Qual é a melhor opção? Para alguns, ser autônomo, para outros, empregado. A opinião tem muito do conjunto de benefícios e dificuldades de cada um. Como ocorre em muitas outras profissões, existem os extremos: autônomos com bons caminhões e bons fretes. Por outro lado há também aqueles que enfrentam pesadas dificuldades para se manterem em atividade e mal conseguem trocar de caminhão, formando inclusive o grupo maior.

A busca por liberdade somada à paixão por caminhão têm sido há décadas as maiores responsáveis por grande contingente de carreteiros que se encontra em atividade, gostando ou não de como anda a profissão. Existem também, em menor quantidade, aqueles que por falta de opções viram na profissão uma forma de sobrevivência no mercado de trabalho, mas o fato é que a maioria gosta do que faz, entretanto não falta reclamação, especialmente por parte dos autônomos, profissionais que mais sofrem com os principais problemas da profissão.

Para os motoristas em atividade, valores do frete não atendem (a primeira edição da revista O Carreteiro, em julho de 1970, já citava essa questão), preço do diesel, falta de infraestrutura nas estradas e falta de respeito profissional, são velhos e conhecidos problemas existentes nas profissão. No entanto, 94% dos estradeiros são categóricos em afirmar afirmar que o pior da profissão é a insegurança das rodovias, conforme apontou pesquisa realizada no início desse ano pela KS Cia da Informação.

Mesmo assim a profissão atrai e muita gente que planeja nela entrar questiona que opção escolher, se autônomo ou trabalhar como empregado. Porém cabe dizer que em ambas as posições existem profissionais mudando de lado ou querendo fazê-lo, embora não faltem autônomos afirmando que caminhão é para quem tem peito, em outras palavras, para quem tem coragem. Ainda de acordo com a pesquisa acima citada, 71% dos autônomos têm o caminhão quitado; 27% pagando financiamento e 3% utilizam caminhões arrendados.

Na opinião do mineiro de Palma, Ivan Luiz dos Santos, 31 anos de idade e sete de estrada, é melhor dirigir caminhão de empresa. Disse que escolheu essa atividade porque ama a estrada e complementou que, caso quisesse, poderia ter estudado, porque seu pai tinha condições de bancar, mas escolheu ser motorista por gostar da estrada. “Meu pai é carreteiro, esse era meu sonho desde criança. Amo o que faço”, complementou. Uma de suas queixas são os valores cobrados em certos locais para o motorista tomar banho e pernoitar.

Ivan Luiz dos Santos
As tecnologias mexeram com o segmento, hoje o horário é apertado tanto para o autônomo quanto para o empregado, disse Ivan Luiz, que dirige caminhão de empresa

Dizer que a profissão tem o mesmo espírito de décadas atrás é arriscado, porque as novas tecnologias incorporadas ao transporte rodoviário de carga mexeram bastante com o segmento. Autônomo ou não, o motorista passou a ter horários mais apertados para entregar a carga, a velocidade do caminhão é mais controlada, tanto pelos radares quanto pelo sistema de rastreamento, e em muitos casos até a postura do motorista ganhou relevância.

Os caminhões são mais seguros e confortáveis, mas as estradas com pouca infraestrutura oferecem pouca segurança e sobram reclamações sobre a falta de respeito e de reconhecimento da profissão, muito menos dos profissionais que dela vivem. Mesmo assim, muita gente da ativa afirma que não trabalharia em outra profissão, como é o caso de Ronildo Vicente da Silva, mineiro de Bom Despacho. Assim como seu conterrâneo Ivan Luiz, afirma que escolheu a profissão porque era seu sonho desde criança. “Sempre admirei as grandes cargas, cruzar marchas e o talento para descer uma serra com caminhão”, justifica.

Ronildo
Ronildo Vicente disse que concluiu o ensino médio e fez cursos de vigilante e escolta armada, mas afirmou que não trabalharia em outra profissão

Silva revelou que estudou até concluir o ensino médio, além de ter feito também cursos de vigilante e de escolta armada, mas garante que a sua paixão verdadeira é dirigir caminhão. Acrescenta que tirando a falta de respeito com a categoria, a ausência de infraestrutura que tornaram as rodovias precárias o baixo valor do frete e a manutenção cara do caminhão, seria muito melhor viver da profissão, porque hoje ninguém trabalha com caminhão se não for por amor. Há 10 anos na profissão, ele também é adepto da ideia de que hoje em dia é melhor ser motorista empregado.

A maior dificuldade para atuar como autônomo é ter um caminhão em bom estado ao ponto de não dar tanto problema e despesas que consumam com manutenção boa parte do valor que o profissional venha conseguir faturar. São recorrentes os casos de motoristas que se veem envolvidos em dívidas por esse tipo ocorrência, sem contar discriminação para conseguir carga dependendo da idade e estado que o veículo se encontra.

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Trabalhar como autônomo tem suas vantagens, mas enquanto a situação não melhorar é melhor ser motorista empregado, opinou Mário Sérgio Portela

Embora o salário de motorista empregado tenha deixado de ser atraente, a saída de muito autônomo tem sido vender o caminhão e ir trabalhar como empregado, analisou Mário Sérgio Portela, 42 anos de idade, de Campo Grande/PR. Há 10 anos na profissão, ele disse que gosta de ganhar para viajar, dirigindo por estradas do Brasil ou de países do Mercosul, as quais percorre há três anos. Acha que trabalhar como autônomo tem vantagens, mas defende que enquanto a tabela de frete não atender é melhor ser empregado. “Com tantas dificuldades na profissão, ser motorista já é um privilégio”, concluiu.

De motorista de empilhadeira a caminhoneiro empregado. Assim foi a troca de atividade do paulista de Eldorado, Daniel Gonsalves Rodrigues, 35 anos de idade, 10 anos atrás. “Há uns 30 anos meu irmão trabalhava com caminhão, então, inspirado por ele sempre tive vontade de dirigir caminhão. Com dificuldade e perseverança consegui chegar na profissão”. Lembrou que no período que trabalhou como operador de empilhadeira, na área de logística, se imaginava viajando ao volante de um caminhão.

Daniel Gonsalves Rodrigues
Ex-operador de empilhadeira, Daniel Rodrigues sonhava ser motorista de caminhão, o que diz ter conseguido
com muito esforço e perseverança

Motorista empregado, ele garantiu que só voltaria a trabalhar com empilhadeira por um salário muito bom, porque o que ele gosta mesmo é de ser motorista de caminhão. Sua paixão pela profissão supera as dificuldades enfrentadas na sua rotina, tais como falta de local adequado para aguardar a carga e descarga e não poder pernoitar em postos de serviço sem pagar se não abastecer o caminhão, entre outros pontos.

Bruno Silva dos Santos
Motorista que dirige o caminhão de empresa também enfrenta problemas com esperas, comentou Bruno Silva, que transporta conteineres no Porto de Santos

Motoristas que não dirigem o próprio caminhão também enfrentam problemas com espera, como lembra o paulista de Guarujá, Bruno Silva dos Santos, 34 anos de idade e há apenas um ano na profissão. Ele carrega contêineres no Porto de Santos/SP e finaliza dizendo que no seu caso também existe esperas para entrar no porto demora também para descarregar no destino da mercadoria.