Diante das dificuldades para superar a falta de carga e aumento dos custos de operação, se manter no mercado este ano não foi tarefa fácil e exigiu mudança de postura dos motoristas, principalmente dos autônomos.  Além da boa e velha planilha de custos para controlar despesas e negociar melhor os fretes, a busca de novas relações e rotas também fizeram parte do pacote de sobrevivência. No final, apesar de todos entraves para se manter vivo e na atividade, para muitos carreteiros restaram o aprendizado com a crise, como a exigência de organização principalmente, para enfrentar o ano de 2017, o qual não sinaliza ser muito diferente de 2016.

O autônomo Marcio Mohr, 38 anos de idade e 20 de profissão, de Chapecó/SC, viaja atualmente por todo o Brasil, mas antes da crise sua rota era apenas São Paulo. A falta de carga o levou a buscar alternativas e hoje, conforme explica, está mais focado na região Nordeste. Porém, no novo cenário ele disse que permanece muito mais tempo viajando e chega a ficar até mais de dois meses na estrada.  “Antes, não passava de uma semana longe de casa. Além disso os custos subiram muito e meu faturamento caiu mais de 20%. Esse ano é um ano para ser esquecido”, enfatiza.

Márcio Mohr disse que as dificuldades aumentaram sua preocupação com a manutenção do caminhão e a economizar combustível

O carreteiro disse também que a crise aumentou sua atenção com a manutenção do caminhão, para melhorar o consumo de combustível.  Afirma que sempre cuidou bem do veículo, porém agora é fundamental evitar qualquer imprevisto que possa comprometer ainda mais o orçamento. “Hoje, dirigir com economia é questão de sobrevivência”, reconheceu, dizendo que está mais preparado para encarar os desafios que estão por vir.  Para concluir, Marcio Mohr contou que pela primeira vez sofreu um assalto à mão armada, na região de Salinas/MG. “Nunca tinha passado por isso. É nesse momento que percebemos como é grande a falta de segurança nas estradas”, concluiu.

O gaúcho Valdenir Milton Eich Filho, de São Luiz Gonzaga/RS, 38 anos de idade e 20 de profissão, comentou que até agosto desse ano trabalhava comissionado transportando arroz, mas a situação estava ficando cada dia mais difícil. Contou que  houve redução do serviço e também do seu faturamento, mas em setembro conseguiu um trabalho com registro em carteira. “Apesar de não ser ainda o ideal, melhorou minha situação”, reconheceu. Lembra que para sobreviver a este ano cortou todos os gastos possíveis, inclusive com alimentação, passando a levar mantimentos para cozinhar no caminhão e evitar os restaurantes dos postos.

A crise, conforme disse Valdenir Eich Filho, o tirou da zona de conforto e o levou a buscar novas oportunidades na profissão que lhe dessem mais segurança

“Até roupa deixei de comprar. Tenho dois filhos e minhas prioridades são a minha família e conseguir pagar minhas despesas fixas”, afirmou. Valdenir admite que a crise lhe tirou da zona de conforto e o fez buscar novas oportunidades de trabalho que dessem mais segurança. “Sem contar que comecei a colocar tudo no papel e fazer contas”, afirmou. O carreteiro acredita que em 2017 será um ano mais tranquilo para  sua família, já que deixou de depender de comissão. Sua meta é  equilibrar o orçamento para juntar dinheiro e comprar um carro. “Esse é o meu objetivo para o ano que vem”, concluiu.

Há 18 anos na profissão, o também gaúcho de São Borja, Flávio Oliveira, tem 42 anos de idade e perdeu o emprego de motorista quando a empresa onde trabalhava fechou as portas. Comenta que apesar de ter conseguido rapidamente outra colocação seu ganho foi reduzido e não tem plano de saúde. “Agora não tenho condições de contratar outro. Antes ficava uma semana fora de casa e agora são 15 dias. A empresa que a minha esposa trabalhava também fechou. Então foi um ano difícil”, relatou.

Agora coloco tudo no papel e aprendi a economizar. Quem também se organizou e aprendeu a fazer contas vai sobreviver em 2017, opinou Flávio de Oliveira

Diante de tantas situações negativas, 2016 ajudou Flávio a encarar a profissão de uma outra maneira. Ele diz que aprendeu a economizar e agora coloca tudo no papel. “Não como mais em restaurantes de beira de estrada e faço as refeições na caixa. Acredito que quem se organizou e aprendeu a fazer contas vai conseguir sobreviver em 2017, mesmo com as dificuldades que surgirem”, opina.

