Quando a primeira edição da revista O Carreteiro começou a circular – em julho de 1970 -, maior parte da população brasileira vivia grande euforia pela conquista do tricampeonato mundial de futebol. A seleção, tida então como “canarinho”, havia conquistado o título ao vencer a Itália por 4X1 em partida final da Copa do Mundo disputada no México. Nas estradas, entretanto, a empolgação dos motoristas de caminhão com a profissão não tinha a mesma dimensão dos torcedores.
Apesar de o motorista ser visto ainda como herói da estrada, havia na ocasião muita reclamação em relação aos valores recebidos pelo frete. Por conta da situação à época, o editorial da edição de estreia da publicação tratava do assunto e citava que tais queixas não iam além dos pequenos grupos reunidos em postos de serviço ou nos balcões de transportadoras.
Na ocasião, a frota de caminhões, também chamados de “brutos”, beirava 640 mil veículos, segundo registros. Os modelos montados no País eram das marcas Mercedes-Benz, Scania, FNM, Chevrolet e Dodge 400 e 700, produzidos pela Chrysler com motor a gasolina. Os caminhões eram menores, pouco confortáveis e tinham velocidade média mais baixa que os modelos atuais.
Também transportavam menos carga por estradas sem pedágio e menos seguras. Aliás, o cinto de segurança também não era exigência, assim como qualquer curso do motorista além de ele saber dirigir os caminhões da época. Não havia escola de motorista de caminhão, o aprendizado da profissão geralmente era com o pai, parente próximo, amigo ou na “raça” e, além disso, a categoria não contava com associações ou entidades de classe para atender suas reivindicações.
Pode-se dizer que este era o ambiente do transporte rodoviário de cargas no Brasil, ou parte dele, no início da década de 1970. Porém, uma coisa parece não ter mudado: ironicamente, assim como hoje, o valor do frete, era a principal pedra no sapato do carreteiro. “Tudo sobe. O combustível, o lubrificante, os pneus. Só frete é que aumenta muito devagar e, de vez em quando, baixa. Dizem que existe uma tabela, mas ninguém cumpre…” acrescentava um trecho do primeiro editorial da revista. Com a chegada da publicação às estradas, os motoristas passaram a contar com um veículo que levava a público suas reivindicações e os problemas enfrentados no dia a dia.
As mudanças com o passar dos anos incluíram a saída do mercado brasileiro das fabricantes de caminhões Chevrolet e Dodge, porém, outras vieram e o transporte rodoviário de carga se transformou completamente.
por João Geraldo