A falta de segurança na estrada é um problema que acompanha o dia a dia do caminhoneiro a muito tempo. As queixas são quase sempre as mesmas. Fiscalização ineficiente, aumento do roubo de carga, risco de acidente, falta de locais seguros para as paradas, uso de drogas e celular, cansaço. A própria condição de trabalho imposta aos caminhoneiros é um fator que compromete a segurança.

Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) comprovam essa afirmação e revelam que cuidar melhor da saúde física e mental desses profissionais é um importante mecanismo para melhorar a segurança no trânsito. O número de infrações por desrespeito à Lei do Descanso teve uma alta de 272% nos dois últimos anos. Esse tipo de infração vem crescendo desde 2018. Naquele ano, foram computadas 5.775 infrações. Em 2020, o número saltou para 21.499. Até maio deste ano, a PRF já havia registrado 11.366 infrações.

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O diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra, avalia que o desrespeito à Lei 13.103, de 2015, provoca graves alterações na saúde dos motoristas. “O cansaço, aliado à privação de sono, comprometem os reflexos e a capacidade de reação, além de aumentar os riscos do desenvolvimento de doenças metabólicas, como a obesidade, hipertensão e diabetes. Esses fatores somados reduzem a capacidade de dirigir em segurança e ampliam os riscos de acidentes”, afirma.

Outro dado, divulgado pelo estudo Perfil do Caminhoneiro, feito pela Confederação Nacional de Transportes (CNT) em 2019, mostrou que a categoria tem uma jornada de trabalho exaustiva: eles rodam em média 8.561,3 quilômetros por mês, trabalham em média 11,5 horas por dia, de 5 a 7 dias por semana. “A Lei do Descanso existe justamente para garantir melhores condições de trabalho e para melhorar a segurança viária. Ela determina que o motorista profissional não pode dirigir por mais de cinco horas e meia ininterruptas e deve fazer pausas de 30 minutos de descanso dentro de cada seis horas”, comenta Coimbra.

A lei determina ainda que os motoristas têm que descansar no mínimo 11 horas a cada período de 24 horas. “A queda nos valores dos fretes e os prazos estreitos levam muitos desses profissionais a estender a jornada para conseguir rendimentos mais dignos, mas isso os submete, assim como os demais integrantes do sistema nacional de trânsito, a acidentes graves”, observa o diretor da Ammetra.

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Valdecir

Para Valdecir Batista Real, 55 anos de idade e mais de 30 de profissão, de Sertanópolis/PR,  a carga horária que muitas vezes os motoristas são submetidos a cumprir compromete a segurança na estrada. “O motorista deveria participar de toda negociação envolvendo a carga justamente para poder opinar se é possível cumprir os horários determinados de maneira segura”, afirmou. Outro ponto levantado por Valdecir diz respeito a fata de respeito e de segurança com os motoristas que aguardam na porta dos estabelecimentos para carregar ou descarregar as mercadorias. “Ficamos aguardando muitas vezes do lado de fora sem nenhuma infraestrutura e ficamos submetidos a roubo da carga ou do caminhão e outras práticas”, desabafou.

Na opinião de Valdecir há um longo caminho pela frente para que o motorista realmente se sinta seguro e valorizado. “Exercer a profissão de motorista hoje é bastante complicado, pois temos que lidar com a falta de segurança, de estrutura, de apoio logístico eficiente. Uma parte das pessoas que controlam as viagens dos caminhoneiros através dos rastreadores não conhecem como funciona uma rodovia, um pernoite ou uma situação de emergência”, explicou.

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Eduardo

Para Eduardo de Oliveira dos Santos, há 10 anos no transporte, de Pilar do Sul/SP, tem muitas coisas para melhorar em relação a segurança. “A imprudência, uso do álcool e do celular durante as viagens, excesso de velocidade são fatores que matam muitas pessoas na estrada. Sem contar que não temos nem um local seguro para descansar”, desabafou.

Eduardo conta que em uma de suas viagens estava parado na rodovia Castelo Branco para dormir e quando acordou o caminhão do seu lado estava sendo assaltado. “Nesse dia deu até briga e depois fiquei sabendo que os policiais orientaram a não parar nessa rodovia pois realmente o número de assaltou aumentou. Um absurdo”, contou.

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Marcelo

Outro motorista que teve uma experiência muito traumática em relação a segurança na estrada foi o André Marcelo Mateus, de Cananeia/SP, que foi sequestrado e ficou em cativeiro por quase 12 horas. “Hoje graças a Deus estou bem. Mas, o meu psicológico foi bastante afetado. Não sinto mais aquela segurança, fico sempre com pé atras com tudo o que acontece ao redor”, contou.

Na sua opinião, o que falta é uma lei forte e eficiente contra esse tipo de crime. “Os bandidos tem que ser punidos de verdade. Serem presos. Pois sem isso, ficamos expostos o tempo todo e com aquela sensação de que a justiça não será feita”, opinou.

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Sérgio

Para Sérgio Lopes Almeida, 39 anos de idade e 17 de profissão, de Amparo/SP, são vários os fatores que comprometem a segurança. Mas, na sua opinião o problema maior é no período da noite. “Muitos postos não deixam a gente estacionar para descansar e ai fica complicado pois o sono é um inimigo, ele é traiçoeiro. Sem lugar seguro para parar, as vezes ficamos na lateral do pedágio, mas ficamos sujeitos a levar multa. Realmente fica complicado. Ninguém quer saber do nosso cansaço.

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Jader Lopes

Jader Lopes, de Jacarepagua/RJ, chama a atenção para outro fator muito relevante, a falta de informação dos locais perigosos. “O roubo de carga é um fator muito que prejudica muito os motoristas. Acredito que se tivesse mais informações nas estradas muitas ocorrências poderiam ser evitadas. Muitos motoristas ainda sem experiência não sabem as rotas perigosas e como evita-las. Então acredito que com mais informações ficaria mais fácil o dia a dia do caminhoneiro”, opinou.

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