Responsável pela direção geral das operações comerciais da Scania Brasil desde 1º de junho de 2016, Roberto Barral convive com o desafio de dar continuidade ao prestígio da marca entre frotistas, carreteiros e motoristas em geral, além dos demais profissionais da área de transporte rodoviário. Nesta entrevista, ele fala das perspectivas para a adoção no Brasil de tecnologias já existentes nos caminhões da marca que rodam na Europa.
O CARRETEIRO— Antes da crise se falava muito que havia falta de motoristas qualificados, e que para reter os bons profissionais muitos transportadores investiam em caminhões mais sofisticados. Agora está sobrando motoristas, como continuar sendo atrativo?
ROBERTO BARRAL— Sabemos que o nosso caminhão entrega o melhor consumo de combustível e conforto, mas não é só isso. Nós buscamos escutar o cliente, pois não adianta apenas entregar um produto global, de ponta. Temos de entender cada necessidade do cliente e fazer um produto para cada realidade.
O CARRETEIRO— Com a crise econômica brasileira ainda em andamento, e os juros altos, como será o desafio de vender caminhões premium?
BARRAL— Não trabalhamos como antes, apenas com a venda do caminhão. O nosso compromisso é entregar rentabilidade para o transportador. Para isso há um conjunto de serviços que vão junto com o veículo e nós acompanhamos de perto para garantir que o negócio de nosso cliente seja rentável usando os nossos produtos.
O CARRETEIRO— Durante o Salão de Hannover (realizado no final de setembro do ano passado), pela primeira vez o Grupo Volkswagen Trucks & Bus se posicionou com relação ao papel de cada marca (MAN, Scania e Volkswagen Caminhões & Ônibus). Aqui no Brasil, o posicionamento da Scania continua sendo o mesmo?
BARRAL— Sim. O que teremos como novidade será o incremento cada vez maior de serviços embarcados, mais conectividade para garantir maior rentabilidade. A Scania também estará seguindo cada vez mais o caminho da sustentabilidade.
O CARRETEIRO— Por falar em sustentabilidade, a Scania já tem o ônibus movido a gás no Brasil. Quando deveremos ter o caminhão?
BARRAL— Há possibilidades, pois a tecnologia já existe. A nossa gama de motores atende tanto a ônibus quanto caminhões. O que ainda precisa ser estudado é o mercado, ver onde o caminhão a gás vai se encaixar.
O CARRETEIRO— O caminho para o futuro da sustentabilidade apresentado no Salão de Hannover é a eletromobilidade para veículos urbanos e de curtas distâncias, e híbrido e a gás para longas distâncias. A Scania já tem o ônibus movido a gás metano e o caminhão movido a etanol. Que outras alternativas a empresa estuda para o transportador brasileiro?
BARRAL— Existem muitas tecnologias chegando para aumentar a sustentabilidade e a segurança, tais como a condução autônoma, partes eletrificadas, conectividade. A implantação dessas tecnologias dependerá do momento do País. Nós estamos apostando muito agora nos combustíveis alternativos, como o ônibus movido a gás, e ônibus e caminhões movidos a etanol e biodiesel. Outro pilar é a própria eficiência energética através de caminhões com consumos menores e a capacitação de motoristas para melhorar a performance do veículo.
O CARRETEIRO— Como você vê a possibilidade do caminhão autônomo chegar no Brasil?
BARRAL—Se lá fora já estudam os caminhões autônomos para operações em rodovias, ainda é algo difícil para o Brasil. No entanto, por quê não pensarmos em caminhão autônomo para mineração?
O CARRETEIRO— Em quanto tempo você imagina que teremos caminhão autônomo no Brasil?
BARRAL— Capacidade técnica para ter nós já temos. Acompanhei a operação de um caminhão autônomo da Scania dentro de uma mineradora, mas é difícil imaginar quando teremos infraestrutura para isso nas rodovias e cidades. O veículo autônomo já pode atuar em ambientes que têm toda a operação padronizada, como portos, minas e fazendas, por exemplo.
O CARRETEIRO— Já existem tecnologias que podem reduzir acidentes, como controle de estabilidade e a frenagem autônoma (conhecida como piloto automático inteligente) que, inclusive, serão obrigatórias na Europa a partir de 2018. Porém, elas estão demorando muito a chegar no Brasil de forma mais ampla, apesar de um ou outro caminhão topo de linha já tê-las. Como você vê essa questão?
BARRAL— Tenho certeza que todas as empresas estão preparadas para isso. Essa é uma questão da própria sociedade começar a demandar junto com o governo. No caso específico da Scania, não se espera o governo demandar. Veja o caso do novo Scania S que lançamos na Europa com airbag lateral, tecnologia não obrigatória por lei. Quando a gente fala de sustentabilidade na Scania, vamos além do tema meio ambiente, pois pensamos também na sustentabilidade social e econômica. Quando investimos no treinamento do motorista, não é só para aumentar a rentabilidade do transportador, mas também para preservar a vida dele e das famílias.
O CARRETEIRO— Para finalizar, qual a sua expectativa para 2017?
BARRAL— Esperamos crescimento de 15% para mercado de caminhões acima de 16 toneladas. Não é muito, pois estamos saindo de um mercado totalmente deprimido, com o volume com pouco menos de 30 mil unidades no ano passado. Mas pelo menos é uma expectativa positiva e há vários fatores, como a produção de grãos, de cana-de-açúcar e a retomada da indústria, entre outros. Já os outros segmentos devem continuar parados.