Falando no próximo ano, ele acredita que a situação deve melhorar um pouco a partir do segundo semestre. Porém, adverte que é preciso ter cautela e se controlar, principalmente no final do ano, quando geralmente o movimento é menor. “A minha meta é juntar dinheiro e contratar um novo plano de saúde para a minha família”, destacou.

O autônomo Mauro Souza da Mata, 30 anos de idade e 10 de profissão, natural de Vitória da Conquista/BA, também confirma que 2016 foi um  ano fraco de frete. Conta que em 2015 uma viagem de São Paulo até Salvador rendia R$ 5.500,00, mas hoje caiu para R$ 4.000,00. “Essa redução prejudicou o meu faturamento, porque os custos para transportar continuaram a subir”, disse. Pelos seus cálculos, a redução foi de 60%.  Ele acrescenta que a situação começou a ficar ruim em outubro de 2015 e foi piorando ao longo de 2016. “Mas, nunca pensei que fosse ter saudade de 2015”, brincou.

Entre outras medidas para se manter na profissão, Mauro da Mata afirmou que procura andar com o caminhão e a documentão em dia para evitar multas

Para se manter no mercado, Mauro procurou algumas alternativas, entre elas tirar o insulfilme dos vidros do caminhão e checar toda a documentação do veículo para evitar multas. Também deixou de fazer refeições em restaurantes e mantém a manutenção do caminhão em dia para evitar imprevistos na estrada. “Sempre me preocupei com esses detalhes, porém esse ano o cuidado foi redobrado, pois qualquer situação fora do planejamento pode me desestabilizar” reconhece, afirmando que hoje não consegue ganhar nem R$ 5.000 por mês. “Sinto que estou andando para traz”, desabafa.

Em sua opinião, ainda existem muitos amadores na profissão aceitando frete de qualquer valor e essa prática prejudica aqueles que sabem negociar. “Acredito que sobrevivi a essa crise porque sou bastante organizado e anoto todas as despesas. Para cada viagem finalizada eu separo um valor referente ao desgaste do caminhão”, explicou. Para 2017, pensa em tomar uma atitude radical caso o mercado não mostre sinais de melhora. “Se nos primeiros meses o movimento continuar fraco, e o frete desvalorizado, vou largar a profissão. Já estou estudando alternativas. Não posso insistir em um negócio que não me proporciona uma margem de lucro”,  finalizou.

Vagner Chukul destaca que  neste ano complicado ele fez bicos para ajudar a pagar contas fixas e reduziu praticamente todos os seus custos

Vagner Robalo Chukul, de São Borja/RS, tem 30 anos de idade e apenas quatro de profissão e viaja para São Paulo, Minas Gerais e países do Mercosul. Ele contou que entre dezembro de 2015 e abril de 2016 ficou parado, pois a empresa onde trabalhava entrou em férias coletivas para tentar ajustar as contas. “Foi um ano complicado. Neste período fiz bicos para ajudar a pagar as contas fixas e reduzi praticamente todos os meus custos”, explicou. Lembrou que em maio conseguiu uma oportunidade de trabalho, mas fica mais tempo longe de casa. “Antes, estava em casa a cada três dias, mas agora permaneço entre 10 e 15 dias longe. É muito difícil”, diz. Com todas as mudanças sofridas em 2016, Vagner afirma ter aprendido a importância de estar com a planilha de custos bem organizada. “Imprevistos sempre podem acontecer e devemos estar preparados para estes momentos. Principalmente no caso dos colegas autônomos”, alerta. Seu o objetivo para 2017 é juntar dinheiro para comprar uma casa própria.

O autônomo Silvoney Gomes, 44 anos de idade e 20 de profissão, de Chapecó/SC, classifica 2016 como um ano “para sobreviver”. Conta que o faturamento caiu cerca de 40% e para se adaptar à nova realidade foi preciso fazer ajustes. “Restaurante? Nossa faz tempo! Agora é só na caixa do caminhão”, disse. Gomes é agregado e como o movimento da empresa para a qual presta serviço caiu, ele foi diretamente afetado.

A redução do movimento de carga na empresa onde é agregado afetou o faturamento de Silvoney Gomes e o levou a fazer ajustes para sobreviver à crise

“Minha vontade é de jogar a toalha. Mas não posso. Então para sobreviver nessa crise passei a controlar melhor os meus custos, a negociar o frete e, principalmente, cuidar bem do caminhão para não ter nenhum imprevisto”, relata.    Sua expectativa para 2017 é boa, pois acredita que depois de fevereiro o mercado vai começar a se recuperar. “Acho que não pode piorar mais. Todos nós aprendemos com as dificuldades. Não está fácil para ninguém. O jeito é equilibrar as contas e seguir lutando”, aconselha.

por Daniela Giopato

Fotos: Alexandre Andrade