Por João Geraldo
Palco de negócios envolvendo veículos comerciais de todos os portes, e também um evento caracterizado pelos lançamentos e tendências do setor do transporte rodoviário de cargas e passageiros, a 63ª edição IAA Commercial Vehicles, realizada entre os dias 22 e 30 de setembro, em Hannover/Alemanha, apresentou poucas novidades. No entanto, com seus 1.751 expositores de 43 países, o evento passou otimismo em relação ao futuro da indústria automotiva mundial, principalmente motivado pela recuperação da economia europeia e de outros continentes passada a crise de 2009.
De acordo com presidente da VDA – Associação da Indústria Automobilística da Alemanha, Matthias Wissmann, a feira foi realizada no momento certo, superou as expectativas e gerou muitos contratos e encomendas, numa demonstração de que com a retomada da economia a confiança no setor de veículos comerciais cresceu. A edição deste ano, disse Wissmann, é a segunda maior em número de empresas participantes, sendo 55% delas estrangeiras. “Um ano atrás, nós estávamos muito preocupados ainda, pois a crise foi profunda para indústria, com redução de até 80% das vendas, mas agora muitos dos expositores sentiram o impulso gerado pela economia”, disse.
Com a indústria de veículos em recuperação, as montadoras foram tímidas em apresentar algo diferente do que já havia sido visto na edição de 2008, quando já se sabia da crise, porém não da dimensão que tomaria. Desta vez, os fabricantes de veículos comerciais concentraram o foco em estratégias, sem deixar de demonstrar estudos e investimentos no potencial para se reduzir o consumo de combustível, além de alternativas como os veículos híbridos e limpos para os próximos anos. Também ganhou espaço no evento a oferta de veículos com baixos níveis de emissões, maior rentabilidade aos clientes, através de veículos movidos a diesel, gás e elétricos, de novos materiais, da tecnologia embarcada e da aerodinâmica, neste caso com projetos apresentados pela Iveco e MAN.
Dentro do tema veículos híbridos, a Mercedes-Benz anunciou ter comercializado 50 unidades do modelo Atego Híbrido (diesel e elétrico) metade deste ano. Na edição anterior da IAA – em 2008 – o modelo foi apresentado como protótipo e foi anunciado nesta edição da feira como o primeiro caminhão hibrido de série na Europa. “A venda, para empresas alemãs, foi possível porque a Daimler convenceu o governo a pagar o valor adicional de 50% acrescido ao preço do veículo por conta da tecnologia nele inserida”, explicou Humbertus Trostka, executivo responsável pelos mercados da Europa e da América Latina dos veículos comerciais da marca Mercedes-Benz. Ainda de acordo com ele, na Europa um caminhão Atego custa de 45 a 50 mil euros e com a tecnologia híbrida o preço do veículo dobra.
“Hoje ainda não é interessante o cliente pagar 45 mil euros pela tecnologia, mas com a subvenção do governo ele compra, porque tem interesse em vender uma imagem de empresa verde”. Disse ainda que o Atego Híbrido atende todas as exigências e pode ser homologado nos 27 países da Europa. Ainda de acordo com Trostka, no futuro a Daimler poderá reduzir o custo do veículo híbrido, pois a meta é ser líder mundial nesta tecnologia. “A Fuso – marca japonesa do grupo Daimler – foi a primeira a oferecer veículo híbrido, e no Japão já existem mais de 200 unidades em operação e também com incentivos do governo japonês”, acrescentou.
Durante a feira o veículo foi eleito o “Caminhão do Ano na Europa”, título concedido por júri formado por mais de 60 especialistas em caminhão. Terceiro caminhão médio mais vendido na Europa, a linha Atego apresentada em Hannover trouxe como novidade a cabine com mudanças estéticas que lhe deram um ar de veículo mais parrudo, além de receber um sistema retarder que reduz em até 80% o desgaste do freio. De acordo com o presidente da Mercedes-Benz do Brasil, Jürgen Ziegler, a previsão para a cabine atualizada chegar ao Brasil é 2012.
