Há anos, a falta de motoristas qualificados no mercado é um dos principais problemas das transportadoras brasileiras. No país, o déficit atinge a cifra de 100 mil condutores profissionais, de acordo com as últimas pesquisas feitas pelas entidades Fundação Dom Cabral e NTC & Logística.

O desinteresse dos motoristas pela profissão é crescente e alimentado por todas as circunstâncias que envolvem a carreira: distância da família, baixa remuneração, más condições de trabalho, longas jornadas de serviço e desvalorização da profissão. Diante desse quadro, valorizar esses profissionais é a saída que as empresas têm encontrado para recrutar e reter condutores considerados bem treinados e talentosos.

Em entrevista à TRANSPORTE MUNDIAL, o presidente do Setcesp (Sindicato das Empresas de Carga de São Paulo e Região), Tayguara Helou contou que a entidade possui uma diretoria adjunta de recursos humanos focada no setor de transporte que mantém constantes eventos e reuniões para discutir e aperfeiçoar a gestão de pessoal.

Tayguara

Tayguara Helou, presidente do Setcesp

“Uma transportadora é uma prestadora de serviço, e por mais que ela tenha uma frota nova e bons processos, ao final de tudo, sempre vai depender da qualidade prestada pelos seus colaboradores. Por tanto, ter um departamento de gestão de pessoas é primordial para que a empresa consiga implementar suas estratégias, crescer de forma sustentável e remunerar sua atividade”, explica o executivo.

Felipe Cordenonsi, gerente corporativo de operações da Cordenonsi Gestão de Carga — com sede em Xaxim (SC) e frota de aproximadamente 250 veículos de diferentes fabricantes —, revelou as estratégias de contratação e retenção de motoristas.

Felipe Cordenonsi
Felipe Cordenonsi, gerente corporativo de operações da Cordenonsi Gestão de Carga

“Temos um plano para contratação e retenção de motoristas com equipe de RH dedicada. Oferecemos a eles um plano de carreira. Ou seja, eles sabem, desde o momento em que passam a fazer parte da empresa, o papel que têm em relação aos resultados, e nós oferecemos a eles melhor qualidade de vida e condições de trabalho. Nós trabalhamos com caminhões novos, respeitamos a jornada de trabalho e, por tudo isso, nosso índice de rotatividade está na faixa de 2,5%, considerado muito baixo para uma transportadora.”

Marcos Souza, supervisor administrativo da Gran Cargo, diz que o RH está sempre conectado e engajado com os funcionários, fazendo pesquisas de ‘clima’ e entendendo os sentimentos de cada funcionário para estimular a automotivação. “Com estas ações, conseguimos impactar na retenção e valorização do profissional, desafiando-os sempre na busca de novos conhecimentos, novas tecnologias e valorizando cada vez mais nossa equipe como ser humano.”

Ainda de acordo com o presidente do Setcesp, Tayguara Helou, as empresas que ainda enxergam cursos, remuneração adequada e boas condições de trabalho como custo e não como investimento terão sérios problemas no futuro, pois o motorista não vai ser produtivo.

“As paralisações foram a última gota d’água de um problema que vem ocorrendo há muito tempo. Então a transportadora que não investe no motorista nunca terá um profissional focado na produtividade da atividade e, por consequência, não será lucrativo para ela.”

O presidente do sindicato encerrou a entrevista com uma frase que deveria se tornar um norte para todas as empresas de transporte do país: “As pessoas são os ativos mais importantes das companhias.”