Caminhoneiros estão enfrentando muitas dificuldades nas estrada durante a pandemia que atingiu o mundo nos últimos meses. Com os decretos estipulados pelo governo muitos estabelecimento foram obrigados a fechar as suas portas. Assim, ficaram sem opções para fazer as refeições e pequenos reparos nos caminhões por conta das borracharias.
Outra dificuldade é encontrar equipamentos de segurança como o álcool em gel e máscara de proteção.

ricardoO carreteiro Ricardo Roski, de Jundiai/SP, confirma que nas estradas os motoristas estão com dificuldade de encontrar luvas, máscara, álcool em gel para higienizar as mãos durante as viagens. “Muitos restaurantes estão fechados. Tenho sorte de ter a caixa cozinha. Então antes de qualquer viagem abasteço ela para não passar fome na estrada”.

caixa cozinha ricardoO principal medo de Ricardo é de contrair o vírus por estar o tempo todo exposto. “O meu caminhão eu tento conservar limpo, mas não tenho o mesmo controle dos banheiros dos postos. Além disso quase nunca temos disponível o álcool em gel. Em relação a minha família, assim que chego em casa tiro os sapatos e já vou direto para o banho”, afirmou.

Eder Oliveira, Igarapé/MG, conta que o medo é grande de ter contato com o virus pela exposição. “As minhas viagens são curtas, Minas Gerais e São Paulo. Então tenho mais contato com a família e por esse motivo estou com medo de contrair o virus e transmitir para eles”, afirmou.

Para Eder muito estão na estrada pois não podem parar, afinal as contas continuam chegando. Mas confessa que a situação está complicada. “Na estrada não tem ninguém. Praticamente só tem caminhão. Mas com isso ficamos sem apoio algum. Não tem restaurante, borracheiro. Algumas entrada de cidades fechada. Sei que é o procedimento correto. Mas fica complicado. Sempre fui contra os motoristas que se colocavam como vitima mas agora realmente a situação está bem complicada. Falta sensibilidade das autoridades”, disse.

gleydsonNa ocasião da reportagem, Gleydson Lamonier Batista de Alencar, de Tabuleiro no Norte/CE, havia carregando em Campinas/SP em direção a São Luis do Maranhão/MA. Na divisa de Goiás com Tocantins, na cidade de Alvorada, tentou parar em várias farmácias para comprar álcool em gel e máscara e não achou.

“Tentei também os mercados, quase todos fechados. Por sorte encontrei um mercadinho para abastecer o caminhão com alguns mantimentos. A coisa está feia. Os comércios de beira de estrada tudo fechado. Restaurante não dá para entrar. Temos que aguardar a marmita do lado de fora a marmita. Oficina mecânica, auto elétrica, loja de peças tudo fechado”, contou.

Glaydson disse que o motorista está sendo considerado um “transmissor do vírus”. Conta que entrou no mercado para fazer a feira e as pessoas pareciam preocupadas e incomodadas com a minha presença. “Fico pensando nos colegas que não tem a caixa cozinha”.

Outro alerta é sobre a falta de fiscalização nas rodovias. “Os postos fiscais deveriam oferecer ponto de apoio para os motoristas. Estamos levando os produtos e ajudando o país mas estamos abandonados”.

luizLuiz Daniel Vilas Boas, Barra Mansa/RJ, chama atenção para uma outra questão que pode atrapalhar a vida dos motoristas. Ele explica que alguns colegas relataram que empresas não deixam carreteiros acima de 60 anos carregarem por fazerem parte do grupo de risco. “Além disso, restaurantes estão fechados e as empresas não estão deixando os caminhoneiros entrarem em suas dependências”, explicou.

 

DanielDaniel Brito, Chã Grande/PE, reforça que com a pandemia os problemas dos motoristas aumentaram. Entre eles dificuldades em passar para viajar pelas estradas. Segundo ele alguns locais estão com restrição. “Um caos total. Ficamos inseguros de não saber quando vamos conseguir chegar em casa. A nossa segurança está muito falha. Transitamos de um lugar para o outro e ninguém se preocupa se estamos bem, se temos mascara, álcool em gel, se comi. E a família em casa, preocupados”, desabafa.

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Daniel mandou uma imagem dos comércios fehcados nos postos ao longo da viagem de Maranhão até Pernambuco.

 

 

 

 

agnaldoO maior medo de Agnaldo Fernandes, São Paulo/SP, é contrair o virus e passar para as outras pessoas. Desde o dia 23 de março ele parou o caminhão para fazer manutenção, arrancou o cambio para revezar e embreagem. “Essa semana vou ficar parado. As contas estão chegando. Sei da importância do meu trabalho para o País. Mas, decidi dar um tempo essa semana para me resguardar e fazer a manutenção. Moro na zona leste de São Paulo e a 5km da minha caso uma pessoa faleceu pelo virus. Eu não quero contrair e muito menos passar para as demais pessoas. Caso precise ficar mais uma semana eu fico. Vou rodar apenas quando as condições estiverem um pouco mais favorável para a categoria”.

franciscoFrancisco de Souza Rezende, de Barra Mansa/RJ, traz uma mensagem positiva aos motoristas. “Sou autônomo, aposentado, mas eu amo a profissão. O meu maior orgulho é de ser caminhoneiro. Conheço muitas pessoas, tenho muitos amigos. Dificuldade todo  mundo tem e todo mundo passa. Já pensou se a vida fosse somente alegria? Ia perder a graça. É bom as dificuldades para a gente superar e aprender”, disse.

 

 

Abcam lista providências para ajudar caminhoneiros 

Em entrevista dada ontem (24/03) ao Canal Rural, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) José da Fonseca, disse que os motoristas de caminhão estão passando necessidades na estrada. Fonseca disse que se reuniu com vários sindicatos da categoria porque algo deve ser feito para melhorar a logística. O dirigente destacou que nada que foi divulgado que seria feito pelo governo para os motoristas está sendo cumprido.

Em sua lista ele inclui liberação dos postos de pedágio e distribuição de máscaras, álcool gel, como havia sido discutido com as concessionárias de rodovias. O dirigente destacou ainda que muitos motoristas que já estão com a caixa cozinha vazia estão enfrentando sérias dificuldades.

Ele se refere principalmente aqueles que estão parados em frente empresas e não podem descarregar porque falta funcionários para receber os produtos transportados. Fonseca disse ter recebido o relato de uma empresa onde 25 motoristas de caminhão não conseguem descarregar porque a metade dos funcionários está parada por conta do COVID-19.

Ainda de acordo com Fonseca, as empresas não estão dando qualquer apoio aos motoristas. Segundo o dirigente, também já falta alimento para motoristas que estão sem pontos de apoio nas estradas. (JG)