Por enquanto, não há registro de interdições no trânsito
Após três dias de protestos e interrupção do tráfego em diversas rodovias do País, as manifestações de carreteiros parecem ter dado trégua. Até agora não há registro de vias bloqueadas.
Na tarde de ontem, a Presidente Dilma Rousseff afirmou que o governo não ficará \”quieto\” diante de interrupções de rodovias. Na ocasião ela afirmou que “não concorda com protestos que levem a qualquer turbulência nas atividades produtivas e na vida das pessoas. Uma coisa são manifestações pacíficas que muito engrandecem o país. Outra coisa completamente diferente é acreditar que o país possa viver sem normalidade e estabilidade\”.
\”É fundamental para o país que estradas não sejam interrompidas e o governo não ficará quieto diante de processos de interrupção de rodovias, porque também na nossa bandeira tem a palavra ordem. Ordem significa democracia, mas também significa respeito à produção, à circulação, e da vida da população brasileira. Então não tenham dúvidas, o governo não negocia isso”, afirmou a presidente.
O que dizem as associações
Associações ligadas aos motoristas de caminhão dizem ser contra as manifestações que têm bloqueado rodovias no País desde o início da semana. As entidades consideram a pauta de reivindicações mais favorável às empresas que aos carreteiros, mas afirmam, no entanto, não ter conhecimento do envolvimento do setor patronal nos protestos.
\”Parece que a pauta do protesto convocado pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro está travestida para apoiar um projeto de lei que interessa bem mais aos empresários do que aos caminhoneiros autônomos, como o retorno da carta-frete e a extinção do tempo limite de direção\”, afirma Cleverson Kaimoto, diretor da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA).
A CNTT (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes), entidade ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), também afirma não concordar com o movimento encabeçado pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC). \”O povo brasileiro está assistindo a mais um movimento organizado por pseudos representantes de motoristas\”, declara a entidade, em nota.
O presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), Nélio Botelho, afirmou nesta quarta-feira que o governo o trata como \”bode expiatório\”. Botelho afirmou que não é empresário, mas sim presidente de uma cooperativa de motoristas, a Cooperativa Brasileira dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens (Cobrascam).
\”Em função da gravidade da situação nas rodovias, o governo está querendo pegar alguém como bode expiatório. Sou transportador autônomo, proprietário de um único veículo, membro da diretoria de uma coopertativa de transporte de carga. É uma empresa comercial, mas sem fins lucrativos. Essa informação de que estou comentendo locaute é absurda. Estão querendo um bode expiatório, dizendo que sou empresário\”, disse Nélio Botelho.
Outra organização de motoristas do País, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) também diz não colaborar com as paralisações em rodovias. \”De forma nenhuma somos contra reivindicações justas, mas isso tem de ser feito parado em casa, sem badernas\”, afirma Claudinei Natal Pelegrini, presidente da Abcam.
Inquérito
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou nesta quarta-feira (03/07) que a Polícia Federal abra inquérito policial em razão das suspeitas de locaute na paralisação verificada nos últimos dias nas rodovias federais de todo o País. O locaute consiste em movimento de greve provocado por empresários.
A abertura de inquérito foi uma resposta de Cardozo a ofício enviado pelo ministro dos Transportes, César Borges. O ofício aponta suspeitas de locaute por parte de um dos líderes da paralisação, Nélio Botelho, presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC). Em tese, o movimento é de caminhoneiros autônomos. Segundo o governo, Botelho não é autônomo, mas empresário e mantém 39 contratos com a Petrobras que, juntos, somam R$ 4 milhões por mês.
A informação foi repassada a jornalistas durante coletiva à imprensa com Cardozo, César Borges e o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Há três dias, protestos de caminhoneiros paralisam estradas de todo o país. O movimento pede, entre outras coisas, redução nos preços do diesel e dos pedágios.
A assessoria do Ministério da Justiça havia informado na noite de terça (02/07) que Cardozo pediu à Polícia Federal uma averiguação da possibilidade de locaute, mas, nesta quarta, ele determinou a instauração do inquérito. \”Diante da gravidade dos fatos narrados, determino a abertura de inquérito policial pela PF, na forma da legislação em vigor\”, assinou Cardozo.
