Conhecendo os custos o autônomo consegue negocia melhor o frete

O baixo faturamento obtido da atividade de transporte tem sido uma das principais queixas entre os motoristas autônomos. O capital recebido, segundo eles, não é suficiente para dar conta das despesas da casa, do caminhão e dos imprevistos que surgem ao longo do caminho. O resultado é a falta de recursos para trocar o caminhão, quitar dívidas e até limpar o nome. Apesar de, aparentemente, não haver solução para a situação, especialistas na área de finanças garantem que um bom controle gerencial dos custos pode contribuir para o carreteiro administrar melhor o seu negócio, regularizar sua situação e obter maior rentabilidade no negócio.

O primeiro passo, conforme explica Friedbert Kroeger, consultor associado da Inva Capital, empresa com sede em Curitiba/PR, é o autônomo se conscientizar de que é um profissional com renda irregular e, portanto, está sujeito a enfrentar momentos de alto e baixo faturamento de um mês para o outro. \”Para evitar as dificuldades do período de \”vacas magras\”, o melhor é ter uma reserva de emergência, que deve ser formada quando os rendimentos estão mais altos. É preciso evitar a tentação de gastar tudo\”, aconselha.

Kroeger alerta que em épocas melhores é importante o autônomo separar um valor significativo e guardá-lo na poupança, antes de reformar a casa ou de trocar o veículo. Ter uma reserva, segundo ele, evita recorrer a empréstimos e pagar juros, os quais consomem parte da renda sem trazer benefícios. \”No caso de dívidas já existentes, principalmente no cheque especial e no cartão de crédito, vale a pena buscar uma negociação com o banco, refinanciando estas dívidas com uma linha de crédito de taxas menores\”, orienta.

A troca do caminhão, por exemplo, conforme explica o consultor, deve ser estudada com muito cuidado. Caminhões novos reduzem o consumo de combustível e os gastos com manutenção, mas trazem, normalmente, uma prestação elevada, que pode furar o orçamento do carreteiro. Toda a economia de combustível e manutenção acaba sendo consumida em multas e juros pelo atraso. \”Quanto maior for a entrada, mais baixa será a prestação. Por isso, se possível é bom fazer uma boa reserva e depois partir para a troca\”, aconselha.

Conhecer bem os custos é outra dica dada pelo consultor para ajudar o carreteiro a começar a gerenciar melhor o seu negócio. O profissional deve saber o quanto do valor recebido será direcionado para amortização do caminhão, manutenção, combustível, pedágio, etc, para poder negociar melhor o frete. \”Ao registrar todas as despesas ele poderá analisar seus gastos profissionais e familiares e depois estabelecer um preço justo para o seu trabalho. Anotar e analisar tudo vai permitir que ele descubra eventuais desperdícios, além de poder separar os gastos em obrigações, necessidade e desejo, que podem ser adiados para uma época mais oportuna\”, explica.

Para o engenheiro e assessor técnico da NTC, Lauro Valdivia, o importante de listar todas as despesas mensais é poder identificar aonde o carreteiro está gastando mais e buscar soluções para tentar diminuir os gastos. Assim ele poderá planejar melhor as viagens. Geralmente, conforme explica, o custo mais alto fica por conta do combustível, por isso o motorista tem de avaliar o modo como dirige e se o diesel que está abastecendo o caminhão realmente é de qualidade. \”É essencial saber a procedência do posto que o carreteiro abastece, quanto o caminhão faz por litro, e analisar a melhor forma de aumentar esse rendimento. Às vezes é interessante, inclusive, o motorista procurar um curso de direção econômica\”, aconselha.

O custo com manutenção também deve sempre ser levado em consideração, afinal, um caminhão bem conservado é uma das principais exigências do mercado no momento de negociar uma boa carga. \”Toda vez que realizar um check-up no caminhão e trocar peças, é importante anotar o valor gasto com cada componente e também o tempo de durabilidade, para que na sua planilha de despesas estejam listados esses custos e seja levado em consideração no momento de negociar o frete\”.

Lauro destaca ainda que para tornar a atividade mais rentável o motorista tem de se conscientizar que o poder de ditar os preços não está nas mãos apenas de quem o contrata. O autônomo ciente de todos os seus custos diretos e indiretos, tem argumento suficiente para negociar melhores cargas e não ter prejuízo ao final de uma viagem. Para o consultor financeiro Kroeger, sempre que possível o autônomo deve recusar contratos com valores abaixo do mercado e incentivar seus colegas a fazerem o mesmo, para evitar uma concorrência predatória entre os profissionais do ramo.

\”É preciso entender que para pagar dívidas, ter lucro, ou atingir objetivos, como trocar de caminhão, o valor recebido deve ser maior do que todas as despesas. Portanto, não adianta se desesperar e aceitar qualquer frete, pois o carreteiro pode ter mais prejuízo e ainda contribuir para estragar o mercado. O autônomo tem de ter o controle do seu negócio\”, complementa Lauro Valdívia (DG).