Ao menos 12 rodovias, em seis Estados, estão interditadas

1589Mesmo com uma liminar na justiça que determina o fim das paralisações de motoristas de caminhão nas rodovias, em diversos Estados brasileiros a manifestação de carreteiros continua.

Ao menos 12 rodovias em seis Estados continuam interditadas no terceiro dia de protestos de caminhoneiros. Os bloqueios ocorrem na Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os motoristas permitem a passagem apenas de ônibus e carros. Todos os caminhões são obrigados a parar. No segundo dia de protestos dos carreteiros pelo menos 25 rodovias (em 10 Estados) foram paralisadas.

Nesta terça-feira (02/07), a Justiça Federal no Rio de Janeiro multou o MUBC (Movimento União Brasil Caminhoneiro) em R$ 6,3 milhões pelo bloqueio de rodovias federais em diversos Estados.

A juíza Fabíola Utzig Haselof também determinou a penhora dos bens da entidade e de seu presidente, Nélio Botelho. Os réus ainda podem recorrer. A multa por hora de bloqueio das vias era de R$ 10 mil, mas a juíza optou por aumentar o valor para R$ 100 mil, uma vez que o MUBC não cumpriu liminar que impedia o fechamento das estradas.

Consequências
Por conta dos bloqueios a operação de companhias de logística está comprometida. Empresas relatam dificuldades em entregar cargas e cumprir prazos programados. Os setores mais afetados são os que trabalham com pouco estoque. A linha de produção de montadoras já começa a ser interrompida e a distribuição de combustíveis também causa preocupação.

A Fiat parou ontem parcialmente a produção de sua fábrica em Betim (MG) por conta da falta de peças. Segundo a montadora, foi realizada uma parada técnica parcial em razão dos problemas no fornecimento. A fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) parou por mais de duas horas na segunda-feira. O motivo foi o atraso de funcionários em decorrência dos protestos.

Entidades chamam atenção também para o fornecimento de combustível. O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) informou que a situação preocupa mais no Espírito Santo. \”Estamos em contato com autoridades para restabelecer a circulação dos caminhões permitindo o abastecimento do mercado\”, disse o sindicato em nota. Ainda segundo a entidade, \”os transtornos têm sido contornados, na maioria dos municípios afetados, sem prejuízo ao abastecimento\”.

Controlada pela EcoRodovias, a empresa de logística integrada Elog relata problemas como atraso dos prazos e perdas de agendamentos. Nas entregas expressas, os Correios estão adotando medidas alternativas para diminuir atrasos, entre elas o uso do avião em alguns Estados. \”Tão logo as estradas sejam liberadas, a empresa ampliará a quantidade de veículos e reforçará equipes para agilizar a distribuição da carga afetada pelo movimento dos caminhoneiros\”.

Uma das principais empresas de logística do mundo, a alemã DHL também registra problemas para a entrega de encomendas no Brasil. Amaury Vitor, gerente de operações, diz que a opção principal também tem sido enviar cargas por avião. Os custos extras são absorvidos pela DHL. As regiões Sul e Sudeste são as mais \”problemáticas\”, diz.

A operadora logística Cargolift, que atende a indústria automotiva, informou que está registrando R$ 100 mil de prejuízo por dia. \”O problema é grave. Não tinha uma situação dessas desde 1998\”, diz o presidente da empresa, Markenson Marques, em referência às antigas manifestações que provocaram a posterior criação do vale-pedágio. Dos cerca de 500 caminhões, contando frota própria e terceirizada, 150 estavam parados em bloqueios na tarde de ontem.

Durante a manhã de ontem, uma manifestação impediu o acesso a Santos (SP). Diversos veículos carregados de açúcar não conseguiam chegar ao porto, principal via de escoamento da commodity. \”Na manhã de hoje [ontem], nenhum caminhou chegou aos terminais\”, afirmou uma fonte. O Brasil, maior produtor e exportador de açúcar, está em plena safra de cana. A recepção de cargas foi liberada no fim da manhã.

No campo, a catarinense Coopercentral Aurora Alimentos deixou de abater, ontem, 150 mil cabeças de aves e 1,8 mil suínos, além de ter deixado de processar 1,5 milhão de litros de leite. Cerca de 2,3 mil funcionários ficaram ociosos, segundo o vice-presidente da Aurora, Neivor Canton. Apesar do relato, fontes do agronegócio descartam outros problemas devido à greve, como importação de fertilizantes ou de exportação de soja.

Ronaldo Silva, diretor de operações da Golden Cargo – companhia de logística voltada a insumos agrícolas – diz que passou a tarde de ontem estudando rotas alternativas. A empresa está evitando trafegar em algumas regiões do país.

Até o canal de televisão por assinatura SporTV foi afetado e cancelou a transmissão do jogo amistoso de futebol entre Cuiabá e Atlético-PR, marcada para as 21h30 de ontem. A unidade móvel de transmissão não conseguiu acesso à capital do Mato Grosso diante de um bloqueio.
Apesar das dificuldades, diversas outras companhias negaram ter enfrentado problemas durante a semana e amenizaram o tom de tensão. A América Latina Logística (ALL), de concessões de ferrovia, diz que não identificou nada que prejudicasse as operações contratadas por seus clientes. A JSL, maior operadora logística rodoviária do país, também disse que os problemas foram apenas pontuais.

No varejo, não há desabastecimento – apesar de haver maiores custos. A fabricante Dori Alimentos aponta um aumento de 10% nas despesas com logística. A fabricante de cigarros Souza Cruz fez uma operação especial. \”A companhia ativou seu plano de contingência para garantir o abastecimento do varejo em todo território nacional\”, informou a empresa em nota.

Para a fabricante de cerveja Heineken, \”até o momento os impactos foram pequenos, localizados em pontos específicos, mas nada que venha comprometer a operação\”. Tupa Gomes, presidente da Martin Brower – empresa de logística que atende restaurantes de fast-food -, diz que não nota grandes problemas. \”O grande estresse foi na segunda-feira, já foi resolvido\”, disse ele, que considera mais críticos os segmentos de medicamentos e combustíveis.

Reinvindicações
Os manifestantes reivindicam soluções para questões nacionais da categoria, entre elas a isenção do pagamento de pedágios para caminhões e mudanças na Lei do Descanso dos caminhoneiros, para flexibilizar a jornada de trabalho da categoria.

Em São Paulo, foi incluído o protesto contra a cobrança de pedágio por eixo vazio – a medida, prevista para começar na segunda, foi adiada. Para o ministro César Borges (Transportes), as reivindicações são \”impossíveis de serem atendidas\”.

Com informações do Valor Econômico, Folha de S. Paulo e Portal UOL