Em relação à chegada da tecnologia híbrida no Brasil, Humbertus Trostka lembra que, como em qualquer outra parte do mundo, trata-se de uma questão vinculada à legislação de emissões de cada país. “Para o Brasil, agora é mais importante o Euro 5 do que investir em tecnologia híbrida”, acentuou. Já na Europa, em 2014 será implantada a norma Euro 6, cujo custo do caminhão em relação à Euro 5 será de 10%. E o veículo terá de rodar com diesel abaixo de 50ppm.
Andreas Renschler, presidente da Daimler Trucks, acrescentou que este ano a empresa está concentrada nos veículos, sem outras preocupações, e que a IAA 2010 marcou a virada, pois nos primeiros oito meses as vendas de caminhões cresceram 33% em relação ao mesmo período de 2009.
A MAN, por sua vez, anunciou crescimento de 32% no faturamento, durante o primeiro semestre de 2010, em relação ao ano passado. Dona de 17,4% do capital votante da Scania e de 25% da chinesa Sinotruck, a MAN apresentou como destaque na feira um cavalo-mecânico denominado Concept S, cujo destaque maior é a forma aerodinâmica, com menor resistência à rodagem, a qual se acredita possa reduzir o consumo e as emissões em 25% comparados a um modelo em formato cúbico, como os atuais. Porém, trata-se de uma alternativa de longo prazo, conforme destacou Frank Hiller, do departamento de marketing e pós-vendas da companhia.
Como solução para os dias de hoje, ele citou o MAN TGX, um modelo que ele taxou de econômico e que deverá melhorar ainda mais, porque a empresa trabalha para que ele reduza o consumo de combustível em três litros a cada 100 quilômetros rodados. Hiller citou também a aposta da empresa em materiais mais leves e os avanços obtidos com caminhões híbridos, cujo destaque é o modelo TGL 12.220 Hybrid, que proporciona redução de consumo de 5 a 15%. No entanto, o veículo ainda não é produzido em série. Ainda dentro da meta de oferecer produtos para aumentar a eficiência do transporte, a MAN considera como fundamental, além de veículos modernos, o treinamento do motorista.
Os planos da empresa para a América Latina encontram-se em ritmo acelerado. Georg Pachta-Reyhofen, CEO da companhia, disse que MAN Latin America é a menina dos olhos do grupo. E mais, que boa parte do crescimento de 59% do faturamento do grupo no primeiro semestre de 2010, em relação ao ano passado, se deve à unidade do Brasil. “Em apenas meio ano realizamos tudo o que conseguimos durante os 12 meses de 2009”, disse. Com o foco de crescer fora da Europa, o executivo acrescentou que precisa conceber um portifólio bem definido para cada mercado onde atua, além de vender motores para construção civil, navios, trens, entre outros, a terceiros.
Na ocasião, o presidente da MAN Latin America, Roberto Cortês, anunciou a chegada do modelo TGX, primeiro cavalo-mecânico MAN, com motor Euro 4 da marca, a ser produzido em Resende/RJ e lançado no mercado latino americano em março de 2011. “Com a linha MAN em produção, a fábrica de Resende produzirá anualmente mais de 70 mil unidades”, disse Cortês. Ele acrescentou que o plano de nacionalização dos produtos MAN vai demorar alguns meses ainda e terão FINAME progressivo. Outra informação, esta em relação aos modelos Volkswagen, é que em agosto deste ano foram produzidos 7007 caminhões, o que representou um recorde para empresa, assim como as vendas entre janeiro e agosto, que tiveram alta de 33,5%.
