O primeiro bimestre de 2017 foi marcado por mais uma queda no mercado de caminhões, com resultado que frustrou as expectativas de quem esperava uma possível retomada da economia no início do ano. De acordo com a carta de março da Associação Nacional dos Fabricantes dos Veículos Automotores (Anfavea), nos dois primeiros meses do ano foram licenciadas 5.559 unidades, 32,8% menos que as 8.267 emplacadas no mesmo periodo de 2016.
Apesar dos números baixos, executivos das principais montadoras acreditam que a economia brasileira já mostra sinais de recuperação. A expectativa é de que o segmento comece a melhorar a partir do segundo semestre e termine 2017 com crescimento de até 10% em relação aos resultados desastrosos de 2016.
Porém, o momento ainda é difícil, conforme destacou o diretor de vendas de caminhões da Scania no Brasil, Victor Carvalho. “2017 continua sendo um período desafiador”, afirmou, lembrando que nos últimos três anos os volumes caíram a níveis muito abaixo do esperado. O executivo reforça que o mercado de veículos comerciais é exatamente um espelho da economia e que o País parou de crescer e entrou em recessão. “O reflexo é o mais fiel possível”, acrescentou.
Contudo, Carvalho garante que para 2017 a empresa já consegue enxergar “uma luz no fim do túnel”, especialmente no segundo semestre. Ele justifica que, aos poucos, o cliente já está retomando a confiança em voltar a investir. “Imaginamos que a economia voltará a dar sinais de reação e estamos nos preparando. A boa safra tem tudo para ser uma válvula propulsora para o mercado”, avaliou.
Em sua opinião, outros segmentos que deverão puxar o mercado de caminhões pesados são os de cana, madeira, alimentício (frigorificadas) e o químico. Entre os semipesados, ele destaca o transporte de combustíveis, bebidas e hortifrúti. “Temos uma expectativa de crescimento de 10% a 15% no mercado acima de 16 toneladas, do qual participamos com linhas semipesadas e pesadas”, lembrou.
O executivo ressalta que transporte está pasando por mudanças e o transportador estará cada vez mais criterioso na hora de comprar uma solução de transporte. “Não olhará apenas o caminhão. Por isso, vamos continuar apresentando soluções que aumentem a rentabilidade e a disponibilidade das frotas”, finalizou.
Ricardo Barion, diretor de Marketing da Iveco na América Latina, lembrou que fatores como quedas da taxa de juros e da inflação mostram que a retomada da economia já começou. Acrescentou que tudo indica que os volumes de vendas vão crescer ao longo do ano, mas não deixou de citar a dificuldade que a crise está impondo a todas as montadoras. “No caso da Iveco, já estamos preparados para a retomada do mercado. Fizemos ajustes pontuais na rede de concessionários, investimentos no complexo industrial de Sete Lagoas/MG – inclusive no Campo de Provas -, e apresentamos ao mercado novos produtos, com foco na eficiência operacional”, relacionou.
Barion acrescenta que o segmento de pesados pode trazer boas notícias para a indústria, porque a aquisição desse tipo de veículo foi postergada pelo autônomo e pelo transportador, o que criou uma demanda represada.
Outro ponto importante ressaltado por ele seria o início de um programa bem elaborado para a renovação da atual frota de caminhões, com foco no acesso ao crédito por parte dos autônomos. Entre os impactos positivos para uma ação deste tipo, Barion cita questões ambientais (em virtude da legislação de emissões), segurança no trânsito e até mesmo a melhoria no tráfego urbano. “Se o programa de renovação de frota saísse do papel, a perspectiva é que seria muito benéfico ao setor”, concluiu.
Na visão de Antonio Cammarosano, diretor de vendas de caminhões – mercado nacional, da MAN Latin America, alguns setores já apresentam melhoras. É o caso do agronegócio, que este ano comemora safra recorde. “Os clientes ligados a esse setor estão voltando a comprar. Afinal, a safra precisa ser escoada e nesse caso, os caminhões pesados se destacam e já representam 30% do mercado”, lembrou.
Cammarosano acrescenta que a recuperação do mercado virá, porém vai ser difícil suprir a queda do primeiro bimestre. Ele explicou que diante da crise certos setores e produtos passaram a ter maior destaque dentro dos negócios da MAN. “Os seminovos, por exemplo, representavam entre 2 e 3% em relação ao de novos. Hoje já se fala em 7%. O leasing operacional é outro produto que também cresceu”, disse.
A prestação de serviços também ganhou importância para fidelizar o cliente. Hoje, 15% dos caminhões são vendidos com contratação de manutenção. “O comportamento de compra mudou. O cliente tem tempo para negociar e optar pelas melhores propostas e as exigências aumentaram”, acrescentou.
