A necessidade de aperfeiçoamento profissional é condição para o ingresso e manutenção de um lugar no mercado de trabalho. Ainda mais numa época de constante evolução tecnológica, incluindo o transporte rodoviário de cargas, atividade em que caminhões cada vez mais modernos e sofisticados são produzidos a cada ano. Com isso, os motoristas precisam estar preparados para essas novidades, com treinamento adequado às novas tecnologias, o que nem sempre é possível, principalmente pela falta de tempo e mesmo de dinheiro para investir em cursos específicos para o setor. Na maioria dos casos, os motoristas recebem orientações superficiais nas concessionárias ao retirarem um modelo zerado e de última geração.É o caso do estradeiro Lair Flores, conhecido no trecho como Gaiteiro, natural de Uruguaiana/RS, 48 anos de idade e 15 de profissão. Conta que precisou retirar um Iveco novo na concessionária e que recebeu instruções básicas sobre o funcionamento do veículo, principalmente do câmbio automático. “Não tive problemas, saí dirigindo e trabalhei algum tempo com o caminhão numa boa”, afirma.
Hoje, ele trabalha num caminhão ano 2007, com semirreboque sider, por questão de rotas e da possibilidade de não ficar muito tempo longe de casa, mesmo atuando na linha internacional. Lair conta que abandonou a profissão de padeiro para se tornar motorista de caminhão e aprendeu a dirigir com o cunhado e o irmão, ambos carreteiros. Depois frequentou autoescola para a troca de categoria da CNH, fez cursos para o Transporte de Cargas Perigosas, Primeiros Socorros, Cipa e garante que está sempre pronto a aprender coisas novas sobre caminhões e música, suas duas paixões. Afinal, segundo diz, “é muito importante para o estradeiro se manter atualizado na profissão, fazendo todos os cursos que estejam disponíveis, apesar da falta de tempo e muitas vezes de recursos.” O carreteiro Lúcio de Oliveira Prates, 35 anos de idade e 10 anos de estrada, faz a rota Chile-São Paulo/SP ao volante de uma carreta tracionada por um cavalo-mecânico ano 93. Lembra que aprendeu a profissão com o ex-sogro, também motorista. Prestava atenção, fazia perguntas e em pouco tempo começou a manobrar o caminhão no pátio de estacionamento da empresa. Frequentou uma autoescola para atualizar a CNH e posteriormente fez curso para o transporte de Cargas Perigosas. Também fez um curso rápido numa concessionária para aprender a pilotar um modelo novo com câmbio automático. Garante que agora está tudo bem e não se atrapalha com caminhões modernos.
A próxima meta de Oliveira Prates, conforme ressalta, é fazer um curso para obter a CNH para o transporte de passageiros. Pretende trabalhar com ônibus e ficar mais perto da família. “O que falta agora é a oportunidade para fazer esse curso”, garante. Segundo ele, os cursos destinados a motoristas ensinam apenas a teoria, enquanto na prática tudo é muito diferente. Por conta disso, acredita que a melhor escola é a estrada e o bom senso de cada condutor.
Na opinião de Fabián Gonzalo Parra Parra, 37 anos de idade e 17 de volante, natural de Los Andes, Chile – é extremamente importante que os motoristas de caminhão façam treinamentos técnicos para não ficarem para trás. Salienta que os caminhões – como o resto das coisas – sempre trazem inovações tecnológicas e é preciso estar preparado para essas novidades. Gonçalo Parra lembra que aprendeu a dirigir com o pai, quando ainda era muito pequeno, numa época em que a legislação chilena não exigia curso de autoescola para fazer a carta de habilitação. “Isso agora mudou”, conforme destaca. Ao longo de sua vida profissional fez alguns cursos de especialização, como Cargas Perigosas, Direção Defensiva e Direção Econômica, sempre nas concessionárias. “Eram cursos com duração de dois dias e sempre muito úteis”, conclui.
O estradeiro Paulo Luiz da Silva, tem 61 anos de idade e 32 anos de profissão é natural de Santa Cruz do Sul/RS e faz a rota entre Porto Alegre – São Paulo e Porto Alegre – Rosário/AR. É de uma família de motoristas de caminhão e aprendeu a dirigir muito cedo. Ao servir o Exército, em 1972, fez curso de direção e teoria para a obtenção de sua primeira CNH. “Foi uma moleza”, lembra. Afinal, já tinha experiência de volante e só precisou aprender alguma coisa de teoria e legislação. Aos 19 anos comprou o seu primeiro caminhão, um Chevrolet a gasolina. Segundo ele, só fez cursos no Detran para a troca de categoria da habilitação e recebia informações básicas na concessionária cada vez que trocava de caminhão, sempre por um modelo mais novo. Hoje, ele dirige um modelo com câmbio automático e acha ótimo. Lembra também que aquele motorista de antigamente, que com um alicate e um pedaço de arame fazia qualquer conserto, não existe mais. Agora, o motorista não mexe em nada. Em caso de pane é só avisar o serviço de socorro-mecânico e tudo é resolvido em pouco tempo. O motorista só precisa estar preparado para dirigir o caminhão com todo o conforto e facilidade. Daí a necessidade de aperfeiçoamentos técnicos para tirar o melhor proveito do veículo, destaca.
Jamilson Pereira, 36 anos de idade e 10 de volante, natural de Ibirama/SC, aprendeu a profissão com o avô. Embora já soubesse dirigir, precisou frequentar uma autoescola para tirar a sua primeira CNH e também depois, sempre que precisou trocar de categoria. Embora considere ser de muita importância a atualização do motorista – através de cursos e palestras – reconhece que a faltade tempo e dinheiro se constituem num grande problema. Principalmente o tempo, pois é difícil parar de trabalhar. Embora não tenha feito qualquer tipo de treinamento referente ao aperfeiçoamento profissional, garante que tem muita facilidade e, dependendo do instrutor, aprende rápido. Tudo é uma questão de oportunidade, resume.