De acordo com Georg Pachta-Reyhofen, os caminhões Volkswagen terão respaldo da MAN e haverá duas marcas bem definidas, porém, destacou que a maioria dos modelos será equipada com motores MAN, que serão montados pela MWM International. Disse também que os direitos da marca Volkswagen foram adquiridos pelo período de seis anos, e sobre o que deverá ocorrer disse: “vamos ver o que acontecerá nos próximos anos. Me perguntem sobre isso em 2014. Mas o que posso dizer é que vamos investir em caminhões da marca MAN acima de 370cv de potência”, concluiu. Na IAA foram expostos três modelos Volkswagen: o 17.250 B100 (chassi 4X2 preparado para rodar com 100% de biodiesel), o cavalo-mecânico 25.320 6X2 e um ônibus rodoviário.
A participação da Iveco na 63ª IAA – Commercial Vehicles foi marcada pela apresentação de veículos com inovações tecnológicas desenvolvidas pela empresa nos últimos anos, como veículos elétricos e híbridos, representado por um modelo Eurocargo (com motor diesel e elétrico) e um ônibus Citalis com 12 m de comprimento, além de todos os veículos EcoDaily (elétrico). Paolo Monferino, CEO do Grupo Iveco, citou na convenção de imprensa da companhia que os fabricantes de caminhões serão provedores de serviço e os veículos parte desses serviços. Reconheceu que a recuperação do mercado europeu no primeiro semestre foi boa, porém não tão forte quanto o da América Latina. Também descartou a possibilidade de ainda em 2010 o continente atingir os índices de 2008.
A marca apresentou em Hannover propostas de veículos voltados ao transporte em rodovias, com o conceito de oferecer alta produtividade com o mínimo de impacto ambiental. O Iveco Glider, por exemplo, é um caminhão que reúne alto desempenho e eficiência energética. Trata-se de um conceito inspirado na águia – ave que explora as correntes de ar ascendentes graças à sua eficiência aerodinâmica. Painéis no teto para gerar energia a bordo da cabine, recuperação da energia térmica do motor e da energia cinética – que seria transformada em calor dissipada durante o processo de frenagem – são características incorporadas ao projeto do Glider.
O maior destaque da montadora no evento foi o EcoStralis, lançamento mundial variante do modelo pesado Iveco Stralis que está chegando ao mercado europeu. Fruto de investimento pesado em inovações tecnológicas, atende a proposta do transporte sustentável, uma das prioridades da marca. O veículo traz como destaque melhorias aerodinâmicas, no motor e na parte elétrica. E para o motorista um conjunto de itens e serviços que asseguram maior conforto, segurança e menor consumo de combustível. Ferramentas telemáticas que permitem medir a distância percorrida pelo veículo, detectar consumo excessivo e otimizar os deslocamentos para reduzir imprevistos e tempos de espera fazem parte do veículo.
Equipado com motor Cursor 10 (com potências de 420 a 460cv), em breve, conforme o anunciado, o modelo ganhará uma versão com motor Cursor 13 de 500cv. Um interruptor é capaz de limitar a potência do propulsor de acordo com a carga transportada, reduzindo o consumo na fase de aceleração e pneus 307/70 com tecnologias para reduzir a fricção. Outro item do veículo é o sistema Blue&Me Fleet, desenvolvido sobre uma plataforma da parceria Fiat-Microsft e com trabalho da Qualcomm , que permite ao transportador obter informações em tempo real do veículo equipado com o sistema. Eletronic Brake System (EBS), Eletronic Stability Program (ESP) e Adaptive Cruise Control (ACC), entre outros também fazem parte do modelo.
A Scania e a Volvo participaram da feira com seus novos produtos preparados para o mercado Europeu e outras partes do mundo. A Volvo apresentou o modelo FMX, um caminhão para construção que chegará ao Brasil no próximo ano. A Scania, por sua vez, mostrou uma nova geração de motores a gás para caminhões e ônibus; uma linha de produtos e serviços para os frotistas reduzirem o consumo de CO² e maximizar a rentabilidade e também aos modelos V8, com destaque para a versão de 730cv a 1.900rpm e caixa de 12 2 velocidades. As duas montadoras suecas apresentaram também, veículos com tecnologia híbrida e a gás.
O jornalista João Geraldo viajou à Alemanha a convite do pool formado pelas montados Iveco, MAN e Mercedes-Benz.