Para algumas pessoas ser motorista é apenas uma profissão, um meio de vida, mas para a grande maioria que se encontra na estrada é uma paixão. Na estrada não faltam histórias de motoristas que começaram por influência do pai ou parentes próximos e muito no tempo em que os caminhões eram verdadeiramente “brutos”.

Em um posto de serviço na cidade de Rondonópolis, um dos maiores do País em fluxo de caminhões, localizado no Sul de Mato Grosso, é possível encontrar vários exemplos da profissão que passa de pai para filho. O motorista autônomo Fábio Júnior Andrecioli, de 32 anos, está há 10 no volante atuando como profissional, mas sua história com os cargueiros começou ainda na infância, em viagens com o pai. “Adorava viajar com ele, era muito bom conhecer lugares e pessoas diferentes. Aquela sensação de liberdade ficou até hoje e aqui estou”, comenta.

A ligação do autônomo Fábio Andrecioli com caminhão vem da infância, quando viajava com o pai que não queria que o filho fosse carreteiro
A ligação do autônomo Fábio Andrecioli com caminhão vem da infância, quando viajava com o pai que não queria que o filho fosse carreteiro

Natural de Colorado/PR, Fábio conta ainda que entrou na profissão contra a vontade do pai. “Ela queria que eu escolhesse outra profissão, mas o negócio, está no sangue, não tem jeito. Mas depois ele aceitou”, reforça, lembrando  que seu pai até lhe passou as dicas necessárias para conduzir um caminhão com segurança e responsabilidade.

Esta ligação forte com o caminhão logo terá um novo adepto na família, pois sua esposa está grávida de um menino. “Nossa profissão é muito bonita. Não vou incentivar, mas se ele quiser seguir o caminho do pai será bem-vindo. E caso decida mesmo por dirigir caminhão terei prazer em lhe ensinar tudo que aprendi”, finalizou.

História semelhante tem o estradeiro Heron de Oliveira, 49 anos de idade e 37 de estrada. Mas com uma diferença, o encanto pelos caminhões começou na escola, ou melhor, ao lado dela. “Eu saia da escola para ver os caminhões rodando na Br-277, na minha terra natal”, disse o carreteiro de Guarapuava/PR.  Lembra ainda que era muito gostoso e naquele tempo não tinha as grandes composições, pois os caminhões eram quase todos curtos e bonitos.  “Gostava de ouvir o ronco do motor, o movimento da carcaça e tudo mais. Era uma verdadeira diversão”, relembra.

Quando criança, ainda na escola, o paranaense Heron de Oliveira gostava de ouvir o ronco do motor dos caminhões que passavam na BR 277
Quando criança, ainda na escola, o paranaense Heron de Oliveira gostava de ouvir o ronco do motor dos caminhões que passavam na BR 277

Seu primeiro contato mais próximo com o caminhão aconteceu aos sete anos de idade, quando começou a viajar com o pai na rota Paraná –São Paulo. Mas o sonho só virou realidade mesmo aos 12 anos com o padrasto. “Ele me colocou no volante e disse te vira! Aí tive de dar um jeito. Aprendi rápido e não parei mais. Essa vida praticamente não gera remuneração, mas é muito divertida e nos momentos fora do volante temos espaço para descontração”, comenta.

Confessa que a admiração pelo volante já caiu nas graças do filho de 16 anos. O adolescente está ainda terminando os estudos, pretende cursar faculdade, mas segundo Heron o filho tem tudo para aumentar a cota de caminhoneiros na família. “Ele já conhece um pouco de caminhão. Dirige em estradas de terra de fazenda e quando está no volante o brilho nos olhos fica mais intenso. Se ele quiser fazer uma parceria com o pai vou apoiar”, admite.

Em certos casos, nem mesmo o tempo consegue apagar essa paixão. Werner Prestes, de 42 anos e 12 de experiência, é um grande exemplo. Até os 10 de idade ele já saia da cidade paranaense de Santa Helena e viajava por todo o Brasil com pai. Mas os passeios acabaram e o tempo do garoto foi dedicado para os estudos. Cursou faculdade de geografia e trabalhou alguns anos como professor. Mesmo gostando do que fazia, não conseguiu adaptação na rotina de educador e depois de 22 anos voltou a entrar num caminhão, mas como motorista profissional.

Filho de carreteiro, Werner Prestes cursou faculdade, deu aula e 22 anos depois voltou a ter contato com caminhão, mas como motorista profissional
Filho de carreteiro, Werner Prestes cursou faculdade, deu aula e 22 anos depois voltou a ter contato com caminhão, mas como motorista profissional

Hoje, Werner percorre corriqueiramente a rota Paranaguá – Sinop. “É difícil explicar de onde vem essa paixão, acho que está no sangue. É uma coisa que vem do coração. Nós somos desvalorizados por parte da sociedade e por muita gente do setor, mas amamos o que fazemos. A vida no caminhão sempre traz uma novidade no dia a dia. Eu tenho mais de 10 anos na estrada e praticamente não reparei o quanto o tempo passou. Essa é a grande diferença”, comenta.

A família Viori é exemplo clássico dessa relação de carinho. O pai do sr. Odacir Viori era um pioneiro das estradas gaúchas. A dupla começou com as viagens no início da década de 60, na região de Santa Maria. Em 1968 o carreteiro, hoje com 64 anos de idade, começou a dirigir seu próprio caminhão e 45 anos depois e ainda segue firme no volante. “Tenho alguns probleminhas de saúde, mas seguimos em frente”, diz, que vai chegar uma que terá de aposentar. Destaca que gosta da profissão, de viajar, rever amigos e conhecer lugares. “A única parte do Brasil que não conheço ainda é Manaus, mas o resto já desbravei tudo”, declara.

Odacir Viori, 64 anos de idade, começou a viajar com o filho Cesar quando ele era um garoto e até hoje os dois seguem firmes na profissão
Odacir Viori, 64 anos de idade, começou a viajar com o filho Cesar quando ele era um garoto e até hoje os dois seguem firmes na profissão

Os relatos do sr. Odacir foram feitos ao lado do filho César Viori, 36 anos de idade e 15 de profissão. Praticamente durante todo esse tempo ele dirigiu ao lado do pai, ou na mesma rota de seu grande inspirador. “Ele me ensinou a gostar do caminhão. Estamos sempre juntos, pois viajar em família é muito bom. Você fica mais tranquilo, as coisas ficam mais fáceis’, diz.

César se orgulha da profissão e do pai, o qual segundo diz lhe dá diariamente uma aula no volante. “E assim fico cada dia mais apaixonado em dirigir. É uma profissão muito bonita e espero que um dia ainda possa também ser valorizada, para que que decidir seguir nessa vida tenha mais reconhecimento e respeito”, finaliza.

Por Erik Valeriano