O ano de 2018 foi mais um período de muitas dificuldades para os motoristas de caminhão; e mais difícil ainda para os profissionais do volante que trabalham por conta própria. Embora a economia tenha dado sinais de recuperação no primeiro semestre, com números crescentes da indústria automotiva, agricultura, e demais setores, para a categoria foi um período pior que 2017.

Mesmo tendo ocorrido no País uma das mais impactantes greves de motoristas – motivada principalmente pelo alto preço do diesel frente ao valor do frete, além de outros conflitos como a falta de segurança, cobrança alta de pedágio e falta de locais para parar – a situação de quem vive de dirigir caminhão não melhorou como era esperado.

Com duração de 11 dias, o movimento provocou a falta de remédios, combustíveis para todo tipo de veículo (inclusive avião), alimentos etc e parou o Brasil. O forte impacto sobre a vida dos brasileiros levou o governo a atender algumas das reivindicações, como a suspensão de cobrança do eixo erguido, redução e estabilização do valor do diesel, além da criação de uma tabela com valores mínimos de frete.

Com o fim da greve, os carreteiros voltaram a ter expectativas de melhoras. Mas, a esperança durou pouco. Dois meses após o fim das manifestações, motoristas começaram a se deparar com empresas que não pagavam o que determina a tabela de frete e o preço do diesel voltou a subir, conforme explicou o autônomo Evaldo Rego da Silva, 51 anos de idade e seis de profissão, de Surumbi/PE. Em sua avaliação,  até o meio do ano o trabalho estava bom, porém, depois da greve a realidade mudou.

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Evaldo Rego espera medidas que venham beneficiar os motoristas autônomos para que consigam trocar de caminhão e assim terem melhores oportunidades de frete

“Antes o frete não estava bom, mas tinha a cargas. Depois, com a tabela, as cargas sumiram. Acredito que as empresas grandes não estão repassando as cargas e utilizando os motoristas empregados para não ter de pagar o preço da tabela. Antes fazia duas viagens por mês entre São Paulo e Nordeste, agora faço apenas uma”, reclamou. Acrescentou que com redução de 50% no seu faturamento, a situação foi ficando complicada.

Em sua opinião o preço do litro do diesel teria de baixar ainda mais para compensar o frete, já que hoje as empresas não estão mais pagando o valor estipulado em tabela. Evaldo contou que o valor da viagem entre São Paulo e Recife caiu de R$ 14 mil para R$11 mil, embora os custos continuem sendo os mesmos.

“Ficou difícil sobreviver assim. Eu sei que o frete não compensa, mas não posso ficar mais de 10 dias parado, por isso, para mim as piores coisas de 2018 foram o alto valor do diesel, os pedágios e o frete que não acompanha”, afirmou.

Evaldo espera que em 2019 hajam medidas que realmente beneficiem os motoristas de caminhão. Sem perder o otimismo, assim como boa parte dos colegas da estrada, ele também espera poder trocar de caminhão para conseguir melhores oportunidades de frete. “Meu caminhão é ano 95, e apesar de ter trocado há dois anos, a mudança foi somente de modelo. Preciso atualizar o meu veículo”, concluiu.

Para José Jesualdo Rangel, 49 anos de idade, autônomo da cidade de Aurora/CE, 2018 foi o pior ano desde que começou na profissão há duas décadas. “Já existiram outras crises, mas foram superadas rapidamente. Essa, no entanto, foi muito difícil”, comentou. Ele acrescentou que frete baixo, altas constantes do preço do diesel e corrupção, somadas, contribuíram para que a maioria dos motoristas não conseguisse pagar as contas e começassem a ter prejuízos.

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Para José Jesualdo, a greve foi positiva, mas acredita que os motoristas não souberam aproveitar o mnomento e começaram a aceitar viagens com valores de frete abaixo da tabela

A greve, em sua opinião, foi positiva, mas os reflexos duraram pouco tempo. Explica que muitos motoristas não souberam aproveitar o momento e começaram a aceitar viagens com baixos valores de frete. “Essa atitude, somada à falta de fiscalização de órgãos competentes, contribuíram para que o empresário deixasse de pagar o valor da tabela. “Cadê a lei? Parece que não existe”, reclamou.

Na ocasião da reportagem, o carreteiro destacou que tinha acabado de fazer um frete de Juazeiro do Norte para São Paulo pelo valor de R$ 8.500,00, quando deveria ter sido de R$ 12 mil. “E tem motorista que para não perder oferece menos ainda (R$ 7 mil) para carregar”, lamentou.

Rangel reconhece que a tabela até funcionou durante um período, mas hoje é quase impossível achar uma empresa que esteja dentro da lei.  Disse que antes da greve a tonelada da pedra de gesso era 125 reais em Trindade. Depois do movimento passou para R$ 300 reais e em novembro baixou para R$ 210 reais. “Não tem condições. Eu gasto R$ 7.500 reais para chegar em São Paulo e o frete é R$ 8.500. Já cheguei a ficar em casa por 15 dias por causa do frete baixo”, desabafou.

