As tradicionais oficinas de beira de estrada passam por um período difícil, amargando queda de até 40% do movimento em relação há pouco mais de um ano. Entre os motivos para a retração está a redução do volume de cargas rodoviárias, a qual força os carreteiros a executarem – por medida de economia – apenas os reparos absolutamente necessários nos caminhões. E no caso dos novos cargueiros em atividade nas estradas do País, que se prestam de sofisticadas tecnologias, a manutenção é feita preferencialmente por mecânicos especializados e em estabelecimentos credenciados. Isso tem feito com que as tradicionais oficinas de beira de estrada se reinventem, procurando atuar em segmentos específicos, os chamados nichos de mercado. Mesmo assim, o setor trabalha abaixo das expectativas normais.
Na S.O.S. Compressores Veiculares, empresa que funciona na rua Berto Círio, em Canoas/RS, rua paralela à movimentada BR-386 – conhecida como Rodovia da Produção – os proprietários admitem que trabalham com uma redução de aproximadamente 40% da capacidade instalada e do pessoal disponível. Segundo Gilson Luiz da Silva, 50 anos de idade e 25 anos de experiência na área, e Leonel Jair Junqueira, 60 anos e 45 de profissão, sócio e cunhado, o número de atendimentos e o faturamento da oficina caíram pela metade a partir da Copa do Mundo.
Eles lembram também da influência da política e da economia, mas no final resulta que todo o mercado vive dias difíceis. Apesar disso, Gilson e Leonel garantem que a melhor coisa é trabalhar na manutenção de caminhões, porque de uma maneira ou outra o veículo de carga precisa fazer algum tipo de serviço, pois não dá pra parar. Os dois sócios acreditam que a partir de março tudo comece a melhorar. É com essa expectativa que procuram manter os 12 funcionários na oficina, mas sem fazer novos investimentos, como a programada expansão, que ficarão para dias melhores que certamente virão, garantem.
Na mesma BR-386, no quilômetro 435, em Nova Santa Rita/RS, o dono da oficina Santa Diesel Technik, Adroaldo Gonçalves, 45 anos de idade e 28 anos de profissão, não lembra de ter enfrentado uma crise tão grande como esta, em relação à redução de trabalho. Ele tem quatro funcionários e atende apenas caminhões pesados, sendo grande parte do transporte internacional. Mas, segundo afirma, a partir dos últimos cinco meses houve uma redução de cerca de 40% no volume de trabalho. A clientela é composta por autônomos e empresas e, embora a crise tenha afetado também o transporte internacional, são estes cargueiros que continuam parando na oficina para algum tipo de reparo, e com pagamento sempre a vista e em dinheiro. Adroaldo aproveita para elogiar os carreteiros uruguaios, cujos caminhões – apesar de feios na estética – possuem mecânica muito boa e bem cuidada. Enquanto isso ele vai levando seu negócio como pode, na esperança que toda a economia comece a reagir depois de fevereiro ou março, “quando o País efetivamente passará a funcionar”.
Vizinho à oficina de Adroaldo Gonçalves, o eletricista de caminhões Elizeu Antônio dos Santos, 48 anos de idade e 20 de profissão, também está desolado com a queda no volume de clientes. Ele e os cinco funcionários que trabalham na Auto Elétrica ( que também é borracharia e lonaria) garantem que a partir dos preparativos para a Copa do Mundo o movimento foi diminuindo progressivamente. Lembra que existia uma explicação para tudo: Copa, campanha eleitoral, eleição, segundo turno, final de ano, carnaval, e por aí vai. Se fosse dar uma nota para atual situação, daria seis, afirma. Elizeu trabalha com absoluta redução de despesas e adiou investimentos que pretendia fazer para a ampliação da auto elétrica e da borracharia. Como os demais colegas, ele acredita que a situação comece a melhorar a partir de fevereiro ou março deste ano.
No município de Canoas, a poucos metros da BR-116, Eri Dias da Rosa, 56 anos de idade e 40 anos no setor mecânico, é sócio-proprietário da Auto Peças Canoense e garante que não foi atingido pela crise porque trabalha com um produto diferenciado. A oficina é especializada no fornecimento de válvulas para sistemas de freio a ar. Ele, o sócio Elvis Galvão Ramos e uma equipe de quatro funcionários e três aprendizes, se dedicam a reparar e atualizar às novas tecnologias de sistemas de freios de caminhões antigos. Explica que muitas vezes é preciso fazer adaptações e que costuma fazer uma análise criteriosa do serviço à procura de soluções e alternativas para a instalação de sistemas modernos nos caminhões antigos. Atende autônomos e empresas, além de manter um convênio coma Prefeitura de Canoas para assistência à frota municipal. “Justamente pelo trabalho diferenciado, não faltam clientes. Por enquanto, tudo está muito bem”, garante.
Marcelo Moresco, 33 anos de idade, é gerente-geral da Bormana – Comércio de Autopeças Ltda., situada na RS-122 Km 82, estrada que liga Caxias do Sul a Flores da Cunha, na serra gaúcha. A empresa existe há 25 anos, tem 100 funcionários e uma filial em Porto Alegre/RS. Ele começou o negócio consertando bombas injetoras e hoje trabalha também com caixa de câmbio, direção hidráulica, turbos, retífica de motores e distribuidora de peças. Moresco lembra que em 2014 houve uma retração de serviços apenas na época da Copa do Mundo, quando todas as atividades sofreram uma diminuição brusca. Porém, logo depois tudo voltou ao normal. Afirma que a empresa, que tem uma média de 70 atendimentos por dia, não sofre tanto com a retração do mercado devido à alta especialização oferecida e também a diversidade de produtos e serviços que dispõe. Ele cita como exemplo os R$ 2 milhões investidos recentemente na compra de equipamentos para conserto e regulagem de bombas injetoras.
Outra oficina que voltou às atividades normais depois do declínio ocorrido no período da Copa do Mundo de Futebol é a Rally – Manutenção de Caminhões Ltda., de Caxias do Sul/RS, administrada por Luciana Macedo Spido, 44 anos de idade. Ela, o marido Danei Spido, 47 anos, e os filhos Renato, 26, e Maurício, 23, e mais três mecânicos, se esmeram para oferecer aos clientes um atendimento dinâmico, eficiente e econômico. Segundo afirma, uma das características da oficina é fazer ampla pesquisa de preços ao adquirir peças, como forma de favorecer ao cliente. Lembra que a empresa funciona em instalações simples e modestas em comparação com a estrutura das autorizadas, por isso um kit de freio motor que chega a custar R$ 1 mil na autorizada, ela fornece o similar por cerca de R$ 100,00, exemplifica. Quanto à demanda de serviços, lembra ter havido queda no período da Copa, porém voltou à normalidade, apesar da crise que atinge a indústria de autopeças da região, com a redução de atividades e demissões em massa. Todavia, como a oficina atende ao autônomo, e não empresas que possuem mais de 100 caminhões, sempre têm serviço. E justamente por atender ao autônomo, está sem reajustar preços há muito tempo, afirma sorrindo.
Por Evilázio de Oliveira
Fotos: Gilmar Gomes