Por carregarem diuturnamente toneladas de carga, pneus requerem cuidados específicos para não se tornarem os vilões do custo da operação do transporte. Todo profissional do mercado sabe que manter uma condição aceitável de rodagem e de – extrair o máximo rendimento do veículo – nem mesmo os mínimos detalhes podem passar despercebidos. Mas será que os motoristas se preocupam com esse assunto? A resposta é sim, porque mais do que isso, os carreteiros sabem realmente como cuidar e gerir os pneus, aumentando, assim, a vida útil e fazendo a diferença no bolso.

Constantemente, os fabricantes do setor apresentam novas e avançadas tecnologias, com compostos reforçados, bandas e todas as demais partes mais adequadas à realidade brasileira. Mesmo com todos os avanços empregados atualmente na construção dos pneus, a precariedade das estradas e rodovias brasileiras tornam obrigatória e constante as verificações.

Para saber como anda o zelo dos motoristas de caminhão com os pneus, reportagem da revista O Carreteiro foi à estrada para falar com o pessoal do trecho e descobrir como realizam as manutenções, quais os principais cuidados e procedimentos, e como avaliam um pneu quando é chegada a hora da troca.

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Alinhamento, balanceamento e verificação diária da calibragem dos pneus estão no topo de suas prioridades, garantiu o carreteiro André Novaes

André Novaes Oliveira, 39, baiano de Belo Campo, afirma que mantém vigilância constante sobre o estado de conversação dos pneus do seu caminhão. Disse que alinhamento e balanceamento estão sempre no topo de suas prioridades. Justificou sua preocupação citando o alto custo dos pneus em sua planilha de custo. “Confiro a calibragem dos pneus todos os dias. Estou sempre dando uma geral. Estou acostumado a parar sempre em alguma borracharia. Além disso, diariamente, ainda com os pneus frios, verifico a calibragem”, acrescentou. Apesar de estar por dentro das principais tecnologias existentes hoje no mercado, como um chip que mostra na tela do computador o estado dos pneus, Oliveira diz que são tecnologias caras ainda, geralmente mais utilizadas por empresas de transporte.

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O autônomo Sidney Agner disse que para evitar surpresas na viagem não usa pneus velhos e inadequados em seu caminhão. Disse ainda que fazer rodízio é obrigação

O autônomo Sidney Pedro Ribeiro Agner, 56, de Guarapuava/PR, que transporta papel higiênico entre os Estados de São Paulo e Paraná, explica que para manter a regularidade das viagens sem surpresas, é preciso verificar diariamente a calibragem dos pneus. Diz que não usa pneus velhos e inadequados,  e garante que faz a recapagem ou compra tudo novo. “Fazer o rodízio não é um luxo, é uma necessidade.  E quando vejo que o pneu está entortando não penso duas vezes para mudá-lo de posição”, diz.  Agner acrescenta que na compra de pneus novos ele nunca é guiado pela marca, mas pelo preço, mesmo que isso signifique rodar com um pneu de qualidade inferior.

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Jefferson de Lima afirmou que compra pneus novos de um único fabricante, apesar de ter opinião de que caiu a qualidade dos produtos de todas as marcas

Já o carreteiro Jefferson Chagas de Lima, 37 anos de idade, também paranaense de Guarapuava, afirma que não verifica os pneus diariamente, porém garante que o rodízio de seis em seis meses nunca falha. Disse também também que só compra pneus novos pela marca e não pelo preço. “Compro de uma única fabricante, apesar de reconhecer que estamos sendo enganados, pois todas as marcas tiveram queda na qualidade dos pneus”, finalizou.

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Thiago Novaes reconhece que cuidados são essenciais para prolongar a vida útil dos pneus e disse que a escolha da marca depende das condições de pagamento

Sua opinião sobre aquisição de pneus novos pela marca é compartilhada pelo colega Thiago Novaes Oliveira, 32, de Vitória da Conquista/BA. “Na hora de comprar, eu vou pela marca, mas também depende das condições de pagamento”, explicou o motorista. Quanto aos cuidados, reconhece que são essenciais para prolongar a vida útil dos pneus, principalmente a calibragem.

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O uruguaio Antonio Salvador Rodrigues disse que as condições das estradas brasileiras exigem que o motorista seja mais rigoroso nos cuidados com os pneus

O carreteiro uruguaio Antônio Salvador Rodrigues, 59 anos, diz calibrar e balancear os pneus sempre que necessário. Casado com uma brasileira do Rio Grande do Sul, ele criticou o estado das rodovias brasileiras, frisando que no Uruguai e Argentina as boas condições das estradas permitem menos rigor no cuidado com os pneus Tenho ido muito à Argentina e lá as condições das pistas são muito mais favoráveis para o caminhoneiro”, avaliou.

Rodrigues disse ainda que para identificar a espessura do pneu, ele usa um pequeno instrumento para saber mais sobre a profundidade dos sulcos da banda de rodagem, isso é, quanta borracha ainda tem para gastar.  “Sou cliente de uma distribuidora de pneus, então deixo com eles boa parte dos trabalhos de inspeção”, concluiu.

