Neste mês de junho, a MAN, conhecida marca de caminhões alemã de caminhões e ônibus, que ostenta na frente de seus produtos um leão prateado, completa 104 anos de produção de veículos comerciais. O nome de três letras vem das iniciais de Maschinenfabrik Augsburg-Nürnberg, que iniciou suas atividades no ramo automotivo em 1915. Hoje é difícil de imaginar, mas em 1.914 (ano que estou a Primeira Guerra Mundial) os caminhões e ônibus ainda não faziam parte dos produtos da MAN, porém, era uma situação que o diretor geral da empresa, Anton Von Rieppel queria mudar, pois tinha na cabeça a estratégia que “o homem deveria ser colocado sobre rodas”.

Porém, as raízes da MAN – organização que no final de 2008 adquiriu a Volkswagen Caminhões e Ônibus formando a MAN Latin America –  são de 1.758, ano em que a Ferragens St. Antony, que iniciou suas atividades em Oberhausen, Alemanha. A pequena empresa era também o primeiro empreendimento da indústria pesada na região do Vale do Ruhr, a mais populosa da Alemanha e também uma das maiores regiões industriais da Europa na atualidade.

Em 1.782, 24 anos depois, na mesma Oberhausen a fundição Gute Hoffnung (Boa Esperança) também iniciou suas atividades, e 26 anos mais tarde, já em 1808, ocorreu a fusão entre as duas empresas e uma terceira, a Neue Essen, para formar a Hüttengewerkschaft und Handlung Jacobi (Companhia de Mineração e Comércio de Ferro).

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Cartaz da primeira fábrica de caminhões, a MAN-Sauer Truck Works, criada em 21 de junho de 1.915

Na sequência do desenvolvimento tecnológico da época, em 1.814 foi entregue o primeiro motor a vapor, seguido da entrega da primeira locomotiva em 1.839. Em 1.840 é estabelecida em Augsburg a Sander’sche Maschinenfabrik, que muda seu nome para C. Reichenbach’sche Maschinenfabrik em 1.844. Três anos antes, havia sido estabelecida em Nuremberg a empresa Klett & Comp. Em 1.857, a C. Reichenbach’sche Maschinenfabrik muda novamente seu nome, desta vez para Maschinenfabrik Augsburg Aktiengesellschaft.

Em meio a tantos palavras compridas e difíceis de serem pronunciadas, e várias trocas de nomes das empresas, numa dinâmica um tanto complicada para ser entendida, em 1.897, juntamente com a empresa de Rudolf Diesel, a Maschinenfabrik Augsburg Aktiengesellschaft constrói o primeiro motor a diesel do mundo com combustão interna, projetado para trabalhar com óleos vegetais, como o de palma.

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Primeiro motor a diesel desenvolvido em 1,897 pelo engenheiro Rudolf Diesel, projetado para trabalhar com óleos vegetais

Diesel, o inventor do motor diesel desapareceu misteriosamente antes da Primeira Grande Guerra, em 1913, durante a travessia do Canal da Mancha. Ele jamais poderia imaginar a importância do seu invento e que seu nome seria associado ao combustível de petróleo que move o transporte há décadas e que seu feito mudaria a história da indústria automotiva.

Nos anos seguintes, surgiram várias novidades tecnológicas, como o início da produção de turbinas a vapor, em 1.900 e início das atividades de construção de caminhões Büssing, em 1.903. No ano de 1.908, a empresa Maschinenfabrik Augsburg-Nürnberg AG foi renomeada como MAN.

No ano de 1.915, um depois do início da Primeira Guerra Mundial, que durou até 2019, ocorreu a fundação da fábrica de caminhões Lastwagenwerke MAN-Saurer (LWW) dando início à produção de veículos comerciais. Nos anos seguintes, a empresa promoveu várias ações de integração e união a outras organizações. O registro do nome Man Truck & Bus AG de empresas da cidade de Nuremberg “Lastwagen Werke Man-Saurer Gmbh” (MAN-Saurer Truck Works) com o nome abreviado de IWW, foi dado entrada em 21 de junho de 1915. Naquela época, a empresa Saurer era o fabricante de caminhões líder na Suíça.

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Um dos primeiros caminhões produzidos pela MAN -Saurer, no ano de 1915

Um ano antes, em 1914, diretor-geral da MAN, Anton Von Rieppel, já planejava instalar a própria fábrica de caminhões e ônibus da empresa, mas como a Primeira Guerra mundial tinha acabado de eclodir, não havia tempo para a MAN desenvolver seus próprios veículos. Em vez, disso, encontrou um parceiro com o know-how.

De acordo com a história, foi o próprio Anton Von Rieppel quem abordou Adolph Saurer em uma carta escrita em dezembro de 1914 para dar início às negociações entre as duas empresas. Rieppel teria originalmente planejado adquirir uma licença da Saurer para construir seus próprios caminhões, mas Adolph Saurer queria apenas uma associação cooperativa que garantisse sua participação na empresa, mas Rippel desejava apenas produzir veículos sob licença.

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Um dos primeiros caminhões da marca com tração, em 1.915

Após vários meses de negociações, os industriais finalmente chegaram a um acordo – e essa joint venture lançou as bases para a produção de caminhões e ônibus na MAN. Com o conflito armado, a frente de batalha tinha urgência de transporte de todos os tipos, de aviões a veículos sobre rodas. A partir dessa parceria, as mudanças começaram a acontecer rapidamente. Em julho de 1915, a lWW já produzia seus primeiros caminhões em uma fábrica em Lindau, no rebordo do lago Constance, mas logo a planta foi transferida passo a passo para Nuremberg. Não apenas a fábrica inteira e todas as máquinas se movimentaram, mas também o Lastwagen Werke, que assumiu todos os quarenta empregados.