Assim como os demais colegas, Rangel alimenta boas expectativas de mudanças para a atividade em 2019, que o novo governo faça algo bom para o País; que acabe com essa roubalheira e insegurança. “Tenho duas filhas e todos os dias quando saio de casa beijo elas, pois não tenho certeza se vou voltar. Um País tão rico como o nosso não deveria estar passando por isso”, disse emocionado.

O também autônomo Rubens Silva, 41 anos de idade e 20 de profissão, de Brasília/DF, que viaja o Brasil inteiro, avalia 2018 como um dos períodos mais difíceis que já enfrentou, principalmente pelo alto valor do diesel. “As despesas aumentaram muito e o frete não acompanhou. Foi o ano que consegui o menor faturamento, pois a alta do diesel foi cruel. Em 2017 a gente ainda abastecia pagando por R$ 2,85 pelo litro, mas agora pagamos mais de R$ 3,00”, relatou.

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O autônomo Rubens Silva, disse que 2018 foi um dos períodos mais difíceis que já enfrentou na profissão, e espera que o novo governo reduza o preço do diesel

Ainda em sua opinião, a greve foi necessária e ajudou a melhorar a situação, como a isenção de cobrança do eixo erguido, por exemplo. “Essa medida foi positiva, mas para compensar aumentaram a tarifa do pedágio, que, embora não devesse, sai do nosso bolso”, reclamou. Outro ponto destacado por Rubens Silva é o não cumprimento da tabela de frete.

“Se eu tivesse para onde correr deixava a profissão. No entanto, espero que 2019 seja melhor. É sempre bom ter expectativas de melhora, de novo governo de novas ideias. Se o valor do óleo diesel baixar já vai ajudar a fazer as coisas começarem a andar novamente”, opinou.

O autônomo Adelson Olívio dos Santos, 37 anos de idade e 10 de profissão, de Frei Miguelinho/PE, tem uma avaliação diferente de 2018. Considera que o ano foi bom, na medida do possível, mas alerta que é preciso trabalhar muito para conseguir se manter. Disse que no início do ano a situação estava bem mais complicada, com aumentos excessivos do diesel e frete com valor muito baixo. Lembra que a paralisação foi consequência daquela situação e iria acontecer de qualquer maneira, porque estava muito difícil de trabalhar. “Ia chegar um momento que a conta não fecharia mais e seria necessário colocar dinheiro do bolso para entregar uma carga”, relatou.

Adelson
A greve dos motoristas foi um divisor de águas que provocou uma pequena melhora, mas o preço do frete voltou a ficar baixo e ninguém paga o valor da tabela, comentou Adelson Olívio

Comentou que a greve foi um divisor de águas, porque a situação começou a melhorar um pouco. No entanto, o Adelson reconhece que ainda tem muita coisa para mudar. Destaca que o valor do frete voltou a ficar baixo e ninguém paga o que está estipulado na tabela. “Fiquei esperançoso, mas com a falta de fiscalização nenhuma empresa obedece a lei. Cheguei a carregar soja por R$ 15 mil e recentemente me ofereceram R$ 12 mil”, afirmou.

Acrescentou que desde o final de 2017 carrega soja no período da safra, para tentar ganhar um pouco mais. Lembrou também que no final do ano passado teve de se reinventar, pois estava complicado transportar somente carga seca. “Muitas vezes chego a ficar mais de 10 dias parado em posto esperando uma carga vantajosa para retornar”, acrescentou.

Suas expectativas para 2019 também são de mudanças. “Vamos ter fé que esse novo governo realmente faça alguma coisa para nós motoristas”.  Em sua opinião, a primeira coisa que deveria acontecer é liberação de crédito para os motoristas autônomos poderem trocar de caminhão e melhorar o negócio. “Assim seria possível pagar as contas e ainda sobrar um valor para poupar”, destacou. Outra medida, conforme disse, seria as empresas realmente praticarem o valor da tabela de frete, pagar o pedágio antecipado e, claro, com fiscalização por parte da ANTT.

Diferente dos colegas autônomos, o mineiro de Guaxupé, José Luiz de Oliveira, 50 anos de idade e 20 de profissão, é empregado e disse não ter reclamação de 2018. Disse que foi um ano bom, trabalhou bastante e acredita que a greve não ajudou a mudar muitas coisas, pois ainda motoristas enfrentando dificuldades. “É por isso que nunca tive vontade de ter o meu próprio caminhão”, afirmou.

José Luiz de Oliveira
Foi um ano bom e de muito trabalho, afirmou o motorista empregado José Luiz Oliveira, que disse esperar melhorias e segurança nas estradas em 2019

Apesar de estar livre das despesas com diesel, e não depender do frete, ele também aguarda mudanças para 2019, pois quer melhorar sua qualidade de vida no trabalho. Para ele, as estradas deveriam ser melhoradas, inclusive com duplicação das pistas. Outra medida importante seria acabar com a criminalidade, principalmente no Rio de Janeiro.