stituído com o objetivo principal de reduzir o número de acidentes nas estradas, para ter melhor aceitação entre os motoristas de caminhão o exame toxicológico para renovação da CNH profissional (obrigatório desde o dia 03 de março de 2016), precisa tomar menos tempo do carreteiro, ser menos caro e ter fiscalização eficiente para evitar fraudes
Por Erik Valeriano
O exame toxicológico de larga janela de detecção para motoristas profissionais divide opiniões no trecho entre carreteiros experientes e acostumados à rotina das estradas. Vistos pelos próprios carreteiros como uma exigência que pode contribuir para a redução de acidentes nas estradas, as observações dos motoristas de caminhão indicam que deve haver fiscalização para evitar fraudes no exame e que seja menos caro e que tome menos tempo para ser realizado.
Obrigatório para quem vai tirar ou renovar a habilitação nas categorias C, D e E, como foi amplamente divulgado antes de ser instituído, o exame é feito por laboratórios cadastrados no Denatran e tem por objetivo identificar se o motorista usou, ou não, substâncias psicoativas (drogas) nos últimos 90 dias.
De acordo com o Instituto de Tecnologia para o Trânsito Seguro (ITTS), após seis meses da obrigatoriedade do exame, mais de 200 mil motoristas mudaram a categoria a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para outra que não inclui a obrigação do toxicológico. No entanto, o procedimento é simples e indolor. São recolhidos fios de cabelo da cabeça, ou pelo dos braços do motorista. O material é analisado e um laudo emitido no prazo de 20 a 40 dias. Este ano, o exame passou a ser obrigatório também para admissões e demissões de motoristas.
Na estrada, há carreteiros que acreditam que a exigência do exame toxicológico ainda não provocou resultados expressivos. Em uma das maiores áreas de descanso de Mato Grosso, localizada no entroncamento da BR-364 com a BR-163, no Mato Grosso, as opiniões dos carreteiros sobre o assunto são divergentes.
O motorista Claudeci Antônio Secchi, da cidade de Sinop/MT, tem 54 anos de idade e 32 de volante, afirma que a ideia de fazer um trabalho para combater o uso de drogas na estrada é válida, porém tem de haver fiscalização. “Esse exame tinha de ser feito com frequência, não apenas na hora de renovar carteira. É fácil trapacear”, diz o carreteiro citando que há motorista comprando a carteira para escapar do exame. “Aqueles que usam algum tipo de ‘coisa proibida’ só vão sentir a pressão com uma fiscalização intensa. Aí sim terão de decidir se largam da droga ou largam do volante, mas por enquanto está tudo na mesma”, garante.
Mas há quem pensa diferente, como é caso do sul mato-grossense Edimar Menezes, carreteiro com 51 anos de idade e 25 na profissão. Em sua opinião, a obrigatoriedade do exame toxicológico para a categoria é necessária. “É preciso frear a pressa de alguns motoristas. Uma minoria ainda insiste em rodar além do limite. Seja pela pressão da empresa, que quer o produto entregue na data, ou pela necessidade de aumentar o faturamento”, diz.
Menezes acrescenta que para o motorista aguentar o ‘batidão’ acaba usando algum tipo de droga para se manter acordado ao volante e daí acontecem os acidentes. Acredito que com o passar do tempo essa situação vai melhorar, mas o governo precisa fazer sua parte e fiscalizar”, cobra.
O cearense João Paulo Barros do Nascimento, de 34 anos de idade, que há 13 anos roda praticamente por todas as regiões do Brasil, também defende que tem de ter fiscalização, porém, destaca que a maior reclamação diz respeito aos valores para a renovação da CNH. Lembra que além da documentação rotineira, o exame também deve ser pago pelo condutor, na média nacional de R$ 300,00.
“Uma renovação da carteira já não era barata, agora com a exigência do exame toxicológico ficou ainda mais cara”, reclama. Ainda de acordo com Nascimento, dependendo do lugar a despesa fica em quase mil reais. “Para quem já está estrangulado pela crise do setor, esse valor faz muita diferença. Acho a ideia do exame válida, mas deveria ser bancada pelo governo”, sugere.
O carreteiro Manoel Alves, de Mato Grosso do Sul, concorda com a medida e afirma que o comportamento dos motoristas mudou nos últimos 12 meses. “Antes, a coisa era mais escancarada, os colegas andavam com substâncias proibidas, como rebites e outras drogas estimulantes no painel do caminhão. Hoje não tem mais, a melhora já é visível em alguns lugares”, afirmou. Alves disse também que acredita que com o passar dos anos a situação vai melhorar. “Mesmo com alguns burlando a lei, a situação vai melhorar. Esse exame é caro, mas se for para oferecer mais segurança para quem está na estrada eu faço um esforço e pago”, admitiu.
Há 34 anos na profissão, o gaúcho Reneu dos Santos Velho, 54 anos de idade, também se mostra otimista em relação ao exam e toxicológico. “O procedimento é bem simples, só precisa ser mais rápido, porque carreteiro que fica parado não tem salário”, observou, destacando que de um modo geral a situação está melhor, porque a exigência da carga horária está fazendo a turma do trecho andar um pouco menos. “A situação estava insustentável, tinha muita gente fazendo loucura por aí, mas agora os horários são mais respeitados”, frisou, com a expectativa de que dentro de algum tempo as estradas estarão mais tranquilas e seguras.
REDUÇÃO DE ACIDENTES
Durante o ano de 2016 aconteceram menos acidentes com caminhões quando comparado ao ano anterior. De acordo com números da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 2015 aconteceram 122.090 colisões de veículos, em rodovias federais.
Já no ano passado foram registradas 96.296 ocorrências, apresentando queda de 21%. Os números consideram acidentes com feridos leves, graves ou ilesos.
As autoridades, no entanto, evitam relacionar a redução de acidentes com a implantação do exame toxicológico. Isso porque em 2016, diante da crise econômica que afetou diretamente o setor de transporte rodoviário de cargas, parte da frota de caminhões não saiu dos pátios das empresas.
Os autônomos também viram os fretes desaparecerem e tiveram de conviver com longos dias esperando por uma carga para transportar.