Motorista que cruza ou já cruzou a Cordilheira dos Andes, entre Mendoza (Argentina) e Santiago, (a capital do Chile), sabe que se trata de uma rota onde “todo cuidado é pouco”, exprime o sentido da frase. Travessia estratégica entre os oceanos Pacifico e Atlântico (por onde passam cerca de 90% das mercadorias que tramitam entre os países do Mercosul), o trecho entre as montanhas é considerado o oitavo entre os 10 mais extremos do mundo. Sobram motivos para merecer esse destaque.
Nos 240 quilômetros entre as duas cidades, existem uma infinidade de curvas e pontos perigosos. Porém, o trecho mais respeitado por motoristas de todas as categorias é o Caracoles. São cerca de 20 quilômetros de pista simples de mão dupla que serpenteia a encosta da cordilheira, num ziguezague formado por uma sequência de 29 curvas que se elevam a mais de 3.000m de altura.
É por esse emaranhado de pistas que diariamente sobem e descem mais de 1.200 caminhões, além de outros tipos de veículos que cruzam a fronteira entre Argentina e Chile. No Inverno, a atenção das autoridades chilenas e argentinas aumenta e a travessia entre as duas cidades é controlada pelas autoridades. Isso normalmente acontece devido ao acúmulo de gelo e de neve na pista e a estrada é fechada em determinados períodos para a limpeza da pista.
Em quase todo o trecho da travessia (Ruta 60 em território chileno e Ruta Nacional 7, do lado argentino), num ambiente de rochas vulcânicas e baixas temperatura, praticamente sem fauna e flora, cruzes e objetos nas margens da pista motivadas por tragédias, também servem de alerta aos motoristas. Um grande conhecedor dos Caracoles é o carreteiro chileno Adrian Santucci, 58 anos de idade, e mais de 35 cruzando a cordilheira ao volante de caminhão. “Aqui acontece entre duas e três mortes todos os meses. É preciso ter cuidado”, sentencia.
Mesmo dirigindo dentro de todas as normas de segurança, Santucci se considera um motorista de sorte, pois afiram que já viu muitas desgraças, mas com ele nunca aconteceu. No entanto, avisa que é preciso aprender a respeitar a montanha, porque ela não perdoa imprudências ou erros do condutor. “Gosto dessa rota, ela tem também suas belezas. Nunca me me cansa, mas respeitá-la é fundamental, senão ela te engole”, avisa.
Apesar de toda experiência de décadas na profissão, garante que sua segurança e a de outros usuários da estrada vem, em maior parte, da tecnologia do caminhão que dirige, um dos 100 Volvo FH da frota da RRC International Group. Especializada no transporte de carga seca e refrigerada, principalmente produtos de saúde, higiene e limpeza, além de alimentos e frutas, como banana e kiwi, as principais rotas da RRC estão entre Santiago do Chile e Buenos Aires e Mar Del Prata, na Argentina.
Os caminhões da RRC cruzam a cordilheira diariamente, chegando a realizar mais de 2.500 viagens por ano, conforme explica Raúl Román Clavero, diretor presidente da empresa. Reconhecida como uma transportadora moderna, que inova constantemente, sua frota é conectada e conta com a pacote de tecnologia dos caminhões Volvo para garantir operação segura, eficiência e com baixo impacto no meio ambiente.
“Temos um desafio diário, mas graças aos avanços tecnológicos e do do constante treinamento dos nossos motoristas, conseguimos melhorar os padrões do transporte internacional”, explica o empresário. Ele cita como exemplo o I-See, tecnologia que lê e memoriza a topografia da estrada por onde o caminhão trafega. Na próxima viagem pela mesma rodovia, o dispositivo utiliza os dados armazenados na unidade de comando da transmissão I-Shift e torna, automaticamente, mais eficiente a troca de marchas e o uso do freio motor, com antecipação de até 60 metros.
O gerente de controle e desenvolvimento da RRC, Adrian Sarmento, acrescenta que as informações sobre as ladeiras da estrada são usadas pelo dispositivo para gerenciar a velocidade e fazer o engate das marchas do modo mais eficiente. “O caminhão aproveita a energia cinética e economiza até 5% de combustível, embora seja possível se obter economia maior nas encostas suaves”, explica.
O sistema também reconhece quando o caminhão se aproxima de uma subida e acelera o veículo próximo ao limite máximo de velocidade estabelecido pelo motorista, para manter o embalo e se mantém assim durante mais tempo evitando uma redução de marcha desnecessária.
