Os motoristas conhecem bem a importância de estarem atualizados e preparados para lidar com as novidades do mercado e os caminhões cada vez mais modernos e sofisticados. Porém, a grande maioria esbarra na falta de tempo, dinheiro e oportunidade para participar de treinamentos e cursos profissionalizantes. Tais dificuldades os levam a fazer o que podem, buscando experiência e conhecimento na rotina do dia a dia e em conversas com colegas que têm oportunidade de se aperfeiçoarem e vivem uma realidade diferente.

Sobre motorista treinado, a gerente geral da Fabet Filial SP, Salete M. Argenton, comenta que a concorrência está acirrada em todos as áreas no País e não basta apenas ser um motorista habilitado e com experiência. Ela explica que é preciso ser um profissional atualizado, capaz de garantir resultados qualitativos e quantitativos efetivos, contínuos e duradouros para a empresa. “Dirigir com segurança, produtividade e baixo custo operacional é fundamental. É a exigência mínima do mercado de trabalho”, explica.

O carreteiro Giovani Lopes, 32 anos de idade e 10 de profissão, de Fa­xinal dos Guedes/SC, que atua no transporte de cargas frigorificadas,  re­conhece que o motorista bem treinado tem mais chances de disputar um frete melhor e contribuir para a se­gurança nas estradas. Mas, assim co­mo a maioria de seus colegas, ele diz que não tem tempo para se atualizar.

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O motorista com treinamento é mais preparado e consegue fretes melhores, além de promover segurança nas estradas, opinou o carreteiro Giovani Lopes

“A empresa onde trabalho não oferece treinamento, então, quando tenho oportunidade busco informações nas concessionárias de caminhões. Nesta última viagem, por exemplo, descarreguei em um estabelecimento próximo à concessionária Volvo Auto Sueco, em São Paulo, e aproveitei o tempo livre para me informar sobre as novidades e tecnologias dos caminhões da marca”, conta.

Ele defende que os motoristas que ingressam nas empresas deveriam passar por um treinamento para conhecer melhor a ferramenta com a qual vai trabalhar e assim conseguir boas médias de consumo e menor desgaste do caminhão. “Isso, sem contar na redução do risco desse motorista provocar um acidente e até mesmo perder a vida, como foi o caso de um colega em Salinas/MG”, lamentou.

O colega citado por Giovani Lopes é  Ivanor Wilmes, 30 anos de idade, que em sua primeira viagem perdeu o controle da direção em uma ponte e caiu com o caminhão dentro de um rio. Ele levava uma carga de maçã de Fraiburgo/SC para Juazeiro/BA. “Provavelmente ele não tinha experiência e nem recebeu instruções sobre condução, estrada, caminhão e direção segura e econômica. Simplesmente contrataram e o colocaram para trabalhar”, opinou.

Situação parecida, porém com final feliz, vivenciou o motorista Renato dos Santos Oliveira, 36 anos de idade e 10 de profissão, de São Borja/RS. Ele contou que quando ingressou na profissão não contava com experiência alguma de estrada. As únicas informações que tinha sobre a profissão foram adquiridas em um curso de formação de motorista com durabilidade de oito dias, que ele havia realizado em seu Estado por conta própria. “Eu não tinha tempo de direção, por isso fiz o curso para ter um currículo melhor. Após ser contratado, na minha primeira viagem me colocaram para rodar 600 quilômetros. Fiquei desesperado, nervoso, fiz algumas besteiras, me perdi. Não sabia direito como agir”, lembrou.

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É muito arriscado colocar um motorista sem qualquer treinamento para fazer viagem longa, como foi seu caso, afirmou Renato Santos Oliveira

A segurança mesmo veio somente cerca de um ano depois, conforme contou. Lembra que aos poucos foi se acostumando com o caminhão, a estrada e adquirindo experiência. “É arriscado colocar um motorista sem qualquer treinamento para fazer viagens longas. Comenta que toda a insegurança ficou para trás, mas se tivesse a oportunidade de fazer novamente o mesmo curso que fez lá no início, com certeza poderia melhorar o seu desempenho no volante.

“Porém, a empresa onde trabalho não oferece curso e eu não tenho dinheiro e nem tempo para arcar com as despesas”, afirmou. Oliveira acrescentou que quando um motorista se atualiza consegue melhorar a média e trazer mais rentabilidade a empresa que trabalha.

