Ficar longe de casa, perder eventos comemorativos, não acompanhar o crescimento dos filhos e estar ausente em momentos importantes faz parte do dia a dia de muitas mulheres que escolheram o caminhão como profissão. Em nome de uma paixão, elas se desdobram para realizar um bom trabalho como motorista e ainda cuidar mesmo que à distância da casa e da educação e rotina dos filhos.

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Licia tem um casal de filhos que também trabalham com veículos de carga

Jaidete Licia Macedo, de 44 anos e 16 anos de profissão, Salvador/BA, atua no transporte de combustível e viaja pelo Brasil inteiro. Licia, como prefere ser chamada, se casou com 15 anos com um caminhoneiro e desde então passou a viajar com ele e aos poucos foi se apaixonando pela profissão. Aprendeu a dirigir com ele. O casamento durou 13 anos e após a separação decidiu tirar a sua habilitação. Ela tem dois filhos e os dois estão na estrada. O menino atua na soja e a menina transporta produtos de limpeza.

“Amo a minha profissão. A minha primeira oportunidade foi como motorista de ônibus coletivo, em Salvador. Como eles eram pequenos eu não queria ir para a estrada e ficar longe pois eu não conseguia. Ficava muito preocupada. Depois ingressei no caminhão mas, mesmo assim, fazia viagens curtas para não me ausentar de casa. Mas agora é diferente. Eles estão maiores, casaram e tem a sua própria vida e já não dependem mais de mim. Então a minha vida é outra. Eu vivo na estrada. Trabalho com carreta nove eixo e não consigo mais viver longe da estrada. Passo um ou dois dias no máximo em casa”, contou.

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Há nove anos na profissão, Lis Macedo Pinho, 28 de idade, é filha de Licia e afirma que a vontade de dirigir um caminhão começou na infância. “Minha mãe foi a minha inspiração. Costumo dizer que nasci com o diesel na veia.”, declara.

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Lis conta que apesar de ter orgulho da profissão tem que lidar com algumas situações complicadas em relação aos dois filhos

Lis tem dois filhos, um de nove e outro de três anos. Ela conta que apesar dos filhos terem orgulho da sua profissão ela tem que lidar com algumas situações delicadas. “Eu nunca consigo participar das coisas deles. No primeiro dia de aula eu nunca estou lá para acompanhá-los, nunca consigo levar no pediatra. Eu costumo dizer que a gente terceiriza os nossos filhos. Uma pessoa sempre tem que nos auxiliar. Apesar de eu não viajar muito, no máximo um dia eu fico fora de casa, é difícil pois realmente a gente perde muita coisa da vida dos nossos filhos. Corta o coração”, desabafou.

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Mesmo com todas as dificuldades, a paixão pela profissão é tão grande que ela sente orgulho de ser caminhoneira, mãe e esposa e dar conta de todas essas funções ao ponto de despertar o orgulho por parte dos filhos. “A tecnologia ajudou bastante. Conseguimos mesmo que de longe saber tudo o que está acontecendo e participando dos momentos. Eu lembro que no primeiro dia de aula do meu pequeno, de três anos eu estava em Feira de Santana/BA e fiquei desesperada de não estar lá, a solução foi pedir para as mães me mandarem foto de casa momento. É difícil mas eu amo o que faço”, finalizou.