Em um dia de trânsito normal, um motorista de caminhão leva cerca de quatro horas para fazer o trajeto entre os municípios mineiros de Ipatinga e Belo Horizonte, distantes 210 quilômetros. Quando há acidentes, a pista simples fica interrompida por horas, e a viagem pode mais que dobrar, chegando a dez horas. Os engarrafamentos próximos à capital mineira também são rotina em feriados prolongados. Esse trecho da rodovia é considerado o mais perigoso do estado por ser formado por pista simples, com muitas curvas perigosas, alto tráfego de veículos de carga e de passageiros e sem acostamento em vários quilômetros. Essa é a realidade de quem depende, diariamente, da BR-381, rodovia que corta Minas Gerais, e que liga as cidades de Guarulhos (SP) a São Mateus (ES) com seus 1.180 quilômetros de extensão. Se entre Contagem (MG) e São Paulo os motoristas não têm do que reclamar  – via duplicada, concedida à iniciativa privada desde 2007 e em ótimas condições – sobram queixas do intervalo que vai da capital mineira a Governador Valadares. São 309,3 km, com apenas 18,2 km duplicados. De acordo com o professor e pesquisador do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rodrigo Simões, o traçado de Belo Horizonte a Governador Valadares é o mesmo desde a década de 1960, só que hoje conta com tráfego muito mais intenso e maior número de caminhões pesados. “A estrada ruim provoca a redução da produtividade da região metropolitana da capital e também do Vale do Aço. Isso acaba com a competitividade dos produtos, que ficam mais caros, devido ao aumento do frete e dos custos com manutenção”, explica. Quem perde, assim, é a economia da região. Os prejuízos financeiros são enormes para todas as cidades que margeiam a BR-381. “Se houvesse uma melhor infraestrutura, você teria aumento no volume de tráfego, levando mais consumo, aumento de arrecadação das cidades por meio de serviços, restaurantes, hotéis. Os benefícios seriam bastante positivos, com reflexo também na geração de empregos”, garante o engenheiro em trânsito da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende Tarso.A falta de infraestrutura adequada da BR-381 vai além. “Os municípios vizinhos sofrem com as condições da rodovia porque eles dependem da região metropolitana, onde são ofertados serviços de alta complexidade. Ou seja, até a saúde da população piora porque a estrada ruim dificulta o acesso a esse atendimento”, afirma Rodrigo Simões.

Vale do Aço
O setor mais atingido pela precariedade da rodovia é o da siderurgia. As indústrias apresentam dificuldades em ampliar sua produção com o escoamento tão complicado. Assim, os clientes são afetados diretamente. Em Ipatinga, as perdas da indústria do aço são as mais significativas, até porque o município, junto com João Monlevade, é dependente de dois polos de destino de suas cargas: a região metropolitana de Belo Horizonte e o complexo portuário de Vitória, visando as exportações. Para o presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Ipatinga (Sindimiva), Jeferson Coelho, o trajeto que deveria ser feito em pouco mais de duas horas, leva quatro horas e, às vezes, dez horas a caminho da capital, o que representa mais gastos com combustível, manutenção e menos viagens durante um intervalo de tempo. “Além do mais, o acesso difícil impede que um cliente de alguma empresa do Vale do Aço conheça a região, pois ele não quer encarar a BR-381. A alternativa seria vir de avião, mas temos restrições de horário e, em época de inverno, a névoa impede o funcionamento do aeroporto de Ipatinga nas primeiras horas do dia, então o Vale fica praticamente ilhado”, aponta o empresário.

Acidentes
A quantidade de acidentes é outro fator de preocupação. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), apenas entre Belo Horizonte e João Monlevade, são quase 200 curvas, praticamente uma curva a cada 500 metros, o que torna o tráfego no local extremamente perigoso. Para se ter uma ideia, entre janeiro e abril deste ano, 53 pessoas morreram em 615 acidentes entre BH e Governador Valadares. Entre Contagem e São Paulo, um trecho com extensão bem maior (562 km), porém, concedido, foram mais acidentes: 2.456, mas com um número proporcionalmente muito inferior de vítimas fatais (32). “O índice de acidentes na BR-381, em termos de volume de tráfego com vítimas fatais, tanto para caminhoneiros como para veículos de passeio, é o maior do Brasil, o que justifica o nome de “Rodovia da Morte”, afirma Paulo Resende.

Fonte: Agência CNT