Por João Geraldo
Quando se fala da evolução da indústria de caminhões no Brasil, são ricos e fartos os relatos sobre fatos marcantes e tomadas de decisões de grande importância que contribuíram para mudar os rumos do setor de transporte rodoviário de cargas. Uma delas refere-se à instalação da fábrica de cabines do FH dentro da fábrica da Volvo em Curitiba/PR. Em outubro passado, a unidade que em 1997 inaugurou a produção do modelo da marca com cabine avançada no Brasil, completou 20 anos de operação.
Quando começou a ser produzida, a frota brasileira de caminhões se encontrava ainda em transição das cabines bicudas (com capô) para as avançadas (cara-chata). Essa troca de padrão aconteceu em razão de melhor aproveitamento do veículo, pois posicionada sobre o motor, este tipo de equipamento permite ganho na plataforma de carga.
A história da fábrica de cabine da linha F começou em 1993, quando a maior parte frota brasileira de caminhões era ainda de modelos bicudos. Com a abertura das importações a Volvo anunciou, de modo pioneiro, que começaria a importar da Suécia o caminhão FH12. Isso significava o primeiro produto da marca no Brasil com cabine avançada. Na ocasião, o veículo já era bem aceito pelos transportadores europeus.
Aqui no Brasil, a Volvo produzia caminhões desde 1980 equipados com a cabine N, um projeto de 1940 que vinha recebendo melhorias através dos anos. Feita pela Brasinca, empresa na época instalada em São Paulo, essa cabine bicuda tinha todo o fechamento, ajustes de porta, pintura e outros detalhes de acabamento feitos na antiga instalação de pinturas da Volvo, em área dentro da fábrica.
O atual diretor de manufatura da fabricante de caminhões no Brasil, Cyro Martins, que na época ocupava o cargo de gerente de produção, recorda que quando o FH chegou no Brasil houve grande expectativa para saber qual seria a reação do mercado com o veículo, que havia passado por adaptações para rodar no Brasil. “Para nossa surpresa, o modelo foi muito bem aceito e na mesma época começamos a fazer estudos para fabricar a cabine F no Brasil”, recordou o executivo.
Para isso era preciso ter uma fábrica, a qual, segundo Martins, a construção começou da estaca zero e foi inaugurada exatamente três anos depois. Nesse período, a engenharia da Volvo já iniciava a montagem das primeiras unidades para começar a andar com a próprias pernas. A produção da cabine do FH no Brasil trazia junto a estratégia da companhia de entrar no mercado global, com a possibilidade de utilizar a unidade como polo de produção e exportação.
Quando a Volvo inaugurou a fábrica de cabines, após ter investido cerca de 50 milhões de dólares, o caminhão FH já estava consolidado no mercado brasileiro. O fato era que a unidade fazia parte de um projeto maior de expansão industrial da empresa na America Latina, a qual exigiu naquele tempo investimento de 400 mil dólares, o maior já afeito até pela empresa no Brasil desde a sua inauguração.
Mesmo sendo um produto importado, a rede de concessionários se encontrava preparada para dar atendimento, conforme lembrou Martins.
Com a nacionalização dos caminhões FH12, que passaram a ser produzidos no Brasil em 1998, marcou uma nova fase na história da empresa. Porém, a companhia manteve o modelo bicudo em produção. “Lembro que houve um impasse se o caminhão com a cabine N deveria sair de produção. O EDC (Electronic Diesel Control) lançado em 1996, em três faixas de potência: 320, 360 e 410 CV, foi o primeiro caminhão no Brasil a ter injeção eletrônica e foi produzido até o final de 1999”, acrescentou Martins.
Quando o EDC saiu de linha, em 1999, a Volvo não ficou sem ter um modelo narigudo, porque o modelo acabou substituído pelo NH12, versão com capô do FH12. O lançamento completou a atualização da linha de produtos iniciada um ano antes. Os modelos da “linha H” foram os primeiros a ter computador de bordo, com uma tela que informava ao motorista todos os dados sobre o veículo
Cyro Martins destaca que hoje o processo de produção de cabines na fábrica de Curitiba é o mesmo da Europa. Segundo ele, a diferença fica por conta da automação, devido o maior volume de produção no exterior, mas garante que o nível de tecnologia é a mesmo. Ele acrescentou que a Volvo do Brasil tem como prática enviar técnicos e engenheiros para passar um tempo na Suécia, Rússia, Estados Unidos e Austrália, para dar suporte às equipes desses países.
“Quando o brasileiro aprende, ele realmente assimila e consegue passar o conhecimento para a frente. Esses profissionais participam de grupos maiores fora do Brasil contribuem falando das experiências boas e negativas que podem acrescentar alguma contribuição aos novos projetos”, explicou.
Atualmente, a capacidade de produção de cabines em Curitiba é de 30 mil unidades/ano, são 20 mil da linha F (FH e FM) e 10 mil para a linha VM. As cabines produzidas na unidade Curitiba/PR são exportadas para Europa e Austrália, país onde Volvo produz aproximadamente duas mil unidades/ano, incluindo modelos da Mack, estes com cabines bicudas.
Edição comemorativa global do FH
Para celebrar os 25 anos da introdução do Volvo FH no mercado – o modelo foi lançado em 1993 -, a Volvo apresenta uma versão comemorativa de aniversário. E o mercado brasileiro também será contemplado.
De acordo com a fabricante sueca, o caminhão terá design e itens de conforto exclusivos. Moderna e retrô, nas palavras da fabricante, a versão comemorativa conta com destaques decorativos em prata, cinza e laranja, para reforçar a origem do caminhão. Faixas formam o número 25 para sinalizar o aniversário, que combinam efeitos 3D com sombras, numa referência à tendência do design do início dos anos 1990.
A cor escolhida para a Série Especial é o Vermelho Perolizado, um tributo à cor original da cabine de 1993.
“A edição comemorativa é, ao mesmo tempo, um tributo aos primeiros 25 anos e também mais um ponto na jornada contínua para o sucesso de nossos clientes”, afirma Claes Nilsson, Presidente da Volvo Trucks.
A edição comemorativa chega ao mercado europeu no segundo semestre, em quantidade limitada. No Brasil, a previsão de chegada do modelo é no final do ano.