Fabiano Gaio, 32 anos e 12 de profissão, de Xanxerê/SC, roda por todas as regiões do País e vive o mesmo dilema dos demais colegas. Diz que gostaria de se atualizar, mas a empresa onde trabalha não oferece cursos e também ele não tem tempo. “Se a empresa disponibilizasse seria mais fácil, pois ela mesmo encontraria um tempo”, disse. Mesmo assim, considera complicado, porque passa muito tempo fora de casa e se tiver de fazer curso não consegue nem ver a sua família, conforme disse.

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Fabiano Gaio quer se atualizar, mas disse que não tem tempo e acredita que seria mais fácil se a empresa onde trabalha tivesse cursos para motoristas

Para Fabiano, todos ganham com um motorista bem treinado. A rentabilidade da empresa aumenta com a direção mais econômica e o condutor promove mais segurança em suas viagens. “Vejo os motoristas recém contratados entrando na profissão com ar de superioridade, achando que sabem de tudo. Mas, na prática, não dão bons resultados. Todos os profissionais deveriam ser treinados. Toda informação é bem-vinda e ajuda a melhorar o desempenho”, destacou.

Com 20 anos de estrada, José Nilson 38 anos, de Ilhéus/BA, morando atualmente em Embu/SP, aprendeu a profissão na prática. Fez apenas os cursos obrigatórios, com destaque para o MOPP, pois atuava no transporte de combustível. Porém, a empresa faliu, ele teve seu faturamento reduzido e atualmente atua em trajetos mais curtos, transportando tinta.

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José Nilson trabalhou como tanqueiro e disse que ganhava bem com o que sabia. A empresa faliu e hoje ele se arrepende, porque seu rendimento é menor

Nilson disse que se arrepende de muitas coisas. Afirma que na época de tanqueiro ganhava muito dinheiro, mas era inconsequente e nunca se interessou em fazer curso ou treinamento, pois conseguia faturar bastante com o que sabia. “Hoje, meu rendimento é mais baixo. Fiquei para trás e ainda tenho um problema na perna por conta das minhas atitudes. Não sou atualizado e não me sinto competitivo”, admitiu.

Outro motorista que viaja o País inteiro sem curso de atualização é Antônio Rodrigues, Palmas/TO, 40 anos de idade e 10 de profissão. Ele também afirma que tudo que sabe aprendeu na raça. Acrescentou que a a empresa não disponibilizou qualquer tipo de treinamento. “Tenho apenas os cursos básicos como o MOPP e Direção Defensiva. A empresa cobra média de consumo, mas não dá a ferramenta para isso. E o pior, quem não atinge a média tem o valor descontado da comissão”, revelou.

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O motorista que não atinge a média de consumo tem o valor descontado na comissão, comentou Antonio Rodrigues que tem cursos MOPP e Direção Defensiva

Rodrigues explicou que um dos motoristas da empresa recebeu treinamento na concessionária onde foram adquiridos os caminhões e por isso ele ficou sendo o responsável por transmitir o conhecimento para os demais funcionários. “Mas como vamos aprender se o máximo que ele faz é dar uma volta com os motoristas, com ele mesmo no comando da direção?”, ironizou.

Se os motoristas empregados enfrentam dificuldades para se atualizar, a situação para os autônomos é ainda mais complicada. É o que confirma o veterano Dalvino Pereira de Souza, de 50 anos de idade e 30 de profissão, de Guanambi/BA, que já viajou o Brasil inteiro e hoje atua somente na rota Minas – Goiás. “Durante todo esse tempo de profissão, o máximo que consegui fazer foram os cursos MOPP e Direção Defensiva. Mas nunca consegui fazer esses treinamentos mais modernos que deixam o motorista mais atualizado e preparado para realizar o trabalho com mais eficiência”, disse.

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O autônomo Dalvino Pereira afirma que por falta de tempo, dinheiro e informação, em 30 anos de profissão conseguiu fazer apenas dois cursos

A falta de tempo, de informação sobre os locais que oferecem os cursos e também dinheiro desestimularam Dalvino a buscar atualização. Disse que aprendeu tudo na estrada, porque a maioria das empresas não olham para os motoristas autônomos. Destaca que atualmente a situação piorou, porque os custos aumentaram e o frete ficou do mesmo jeito. “Assim, tenho de saber aonde vou gastar o dinheiro. Os cursos, apesar de serem importantes, não fazem parte das minhas prioridades, porque no momento tenho de sobreviver”, finalizou.