FALTA DE PONTOS DE PARADA

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A falta de pontos de parada e de infraestrutura para atender os motoristas também desestimula o ingresso de novos profissionais na atividade

Uma das principais reclamações dos motoristas de caminhão é a falta de um ponto de apoio com infraestrutura adequada nas estradas. Com a lei do tempo de direção, o motorista é obrigado a fazer paradas programadas. Porém, a realidade das estradas se impõe sem infraestrutura adequada e sob esse aspecto a Lei não tem como ser cumprida. Os motoristas dizem que no Brasil não tem ponto de apoio para o caminhoneiro, somente se abastecer.

Sem os tais pontos de parada, o motorista não consegue descansar por 30 minutos após dirigir até cinco horas e meia; nem passar a noite e cumprir o período de até 11 horas contínuas de repouso, conforme prevê a lei. Locais seguros normalmente são os postos de combustível, mas por serem estabelecimentos particulares, muitos condicionam a parada para pernoite com o abastecimento do caminhão. Sem opção os motoristas são obrigados a continuar na estrada, mesmo cansado e correndo o risco de provocar um acidente motivado pela fadiga ou parar em algum ponto na beira de estrada, sem qualquer segurança.

ROUBO DE CARGA

IMG 5221O roubo de carga continua entre os assuntos mais comentados entre os motoristas de caminhão. A insegurança na estrada é cada vez maior, e é frequente depoimentos de carreteiros que ficaram nas mãos de criminosos e tiveram suas cargas furtadas. Para o Cel. Paulo Roberto de Souza, assessor de segurança da NTC&Logística a falta de uma legislação mais específica para punir receptadores é um dos principais fatores que contribuem para altos índices de roubos de cargas registrados anualmente no Brasil.

“Na maioria dos casos o criminoso não é pego em flagrante o que reduz a pena de um a quatro anos de reclusão. Porém em maio de 2011 a Lei 12.403 modificou o código penal e todos os crimes com pena de até quatro anos são considerados de menor potencial e, portanto, o indivíduo apenas paga uma fiança e aguarda o julgamento em casa. A impunidade contribui para o aumento deste tipo de ocorrência na estrada”, ressalta o coronel. O coronel alerta os motoristas sobre a importância de seguirem a risca o plano de gerenciamento de risco adotado pela a empresa a qual está prestando serviço.

DIESEL X VALOR DO FRETE

abastecendo dieselO diesel ainda é o principal insumo para os motoristas de caminhão, chegando a representar até 40% da planilha de custos. Nos últimos dois anos, com a economia estagnada, houve uma redução drástica na oferta de carga a ser transportada e desvalorização do valor do frete. Em contrapartida, o combustível e outros custos aumentaram significativamente, fazendo com que a conta do carreteiro começasse a não fechar.

O engenheiro Antônio Lauro Valdivia Neto, especialista em transporte e assessor da NTC & Logística, concorda que com a crise estabelecida a pressão seja grande para aceitar qualquer valor de frete, principalmente para os motoristas de caminhão, que estão com dívidas e pressionados pelo vencimento das parcelas.  As pesquisas da NTC apontam uma defasagem no frete cobrado da ordem de 30 a 35% se considerarmos os impostos devidos e uma margem de lucro razoável. Para Valdívia, existe uma necessidade urgente de aumento do frete. “O percentual de 4% é muito pouco para atender as necessidades do setor (cuja defasagem está em 30%)”, justifica.

ESTRADAS

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Estradas do Centro Oeste são antigas e alguns trechos precisam de obras de recuperação

A falta de infraestrutura viária é apontada como um dos principais entraves do setor do transporte rodoviário de carga no Brasil. Insuficiência de estradas, sinalização precária e asfalto malconservado – além de pistas simples com mão dupla de direção – é uma realidade bastante conhecida pelo setor, assim como suas consequências, cuja relação inclui aumento de custos com o combustível, manutenção do caminhão e maior tempo de viagem, além da redução da segurança.

A CNT (Confederação Nacional do Transporte) divulgou o estudo Transporte Rodoviário – Desempenho do Setor, Infraestrutura e Investimentos. O estudo avalia a evolução da qualidade da infraestrutura, os investimentos no setor entre 2004 e 2016 e propõe ações para solucionar os entraves identificados. Na análise, o estado geral das rodovias públicas federais melhorou 24,0 pontos percentuais, passando de 18,7% com classificação ótimo ou bom, em 2004, para 42,7%, em 2016.

Apesar da evolução da qualidade, 57,3% das rodovias públicas avaliadas ainda apresentam condição inadequada ao tráfego. Em 2016, cerca de 31 mil quilômetros ainda apresentavam deficiências no pavimento, na sinalização e na geometria.

Esses problemas aumentam o custo operacional do transporte, comprometem a segurança nas rodovias e causam impactos negativos ao meio ambiente. Nos 13 anos analisados, é possível perceber uma relação direta entre a qualidade das rodovias brasileiras e os investimentos federais em infraestrutura rodoviária.

DESVALORIZAÇÃO DA PROFISSÃO

ABRE Valorização do motorista1 P2 Em um País onde cerca de 60% de tudo o que é produzido é transportado por caminhões, fica evidente a importância do motorista. O profissional é o responsável pelo deslocamento de todo tipo de carga pelas estradas do Brasil. E, para cumprir o seu trabalho, passa dias longe de casa e enfrenta, fretes baixos, falta de segurança, de infraestrutura e, principalmente, a desvalorização por parte de empresas, governo e sociedade.

De modo geral, o carreteiro é considerado o “vilão da estrada”, aquele que usa drogas, ingere bebidas alcoólicas, provoca acidentes e contribui para o congestionamento nas grandes cidades. Para o presidente da Fetcesp – Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo – Flavio Benatti, muitos reclamam da circulação de caminhões, mas se esquecem da importância do transporte rodoviário de cargas para o dia a dia.

Para José Fernandes, presidente da NTC&Logística, a desvalorização do motorista de caminhão é resultado de uma imagem errônea construída ao longo dos anos. Para boa parte da sociedade, este profissional é responsável por todas as situações ruins que acontecem nas cidades e nas estradas brasileiras.