Na Mercedes-Benz, os caminhões seminovos também tiveram destaque, conforme explicou Ari de Carvalho, diretor de vendas e marketing caminhões. Segundo ele, em 2015 as vendas de 358 caminhões novos tiveram intermediação da SelecTruck (loja especializada em seminovos). Já no ano passado foram 873 unidades, mais que o dobro em relação a 2015. “Percebemos que essa tendência continuará em 2017 e estamos prontos para atender este mercado”, garantiu.
Em relação ao mercado de caminhões em 2017, Ari Carvalho fala em perspectiva de melhora a partir do segundo semestre. Na sua opinião há também uma demanda reprimida, porque não houve renovação de frota. “Os dois primeiros meses deste ano foram muito ruins, pois existia insegurança de como a economia iria se comportar. Mas, os economistas dizem que a recessão acabou e isso é um fator positivo”, diz.
Sua expectativa é de crescimento entre 6 e 10%, com a ressalva de que a concretização depende de fatores como inflação baixa, crescimento do PIB para aquecer o varejo, e redução da taxa de juros para possibilitar financiamentos. Ele lembra o lado positivo da safra recorde de grãos, as boas expectativas para o milho e a cana-de-açúcar que deverão aquecer o segmento de caminhões off road.
O diretor de caminhões Volvo do Brasil, Bernardo Fedalto, também acredita que o mercado de caminhões deverá se recuperar ao longo do de 2017. Ele acrescenta que no segundo semestre o desempenho deverá ser melhor e deverá compensar o resultado ruim registrado no começo do ano. Fedalto diz que o mercado poderá atingir um resultando que deve estar entre uma estabilidade com crescimento de até 10%.
Em sua opinião, neste ano os segmentos ligados ao agronegócio terão um desempenho melhor em relação aos demais. Já em relação ao setor industrial, Fedalto acredita que também deverá haver uma recuperação, porém, mais para o segundo semestre. “A Volvo está preparada para a situação que o mercado de caminhões vive hoje. Ajustamos a empresa ao tamanho do mercado e a deixamos preparada para o crescimento, no caso de uma reação”, afirmou.
O executivo da Volvo destacou também que neste período de baixa que o País está atravessando, o pós-venda tem contribuido muito, tanto no âmbito de peças e serviços, quanto também na prestação de serviços e consultoria, ajudando a manter a estabilidade das concessionárias da marca. “Houve uma mudança de característica de mercado.
Em relação aos planos de manutenção, Fedalto disse que ninguém acreditava que deveria pagar um custo fixo por algo que eventualmente poderia vir a acontecer. “Hoje, o transportador quer um “plano de saúde” para o seu veículo e por conta disso, 50% dos nossos caminhões vendidos carregam algum tipo de plano de manutenção. Otimista, ele acrecenta que o número de contratos deverá crescer este ano.
O gerente de estratégia de marketing da Ford Caminhões, Flávio Costa, acredita em melhora a partir do segundo semestre, período em que ele enxerga indicadores de recuperação da economia. “Temos consciência de que os efeitos do crescimento levam tempo para passar por todas as cadeias produtivas até chegar em nosso segmento”, afirmou.
Em relação aos resultados pouco animadores registrados no primeiro bimestre de 2017, Flávio Costa lembra que no mercado de caminhões não é possível mensurar logo no início do ano qual a previsão para todo o período. “O reflexo do aumento dos emplacamentos só começa a ser percebido a partir do fim do primeiro trimestre. Leva-se em conta também que boa parte dos resultados de janeiro ainda é referente a faturamentos ocorridos no último trimestre de 2016”, explicou.
Costa acredita que com a recuperação das atividades industriais, o retorno dos investimentos, mais a manutenção do crescimento expressivo do agronegócio, caminhões dos modelos leves aos extrapesados terão um papel muito importante nos resultados da indústria.
Para Luis Gambim, diretor comercial da DAF Caminhões Brasil, era esperado que o início deste ano repetisse a performance de 2016. No entanto, ele afirma que a empresa s encontra bastante otimista quanto à mudança de cenário a partir do segundo trimestre deste ano. “Esperamos uma retomada de confiança do consumidor e, com isso, um aumento gradativo do mercado”, disse Gambim, acrecentando que essa reação afetará todos os segmentos. No entanto, ressalta, os pesados – que sofreram a maior retração da história – deverão apresentar crescimento entre 15% a 20% em comparação a 2016. “Mas isso deverá ser a partir do segundo trimestre”, disse.
Gambim acrescenta que apesar do momento econômico delicado, a trajetória da DAF tem sido de crescimento, na contramão do que vem acontecendo no mercado. Ele lembra que a empresa encerrou 2016 com 51,9% a mais no volume de vendas em relação ao ano anterior. “E para 2017, nossa previsão é ambiciosa e esperamos alcançar 7% de participação no segmento de pesados”, concluiu.