Nas última semanas os números de internações e mortes por conta da Covid-19 levaram alguns Estados do País a regredirem para fases mais restritivas. O objetivo é aumentar a taxa de isolamento e frear a disseminação do vírus. Na estrada, caminhoneiros e empresas ligadas ao transporte rodoviário de cargas afirmam enfrentar dificuldades para conseguir realizar o trabalho.
Sergio Marques de Almeida, 49 anos de idade e 30 de profissão, de Petrópolis/RJ, afirma que o grande receio com as fases de restrição é o aumento do desemprego. A consequência, segundo Almeida, é o crescimento de saques de cargas. “Vários colegas já estão evitando o carregamento de itens de alimentação por esse motivo. Cidades que entram em lockdown assistiram ao aumento de saque de mercado e roubo nas estradas”, declarou.
O autônomo do Estado de São Paulo, na profissão há 20 anos, e que preferiu não se identificar, relatou que com o aumento das restrições aumentaram também as fiscalizações por parte da PRF. “Percebi no interior de São Paulo, um aumento de fiscalização e de apreensão dos caminhões. Ano passado, isso não acontecia. Afinal ajudamos no transporte de todas as mercadorias para manter o País funcionando. Mas agora eles estão muito em cima e não sei por qual motivo. Essas fiscalizações estão acontecendo com frequência e atrasando as nossas viagens”, desabafou.
Vagner Campeol, 35 anos de idade e 10 de profissão, de Campo Largo/PR, já trabalhou como empregado e hoje tem uma pequena frota de cinco caminhões. Desse total, dois caminhões que faziam a rota Curitiba/PR – Porto Ferreira/SP, puxando massa para fazer cerâmica (prato, copo, xícara etc) vão ser alocados para outra rota. O motivo é que as empresas desse segmento vão parar por 14 dias a partir da próxima semana. Vagner conta que antes das restrições levava quatro cargas por semana e hoje apenas uma. “Até voltar ao normal a linha de São Paulo, vamos colocar esses caminhões para fazer a linha do Mato Grosso”, explicou.
Em relação aos outros três caminhões, que atuam na rota Curitiba e Mato Grosso, puxando grãos, estão operando normalmente. “Porém, respeitando as exigência impostas pelas empresas como uso de máscara, álcool”, explicou.
Outra grande dificuldade levantada por Vagner é a questão do fechamento dos restaurantes na beira das estradas. Ele cita os estabelecimentos de Mato Grosso que fecham as 20h. “Eu mesmo estou voltando de Sinop/MT fui tentar jantar e o restaurante estava fechado. Alguns colegas, as vezes deixam de almoçar para antecipar as entregas e também não conseguiram jantar”, desabafou. Vagner faz questão de ressaltar que não é contrario as medidas porém sugere que após as 20h esses restaurantes de estrada operem pelo menos no sistema delivery com entrega de marmitex para o caminhoneiro comer dentro do seu caminhão.
Robson Borges atua em um escritório em São Paulo que realiza entregas em alguns segmento. Ele conta que está bem complicado pois algumas entregas estão sendo reprogramadas devido algumas cidades do interior estarem com restrições ou lockdown. “A empresa atende entregas de veículos zero quilômetros para concessionárias no interior de São Paulo. Porém como algumas estão fechadas ou com restrição de horários os veículos ficam parados no nosso pátio. A fábrica do Rio de Janeiro não parou com a produção. Então temos que retirar e estocar no nosso pátio que não é grande”, explicou.
Robson relata também que algumas entregas emergenciais também vem sofrendo alterações. Ele cita que em São Bernardo, por exemplo, os postos de abastecimento fecham as 21h impactando diretamente na logística. Assim como os veículos exportados para o Chile e Argentina. “Estrangeiros não são bem vindos em outros países. A fiscalização aumentou e as exigências como testes PCR também”, destacou.
Bruno Silva dos Santos, está há três anos na profissão e atua em cooperativa viajando por todo o Estado de São Paulo, Minas Gerais, transportando container. “Algumas empresas que visito dificulta o acesso, tem muita burocracia para dar entrada nos documentos e não fornecem álcool em gel, máscara descartável limpa e nem medem a nossa temperatura. Além disso, não deixam os prestadores utilizarem os banheiros e nem fazerem as refeições no local. Outras empresas parecem não se importar muito com a pandemia e nem máscara usam. Realmente está dificil”, desabafou.