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Ônibus que atendeu tanto ao correio alemão, entregando encomendas e cartas, quanto ao transporte de pessoas pelo país

Além dos caminhões, a lWW produziu ônibus, principalmente para as empresas de correios alemão e de transporte urbano. Os ônibus de campo construídos pela empresa eram comuns nas estradas naquela época. Além das cartas e encomendas, os ônibus do correio eram usados também para o transporte de pessoas. Assim como os caminhões, os primeiros ônibus MAN também eram de 2 a 3,5 toneladas, todos equipados com motor de ignição de quatro cilindros, iluminação de metal duro, lâmpadas a gasolina, buzinas, rodas de madeira e um conjunto de pneus sólidos.

Dois anos depois, em 1.917, a MAN constrói o primeiro caminhão de três eixos, o modelo S1H6. A parceria entre a MAN e a Saurer durou até 1.918. Depois a Saurer e sua empresa se retiraram da joint venture. A partir de 14 de novembro de 1918, isso também se refletiu em seu nome – a empresa tornou-se oficialmente conhecida como “Man Lastwagen Werke” (MAN Truck Works) e a fábrica de Nuremberg abriu seu próprio caminho para o desenvolvimento e produção de caminhões.

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Um dos primeiros modelos pesados da MAN com terceiro eixo, em 1.918

Em 1924 lançou o primeiro caminhão a diesel com injeção direta de combustível e seu primeiro ônibus após desfeita a parceria com a Saurer. Entre 1932 e 1933 lançou o caminhão pesado mais potente do mundo, com motor de 140/150hp. No ano seguinte, tem início o trabalho de desenvolvimento com turbocompressores de gases de escape para motores a diesel. Em 1.937, começou o desenvolvimento de tração integral para veículos utilitários.

Passada a Segunda Guerra Mundial, que causou pesados danos às indústrias, em 1.950 surge o primeiro motor a diesel superalimentados, com 46% de eficiência e logo em seguida (1.951) a MAN lança o primeiro caminhão a diesel alemão com turbocompressor de gás de escape. Quatro anos depois (1955), é inaugurada em 15 de novembro de 1.955 a fábrica de caminhões da MAN em Munique, após o comando da empresa decidir-se se pela criação de uma nova planta, para expandir o negócio de veículos comerciais.

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Linha de montagem, em 1.953
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Primeiros caminhões produzidos na fábrica de Munique, em 1.955

Em 1978, a MAN assumiu a empresa Büssing Automobilwerke e a planta da empresa em Salzgitter. Ela adotou a tecnologia de motores, bem como o logotipo da marca, o leão de Brunswick, que passou a fazer parte da grade dianteira de todos os veículos comerciais da marca até hoje. Nesse mesmo ano a montadora ganhava o prêmio “Caminhão do Ano”.

No ano 2.000, a empresa produz o milionésimo veículo comercial com a marca MAN e também ocorre a apresentação do novo Trucknology Generation TG-A (caminhão do ano de 2.001). A nova geração de motores DE20 Common Rail é lançada em 2.004. Neste ano, os caminhões das séries são atualizados. Em 2006 a empresa comemora seu 250º aniversário e ocupando a posição de uma das empresas industriais mais antigas do mundo e no ano seguinte lanças os modelos pesados TGX (para longas distâncias) e o TGS para distribuição. Os dois modelos ganharam o prêmio de Caminhão do Ano.

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Cabines do ano 2.000 já traziam no design a tendência dos modelos atuais

A aquisição das atividades da Volkswagen Caminhões & Ônibus torna a marca mais conhecida do público brasileiro e em 2011, a MAN Nutzfahrzeuge passa a ter o nome  de MAN Truck e Bus AG e a Volkswagen AG se torna acionista majoritárias da empresa. Em 2012 a Volkswagen AG aumenta sua participação nos direitos de voto na MAN SE para 75,03%. No ano de 2.015, a Volkswagen cria o um grupo de veículos comerciais para caminhões e ônibus (A Volkswagen Truck & Bus), incluindo a MAN e Scania.

A principal fábrica da MAN Truck & Bus, em Munique, começa as operações com pintura de cabine ecológica, tida na ocasião como a mais ecológica do mundo. Graças à tecnologia, com reduzido consumo de água e de energia, bem como o uso de produtos químicos e de exaustão de partículas no ar. As instalações da fábrica são consideradas “o estado da arte”. Embora se associe a MAN com Munique, suas raízes não estão na capital do estado da Baviera, em Augsburg e Nuremberg. Munique ganhou relevância para MAN depois da 2ª Guerra Mundial, quando a linha de produção de Nuremberg chegou ao seu limite, exigindo novas instalações.

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Em 2015 a marca comemorou 100 anos de produção de caminhões e ônibus e cria o Grupo Truck & Bus

Atualmente, o Grupo MAN é bastante diversificado, mas focado sempre na engenharia de transporte, produzindo caminhões, ônibus, motores a diesel, turbomáquinas e usinas elétricas. Depois da criação da holding Truck & Bus em maio de 2015, para gerir o segmento de veículos comerciais, em 2018 o nome foi mudado para Grupo Traton, tendo sob seu chapéu as marcas MAN, Scania, Volkswagen Caminhões e Ônibus e Rio.