mercado de caminhões deverá ser beneficiado por outros setores da economia. Acrescentou que o País precisa de previsibilidade para manter a tendência de crescimento da confiança dos investidores e da retomada de programas de infraestrutura. “Ainda há um grande número de veículos que precisam ser renovados, e juntando esses fatores, a expectativa é que 2019 seja positivo para a indústria e para o Brasil como um todo”, concluiu. 

VW alouche
Alouche, da Volkswagen: entre janeiro e outubro deste ano a demanda de caminhões superou 50%; 2019 será ainda melhor

O vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da VW Caminhões e Ônibus, Ricardo Alouche, observa que a movimentação de vendas de caminhões tem sido consistente nos últimos meses e lembra que no segmento de pesados é comum o cliente fechar o negócio e programar entrega futura com as montadoras. Porém, ressalta que dependendo do modelo de extrapesado, os veículos programados no final de outubro serão entregues somente em março ou abril de 2019.

Alouche destacou que em outros segmentos existe pontualmente a falta de um ou outro modelo devido ao incremento de demanda do mercado, o qual vem crescendo mais de 50% em relação ao período de janeiro a setembro do ano passado. Ele acredita que o equilíbrio entre a oferta e a demanda já estará adequado à necessidade do mercado no primeiro trimestre de 2019.  Disse não se preocupar com o problema da falta de componentes no próximo ano que poderá até ocorrer postergação no crescimento da produção de determinado modelo, mas não será motivo de preocupação ou de falta de produto generalizada no mercado. Otimista, ele conclui dizendo que certamente o mercado de caminhões será ainda melhor no próximo ano.

Apesar de o mercado estar mostrando fortes sinais de aumento de produção e vendas, a reação positiva tem sido maior ainda para a DAF, conforme destacou Luis Gambim, diretor comercial da empresa, sobre o crescimento de 137,5% entre janeiro e outubro comparado ao mesmo período do ano passado. Conforme acentuou, a marca está fora da curva, com um total de 1.866 unidades licenciadas no período.  Gambim disse que a DAF tem investido constantemente para adequar sua produção à demanda do mercado, e que os parceiros têm acompanhado esse ritmo. Há apenas cinco anos no Brasil, montadora está encontra-se em fase de aumento de produção. 

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Gambim, da DAF: reação positiva do mercado tem sido maior para a empresa, cuja meta é chegar a 10% de participação

Atualmente, a fábrica instalada em Ponta Grossa/PR monta cinco unidades por dia e detém 7% de participação no segmento de caminhões pesados (único em que atua no País) e tem como meta chegar aos 10% no segmento. “Diante desse cenário, acreditamos que vamos seguir em constante alta acompanhando a tendência do mercado e continuar investindo”, concluiu o executivo. 

E por falar em crescimento de participação, o diretor comercial da Scania Brasil, Silvio Munhoz, destacou que a previsão inicial na empresa era de um mercado de 10% a 15% maior este ano, porém a marca espera crescer 60%. Disse que não há motivos para reclamar, mas o mercado geral poderia ter crescido um pouco mais. Ele imagina que este ano serão vendidas cerca de 50 mil unidades acima de 16 toneladas e acredita que em 2019 haverá num avanço entre 10% e 20% este segmento, em comparação com este ano.

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Munhoz, da Scania: em fase de transição de produtos, a empresa só está recebendo pedidos para a nova geração de caminhões

Munhoz lembrou que a Scania vive neste final ano um momento diferente do mercado de caminhões, pois encontra-se em transição de uma geração para outra. “Encerramos os pedidos da atual linha em outubro e já estamos recebendo pedidos apenas da Nova Geração, que será 12% mais econômica”, reforçou. Frisou que os novos veículos começam a ser entregues a partir de fevereiro e assim a Scania vai caminhar ao longo dos próximos anos, com uma linha de produtos pronta para os desafios do setor. 

Enfim, o momento é de otimismo. O diretor comercial da Volvo do Brasil, Bernardo Fedalto, detalhou que as vendas já vinham subindo desde a Fenatran 2017 e continuaram este ano, mesmo diante de todas as dúvidas sobre qual candidato venceria as eleições para ser o novo presidente do Brasil. Ele explicou que os transportadores continuaram a comprando porque o bom resultado da safra foi boa mais os sinais de recuperação da indústria levaram ao aumento da demanda por transporte e o início da renovação das frotas, o que não acontecia havia três anos. 

Fedalto acrescentou que o número de veículos parados nas garagens diminuiu em função da demanda do mercado, também os caminhões usados venderam bem e a economia começou a rodar. Agora, com o resultado das eleições, o otimismo ficou maior. “Eu diria que o otimismo do mercado está muito bom, pois que não estava contratando ou investindo, agora está. Também está havendo aumento de frota, mas ainda é um movimento ainda pequeno”, disse o executivo. 

Ainda de acordo com o diretor comercial da Volvo, quem pede caminhão pesado neste final de ano só vai poder receber o veículo depois do primeiro trimestre de 2019, exceto modelos VM, que poderão ser entregues em fevereiro. “Nossa limitação tem a ver com os mercados da Europa e dos Estados Unidos, que se encontram em bom momento.  e passamos a ter limitações componentes com limitação de produção no mundo todo, como da caixa I-Shift, por exemplo. Estamos trabalhando no máximo e fomos ajudados um pouco por causa de problemas no Oriente Médio e sobraram componentes e assim consigo aumentar um pouco a produção no ano que vem”, explicou.  

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A boa safra e os sinais de recuperação da indústria aumentaram a demanda por transporte e o início da renovação da frota

Para 2019, Fedalto frisa que está todo mundo animado, embora lembre que é preciso o mercado voltar a crescer e para isso é preciso ainda que muitas coisas sejam arrumadas no Brasil. Disse que para 2019 a expectativa para o comportamento do mercado de caminhões é de crescimento próximo a 20% em relação a 2018 e que a Volvo vai acompanhar os movimentos e caminhar junto. “Estamos otimistas, embora saibamos que o governo tem muita coisa a fazer, como as reformas e que não será nada fácil. A intenção é boa, mas como e em que velocidade vão conseguir fazê-las é muito importante para o País”, concluiu.