Após a paralisação dos caminhoneiros, quando uma das principais reivindicações era o valor do frete – considerado insuficiente para suprir até mesmo as necessidades mais básicas do motorista e de seu caminhão -, controlar todos os custos durante as viagens é a melhor maneira de se planejar para fazer o dinheiro render um pouco mais no fim do mês.
Enquanto se espera mudanças no valor do frete – e os motoristas entrevistados nessa reportagem começam a reportar melhoras – os carreteiros, na busca desesperada pela rentabilidade das operações nas estradas, aceitam o primeiro frete que aparece, negligenciando, de forma proposital ou não, os custos que aparecem. Por tanto, antes de aceitar uma viagem, a recomendação principal é ver se o valor oferecido cobre todos as despesas de ida e volta e, claro, se ainda sobra alguma margem de lucro.
O engenheiro Antônio Lauro Valdivia Neto, especialista em transporte e assessor da NTC & Logística, explica que o correto é anotar todos os recursos consumidos, bem como aqueles que por ventura foram esquecidos, como manutenção, pneus, despesas de viagem, combustível, taxas e impostos (licenciamento, IPVA, seguro obrigatório, RNTRC, taxa de vistoria de tacógrafo), seguro do caminhão e os custos com a depreciação do veículo.
Além dos custos por viagem, outra recomendação do especialista é fazer planilhas mensais, bimestrais, trimestrais e semestrais, pois dessa forma é possível fazer um balanço anual e saber se houve lucro ou prejuízo nas operações durante determinado ano.
Hoje o motorista autônomo tem em suas mãos diversas ferramentas para fazer o controle de custos: planilhas de papel, planilhas eletrônicas e, para os mais antenados e práticos, aplicativos de celular que, como as planilhas eletrônicas, são encontrados de forma gratuita. Diante dos recursos para controlar os custos para transportar, será que os motoristas estão se organizando com os custos apresentados para ter previsibilidade financeira ou esperam chegar ao fim do mês para ver quanto sobra no bolso?
Wilson Silva de Morais, de Caçapava/SP, afirmou que sempre analisa os custos e o valor que receberá pela viagem, com base na distância, gastos e possíveis imprevistos. “Em toda viagem tenho lucros e gastos e todos estão devidamente anotados nas planilhas. Antes, devido ao baixo valor do frete, não conseguia me planejar financeiramente. Hoje, a situação está minimamente melhor, pois já consigo reservar alguma renda para eventuais emergências ou até mesmo para fazer a troca do meu caminhão num futuro próximo”, relatou o autônomo.
Da mesma forma, o pernambucano do município de Surubim, Gildon João do Carmo, disse que primeiro fica atento ao valor do frete e depois faz os devidos cálculos. “Sempre transporto na rota Recife-São Paulo e guardo todas as notas fiscais, mas devido ao tempo apertado faço o balanço total no fim do mês”, disse, com a expectativa de que a situação do frete melhore após o movimento dos caminhoneiros. “Aliás, já está melhorando, mas se não acontecer o jeito é parar tudo outra vez”, insinuou.
O carreteiro Edson Emílio Schneider, de Domingos Martins/ES, disse que analisa tudo o que envolve a viagem antes de aceitar o frete. Ele ralaciona valores, desgaste das peças do caminhão, despesas gerais, peso da carga e tipo de rota que vai enfrentar. “Qualquer parafuso que eu tenha de comprar vai para a minha planilha, sempre ao final de cada viagem. Estou confiante de que o tabelamento do frete vai ajudar a me organizar ainda mais, já que vou ter previsão mínima de quanto posso ganhar no mês”.
Diante da situação, qualquer frete está valendo a pena no Brasil, comentou o autônomo Antônio Luís de Moura, de Frei Miguelinho/PE, que transporta na rota Recife-São Paulo-Bahia. “Com o valor que estava recebendo pelas viagens eu nem conseguia planejar; muito menos montar planilhas de custos”, desabafou. Disse que mesmo com o caminhão quitado enfrentava dificuldades, mas após a greve a situação melhorou. “ Havia muitos anos que a categoria reivindicava a correção do frete. Agora pode sair, e isso vai nos ajudar muito”, comemorou.
O pernambucano Luís Alberto Ferreira, também da cidade de Surubim, não desgruda de seu caderno por nada. A cada viagem o motorista relata todos os custos com o caminhão e diz que a situação dos autônomos melhorou após a paralisação. Lembrou que os gastos são muitos, ao ponto de que muitos colegas já estavam querendo se desfazer do caminhão, porque o frete não compensava. Ainda de acordo com Ferreira, com todos os custos detalhados e a melhora do frete, quem queria vender o veículo mudou de ideia e quer colocá-lo para rodar de qualquer jeito, “Mas, como eu costumo dizer aos meus companheiros, sem planejamento não há lucro, é preciso saber lidar com o bruto e com a caneta”, finalizou.