Em documento enviado à Cardozo nesta manhã, César Borges afirma que Nélio Botelho convocou protesto para obstruir rodovias e que anunciou à imprensa que tinha como objetivo provocar o desabastecimento em todo País de combustíveis e alimentos.
\”Há ainda, informações oficiosas no sentido de que o senhor Nélio Botelho possui contratos de transporte rodoviário com a Petrobras e, portanto, atuando como empresário do setor, tal paralisação por ele engendrada poderia configurar locaute\”, diz Borges no ofício.
Prisões
Balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF) divulgado na noite desta quarta-feira (03/07) informa que 15 homens foram presos em quatro estados (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) durante os protestos
Segundo o balanço, dos 15 detidos, cinco foram presos nesta quarta em Santa Catarina, todos na BR-158, no município de Palmitos. Segundo os dados, eles praticaram ações criminosas contra motoristas, danos ao patrimônio público e descumprimento de decisão judicial que obrigava a liberação das rodovias.
Os cinco presos – entre 19 e 47 anos – em Santa Catarina, diz a PRF, ameaçaram motoristas para que eles parassem os caminhões, jogaram pedras e atearam fogo em pneus para bloquear a rodovia BR-158.
No estado de Minas Gerais, foram seis presos – homens entre 19 e 47 anos – na BR 040 entre segunda e terça-feira nas cidades de Nova Lima e Ribeirão das Neves. As prisões ocorreram por diversos delitos, segundo a Polícia Rodoviária: crime contra o patrimônio, desacato à autoridade, depredação de patrimônio particular, incitação à desordem, obstrução da rodovia e ameaça a terceiros.
No Rio de Janeiro, em Barra Mansa, na BR 116, três pessoas entre 28 e 57 anos foram detidas por desobediência, desacato e crime contra o patrimônio. As prisões ocorreram segunda e terça-feira.
Na terça, também foi preso um homem de 20 anos na cidade de Santa Maria, na BR 392, por crime contra a paz pública. Segundo informações da PRF, todos os casos foram encaminhados à Polícia Civil ou Polícia Federal para instauração de inquérito policial, que podem levar a processos judiciais.
Morte
Um motorista de 44 anos morreu na noite desta quarta-feira (03/07) depois de tentar passar por um bloqueio na BR-116 em Cristal, na Região Sul do Rio Grande do Sul. Após ser agredido por manifestantes, Renato Kranlow acionou a Polícia Rodoviária Federal, que o aconselhou a ir em seu próprio veículo ao hospital de Camaquã, seguido pela viatura. Cerca de 7 quilômetros depois, o caminhão foi atingido por uma pedra que atravessou o para-brisa e acertou o pescoço do motorista.
O carreteiro não resistiu e morreu no local, no km 420. De acordo com o inspetor da PRF Alessandro Castro, o homem foi até a viatura para pedir ajuda para fazer um boletim de ocorrência, porque havia levado um soco ao discutir com manifestantes que orientavam os motoristas a ficarem parados em um posto de combustíveis. Os policiais rodoviários escoltariam o veículo até Camaquã, onde o homem iria ao hospital e a uma delegacia prestar queixa.
Segundo a Polícia Civil, que fez a perícia no local, há indícios de que a pedra tenha sido jogada de um carro que vinha na direção oposta. O caminhão, que carregava material de reciclagem, ia de Pelotas a Porto Alegre. O corpo foi levado ao IML de Camaquã.
\”Não tenho nenhum problema com manifestações, só não concordo com esse tipo de atitude de violência\”, diz o irmão da vítima, Ernani Kranlow, de 42 anos. Segundo a família, que é natural de Pelotas, era para o filho de 19 anos de Renato, Eduardo, que também é motorista, levar a carga. Entretanto, de última hora, o pai pediu para fazer o trabalho. Segundo a PRF, o km 427 da BR-116 havia sido bloqueado das 6h às 12h desta quarta-feira e depois novamente às 18h. A morte ocorreu por volta das 19h45.
Do G1