Por Alfred Szwarc

A polêmica que envolve o uso do ARLA 32 nos caminhões da fase P7 do PROCONVE (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) mostra que a questão da poluição do ar ainda não está suficientemente esclarecida para muita gente do setor de transporte de cargas. Com o objetivo de ajudar o transportador a compreender os problemas que a poluição do ar traz para a saúde da população e para o meio ambiente, estamos iniciando uma série de artigos mensais que ajudarão os leitores do Portal “O Carreteiro” a descobrirem como podem ajudar a preservar o meio ambiente. Neste primeiro artigo vamos falar sobre a poluição do ar. O leitor verá que o assunto é muito importante e deve ser levado a sério.

De maneira geral pode-se dizer que o ser humano consegue sobreviver cerca de três semanas sem comer nada, até cinco dias sem beber nada, mas apenas alguns minutos sem respirar.  Embora o ato de respirar seja essencial para a vida, normalmente não prestamos atenção na sua existência pelo fato de ocorrer independentemente de nossa vontade. Além do mais, o ar existe em qualquer lugar na superfície da Terra e, como não pagamos nada por ele, diferentemente do que acontece com a comida e com a água, não lhe damos o devido valor. Se não gostamos da comida ou da água por conta de sabor ou odor desagradável, ou porque podem fazer mal à saúde, por que devemos tolerar ar de má qualidade?

O ar que respiramos é uma mistura de gases (principalmente nitrogênio e oxigênio) e vapor de água. Embora a sua composição possa variar dependendo do local, humidade, altitude, clima, etc., o ar mantém relativamente constante as suas características básicas que definem a sua qualidade. Sempre que estamos em lugares onde o ar é puro, o ato de respirar nos dá prazer e estabelecemos uma relação entre a qualidade do ar e bem estar. Por outro lado, quando estamos em locais onde os olhos e a garganta ardem ou o cheiro é desagradável, a reação natural é querer sair desse local o mais rápido possível. Substâncias perigosas para a saúde, que chamamos de poluentes, contaminam o ar e, se respiradas continuamente por longos períodos, podem causar doenças e roubar preciosos anos de vida. Essas substâncias são principalmente originadas por atividades humanas (indústrias, transportes, serviços etc.), embora também possam ter origem natural como, por exemplo, incêndios de florestas e matas causados por raios.

No caso do transporte rodoviário de carga, os poluentes são gerados principalmente pela queima do óleo diesel no motor. Embora sejam produzidos diversos poluentes, os mais importantes nesse caso são as partículas que formam a conhecida “fumaça preta” e os óxidos de nitrogênio (NOx). Essas partículas têm um diâmetro menor que o fio de um cabelo. Por serem tão pequenas podem permanecer por semanas flutuando no ar e, sem percebermos, penetrar facilmente em nosso organismo pelo nariz e boca quando respiramos, atingindo as regiões mais profundas dos pulmões. A Organização Mundial da Saúde classifica essas partículas como “Cancerígenas de Grau 1”, ou seja, a sua presença em nosso organismo pode efetivamente contribuir para a ocorrência do câncer. Essas partículas podem, também, ser causa de insuficiência respiratória e, consequentemente, provocar doenças do coração. Ataques de asma, bronquite, rinite e tosse também podem ser causados pela presença dessas partículas no ar.

Os NOx são um conjunto de poluentes altamente irritantes que causam desconforto respiratório e podem prejudicar ao longo do tempo as funções pulmonares, causando bronquite crônica, enfisema e aumentando o risco de outras doenças respiratórias. Os NOx reagem com outros poluentes no ar, como os vapores dos combustíveis, e formam poluentes agressivos como o ozônio, que também é um potente irritante das vias respiratórias e dos olhos e origem de várias doenças respiratórias.

Mas não é somente a saúde das pessoas que é afetada pelos poluentes mencionados. Os animais também sofrem, o crescimento e a beleza das plantas são afetados e a visibilidade da atmosfera é diminuída. Os materiais são também atacados pelos poluentes, tendo a sua vida reduzida: imóveis localizados em regiões muito poluídas têm menor valor que em outras regiões. Como podemos imaginar, a presença de milhões de caminhões nas vias públicas e rodovias do país, embora necessária para o transporte da produção, resulta em elevados custos para a sociedade, que atingem milhões de reais, fato comprovado por diversos estudos. Entretanto, esses impactos negativos podem ser evitados ou reduzidos significativamente por meio de programas de controle da poluição do ar como o PROCONVE. Seus objetivos principais são reduzir a poluição do ar aos níveis estabelecidos na legislação e considerados adequados para a população e o meio ambiente, e prevenir a degradação da qualidade do ar onde a poluição ainda não existe ou é muito pequena. Para tanto é necessário usar combustíveis mais limpos, como o óleo diesel S10, desenvolvido para gerar menos poluentes e viabilizar o uso de veículos modernos, equipados com sistemas avançados de pós-tratamento dos gases do motor. O sistema SCR, que opera com ARLA 32, é considerado em todo o mundo a tecnologia mais eficaz para a redução dos NOx em veículos diesel, com capacidade de reduzir a emissão em cerca de 90%. Mas tudo isso não será suficiente se os sistemas de controle de poluição não estiverem operando corretamente e o veículo não receber periodicamente os cuidados de manutenção recomendados pelo fabricante. Veículos mal mantidos apresentam aumento substancial na emissão de poluentes e no consumo de combustível, resultando em prejuízo para sociedade e para o proprietário do veículo. Outro item importante é a retirada de circulação de veículos antigos e em condições precárias de operação e manutenção, que apresentam elevados níveis de emissão de poluentes.

Concluindo, fica claro que a poluição do ar deve ser combatida por todos, inclusive pelos transportadores de carga, que têm a responsabilidade em utilizar e manter corretamente seus veículos, para que tenhamos a menor emissão possível de poluentes. A poluição do ar ataca de forma silenciosa e traiçoeira, podendo afetar a saúde do próprio transportador ou de seus familiares. Esse, certamente, é um bom motivo para tratar a questão com seriedade, afinal, a poluição do ar não é brincadeira.

(*) O autor é engenheiro mecânico, especialista em controle da poluição causada por veículos automotores, um dos idealizadores do PROCONVE e consultor técnico da AFEEVAS – Associação dos Fabricantes de Equipamentos de Controle de Emissões de Poluentes da América do Sul.