Para ter uma visão mais ampla do cenário atual do transporte internacional de cargas no continente europeu, a Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI) participou do 3º Encontro Ibero-americano em Benidorm, na Espanha, no início de junho desse ano. Na ocasião, a associação representou o Brasil e demais entidades ligadas ao transporte, tais como NTC (Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística) e CNT (Confederação Nacional do Transporte). Também participaram do encontro delegações da Espanha, Portugal, Argentina e Chile.
Na ocasião, foram expostos e debatidos temas do Mercosul e da Europa, como a regulamentação dos pedágios, as normas sobre tempo de direção de motoristas, a formação profissional, as regras comunitárias para transporte entre países, cabotagem interna, limites de pesos e dimensões, entre outros. Por meio dessa participação, a ABTI acredita que os exemplos de avanço, superação e integração entre os países europeus poderão ser aplicados para tornar o transporte internacional de cargas no Mercosul viável e agilizar as operações de comércio exterior para reduzir custos, além de valorizar os recursos humanos do segmento.
Na Europa, o Transporte Internacional entre os 27 países membros é livre e pode ser realizado entre todos os integrantes e não existem limites em relação à quantidade de veículos, porém há um único marco legal com normativas e diretivas estabelecidas pela União Européia. A Cabotagem Interna, por exemplo, transporte realizado por veículo de um país, no território de outro, é permitida em circunstâncias específicas em relação ao trajeto, tempo e quantidade de viagens, não estando ainda uniformizada nestes aspectos. Atualmente, estão em negociações, tendo provisoriamente cada país regulamentado prazos (em geral de 7 a 30 dias), trajetos e quantidades de viagens.
Entre os países europeus houve uma grande evolução, porém há problemas a serem resolvidos, como os incentivos internos que alguns países concedem aos seus transportadores para renovação de frota, diferenças de preços de combustível que variam de €$0,85 a €$1, 20, roubo de cargas em menor grau que no Mercosul, imigração ilegal, tempo de direção e trabalho, formação de motoristas e outros. Atualmente a cotação do euro equivale a R$ 2,59.
As principais preocupações dos governos dos países da União Européia em relação ao transporte estão relacionadas a questões ambientais e de segurança no trânsito. O transporte de cargas representa 12% do PIB e equivale de 15 a 25% do custo do produto. Discute-se a questão do diesel profissional, ou seja, o preço do combustível para uso do transporte. O valor do frete varia de €$ 0,85 a €$ 1,00 por km, sendo que a média de quilometragem com veículo vazio é de 8% nos países centrais e 15% nos periféricos. A fiscalização é relativamente rigorosa e 85% das empresas são familiares.
Além disso, é obrigatório uso de tacógrafo digital, que pode ser fiscalizado a qualquer momento na estrada ou na sede da empresa, sendo que os dados devem mantidos em arquivo por um ano.
O custo do motorista representa para a empresa entre 31% a 40% do custo total do transporte, sendo 28% a 30% o custo de combustível e 11% de pedágio. O salário do motorista varia entre €$ 1.500 e €$ 3.000.
A nova legislação obrigará a troca de motoristas para longas distâncias. Os transportadores solicitaram melhorias nas infra-estruturas para paradas ao longo da rodovia, tanto para descansos como para trocas de condutores.
Com relação aos pedágios, a maioria é cobrada via informação de ondas com aparelhos colocados em caminhões e sinais captados pelos sensores da rodovia. O custo varia de €$0,15 a €$ 0,20 por km, representando 11% do custo do transporte. O debate atual é sobre qual sistema de cobrança deve ser adotado e qual o custo desta escolha.
Existem propostas de diferenciarem o preço de pedágio em função do horário de utilização da rodovia, para ser mais barato em horários de menos movimento. O combustível está altamente tributado, custando de €$ 0,20 a €$ 1,20 por litro, e ainda sofreu aumento de 60% nos últimos anos em função da crise do petróleo.
Está previsto um aumento de 40% do transporte nos próximos 10 anos e em função disto a questão da configuração de eixos e pesos máximos está em debate com uma tendência em aumentar comprimentos e pesos (algo como rodotrem) que já são usados internamente nos países nórdicos. A velocidade máxima é de 85 km/h, peso máximo total de 40 toneladas e 10 toneladas por eixo. Nos semi-reboques são usados pneus \”single\” e a maioria é de três eixos. Na maioria dos países não é permitido rodar aos domingos e feriados. A renovação de frota é grande com empresas internacionais trocando veículos a cada três anos. Todos compram caminhões com contratos de manutenção e garantia de recompra pela concessionária.
– Formação profissional
A partir de setembro de 2009 será obrigatória a formação prévia dos motoristas (180 horas aula) e depois formações complementares a cada 5 anos. Na região, existe certa carência de motoristas e as entidades estão planejando atrair os estudantes para aprenderem a profissão desde jovem.
O próximo encontro Ibero-americano será em São Paulo, no dia 18 de outubro de 2007.