DICAS PARA MAIOR VIDA ÚTIL DOS PNEUS

A correta manutenção dos pneus gera dúvidas que atingem até mesmo os profissionais que transportam as riquezas do país, ou seja, vocês, amigos carreteiros. Por isso a ANIP (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) divulgou recentemente um guia com dez dicas para prolongar a vida útil dos pneus.

Veja abaixo:

Carga – Os pneus têm a informação sobre a carga máxima na lateral. Ela é indicada por números que representam o limite de peso do pneu (ex: 152 = 3550 kg pneus para dimensão 295/80R22.5). É importante garantir que o caminhão não esteja sobrecarregado para evitar desequilíbrios nos eixos para poder circular em segurança. O excesso de carga exige mais dos pneus e reduz a sua vida útil.

Condução defensiva – Freadas bruscas e alta velocidade gastam mais pneu. Por isso é importante adotar a condução defensiva. Além de ser mais segura reduz o desgaste dos pneus.

Desgaste – O TWI (ou Tread Wear Indicator) é o nome técnico da saliência com 1,6 mm que está nos sulcos do pneu. Ele representa o limite de segurança e, caso o desgaste do pneu esteja próximo ou atinja esse indicador, significa que já está na hora de trocá-lo. Abaixo dessa medida, o pneu já passa a ser considerado “careca”. A resolução do Contran 558/80 estabelece que trafegar com pneus abaixo do limite é ilegal. O veículo pode ser multado e apreendido.

Fatores externos – O TWI não é o único sinal de desgaste a ser observado. Os caminhões circulam por diferentes tipos de estrada (trajeto, piso e topografia) e encaram os mais diversos climas. Esses fatores, afetam os pneus, por isso é importante ficar atento às rachaduras, cortes mais profundos – tanto na lateral quanto na banda de rodagem.

Calibragem – A calibragem adequada é essencial para a segurança. Pressão abaixo do nível recomendado pelo fabricante deixa o pneu mais quente, desgasta mais rápido, pode causar rachaduras nos flancos da carcaça e leva à perda de estabilidade em curvas. Quando a pressão está acima da recomendada, o desgaste é mais visível na área central da banda de rodagem. Essa condição pode resultar em rachaduras na base dos sulcos e o pneu se torna mais suscetível a rompimento da banda, podendo causar acidentes.

Estepe – Apesar de não estar em uso, o estepe também deve ter a manutenção em dia. Verifique sempre a pressão e o desgaste antes de pegar a estrada.

Pneus reformados – A construção dos pneus de carga permite que sejam recapados até três ou quatro vezes, mediante a qualidade e o estado da carcaça. A recapagem substitui somente a borracha desgastada da banda de rodagem em contato com o solo. Qualquer reforma de pneus deve ser feita em locais com o selo do Inmetro para que haja garantias de que o serviço seja realizado de forma adequada e de maneira a assegurar a segurança.

Alinhamento e balanceamento – Se feitos de forma correta, garantem mais segurança durante o transporte em função da maior estabilidade do veículo, maior vida útil dos pneus e redução do consumo de combustível.

Rodízio – A má distribuição de carga e o tipo de direção do motorista podem levar ao desgaste irregular dos pneus.

Uma das maneiras de prolongar a vida útil dos pneus, igualar o desgaste e de tornar a viagem mais segura é o rodízio, que deve ser feito sempre com supervisão de um especialista. O rodízio varia de acordo com o tipo de caminhão e por isso é sempre necessário verificar as orientações do manual do veículo.

Derivados de petróleo e solventes- O contato com derivados de petróleo e solventes não é benéfico para os pneus, já que atacam a borracha. Esteja atento para não estacionar sobre poças de óleo e verifique se os produtos usados nas rodas possuem alguns destes elementos.

PNEUS TECNOLÓGICOS

Aproveitar de forma completa a vida útil dos pneus, da produção ao descarte, também é um desafio cada vez maior da indústria mundial de pneus. Para que as ideias saiam das pranchetas e se concretizem, é comum as fabricantes investirem pesado em tecnologias para oferecerem produtos que sejam mais inteligentes, resistentes, que tenham materiais mais ‘verdes’ em suas compo-sições e também que durem mais.

A Goodyear, por exemplo, conta  com ‘novas tecnologias e compostos na linha CityMax Plus, as quais ampliam a eficiência dos pneus em relação às linhas anteriores.  De acordo com a empresa, o produto oferece até 8% de eficiência energética em relação ao anterior. Outra tecnologia da marca é o RFID (Chip de Identificação por Rádio Frequência, em português), que é embutido no pneu e armazena diversos dados dele, como pressão, quilo-metragem, posição no veículo, profun-didade dos sulcos e informa ao sistema de gerenciamento de frotas da marca.

A Michelin, por sua vez, lançou no ano passado a tecnologia Regenion, cujo maior diferencial é auxiliar os carreteiros a identificarem os primeiros sinais de desgaste dos pneus. Aplicado no pneu X Incity Z, esse recurso tem início na vida útil do pneu com três sulcos e termina com cinco, mostrando que é hora de tomar alguma ação com aquele pneu.

No caso da Bridgestone, a linha Ecopia (pneus R268 e M792), da Bridgestone, emprega materiais que minimizam a resistência ao rolamento, aumentando a eficiência energética em até 2% em relação às linhas antecessoras e contribuindo na diminuição de CO² (dióxido de carbono) na atmosfera.

por Diogo Mendes