Segundo Raúl Román, seus caminhões rodam com o I-See desde 2014 e afirma que essa tecnologia proporciona 3% de eficiência na condução. Lembra que sua empresa foi a primeira a incorporar essa tecnologia, hoje presente em quase metade da frota. Acrescenta que graças à tecnologia e treinamento de motoristas, o gasto com combustível de sua frota é satisfatório: a cada 100 quilômetros rodados, o caminhão consome 34 litros de diesel. “Acima disso, o motorista precisa passar por reciclagem.
O empresário reconhece que os motoristas de sua empresa são bastante experientes e sabem usar muito bem os recursos dos veículos. Cita como exemplo a subida da cordilheira, onde os carreteiros da RRC não utilizam mais do que 50% da capacidade do motor. Dessa maneira, explica, se economiza combustível, não polui e garante maior durabilidade ao motor.
O presidente da RRC diz ainda que em quase 10% de toda a rota das viagens, os motoristas usam marcha livre, referindo-se ao I-Roll, sistema inteligente que desengata o motor da caixa de transmissão para o veículo aproveitar a inércia. Um tipo de “banguela” controlada que mantém o caminhão rodando livre, mas com segurança. Raúl Ramán reforça dizendo que a decisão de ter a máxima tecnologia nos caminhões se justifica porque muitas coisas que chegam às casas e às mesas de muitos povos passam pela estrada da cordilheira.
“Decidimos ser os melhores e com a tecnologia também sabemos onde estão todos os nossos caminhões. E no caso de qualquer problema na estrada, o motorista aperta um botão e fala diretamente com a central de atendimento da Volvo que vai orientá-lo sobre o que fazer, mesmo estando a centenas de quilômetros de distância”, disse o executivo. Ainda de acordo com ele, a tecnologia ajuda muito nos negócios, pois quando o embarcador entende como nossos caminhões cruzam a cordilheira, nos dá a carga imediatamente”, finalizou.
Bernardo Fedalto, diretor de caminhões da Volvo do Brasil, acrescentou que a tecnologia ajuda a tirar o melhor do caminhão, porque ninguém, e nem motorista algum, consegue fazer com eficiência as mesmas operações e se manter repetitivo como um software. Grande conhecedor do mercado de caminhões, Fedalto acredita que o I-See vai seguir o mesmo caminho da transmissão I-Shift. “No início havia quem criticava e hoje, 95% dos caminhões da linha FH e 75% dos FM produzidos pela Volvo no Brasil têm caixa automatizada.
Fedalto cita ainda o Dynafleet, outra tecnologia dos caminhões Volvo, a qual permite a verificação dos dados operacionais do veículo remotamente através de um computador conectado à Internet. Também é possível acessar a posição do caminhão, assim como as suas rotas. O executivo acrescenta que trata-se de uma facilidade que permite gerar relatórios que ajudam no gerenciamento da frota.
“Os transportadores podem usar essa ferramenta para reduzir o consumo de diesel. Ele pode, por exemplo, baixar o consumo através da otimização das rotas e da melhoria na performance dos motoristas, com treinamentos contínuos e melhor controle de manutenção entre outras tarefas”. Todo caminhão Volvo é equipado com um módulo eletrônico e uma antena, as quais transmitem os dados do veículo via rede de telefonia GSM/GPRS para o Portal Dynafleet. O serviço é pago, mas segundo Fedalto, 54% dos transportadores estão optando em operar com o equipamento.
O presidente do Grupo Volvo na América Latina, Wilson Lirmann, afirma que sem tecnologia não seria possível realizar esse tipo de operação na rota da cordilheira com tanta eficiência. Do seu ponto de vista, avanço algum tem sentido se não estiver a serviço das pessoas. “Na travessia da cordilheira é possível ver na prática que a tecnologia está sendo reconhecida. Sabemos que podemos melhorar ainda mais e levar esses benefícios também para outras empresas”, finalizou.
ROTA PERIGOSA
A travessia dos Andes é mais difícil e perigosa do que se imagina. À noite, a temperatura chega a atingir até 15 graus negativos e em vários pontos da pista se forma uma camada de gelo com até 5cm de espessura. Existem também pontos onde ocorrem avalanches e terremotos. Embora existam muros de contenção em locais estratégicos veículos são atingidos.
No Inverno, a limpeza da pista começa entre 3:50 e 4:00 da manhã, com máquinas especiais que retiram a neve da estrada. Nesse período a operação de limpeza é diária e com pessoal preparado para esse tipo de trabalho. Embora no Chile as estradas sejam privadas, no trecho da cordilheira quem cuida da estrada é o governo.
por João Geraldo