A Anfavea – Associação Nacional dos Veículos Automotores – promoveu ontem (13/06), em São Paulo/SP, seminário para discutir os “Caminhos para a retomada”. Estiveram presentes entidades do setor como a Fenabrave, Anfir, Anef, Fenabran, Sindipeças, AEA, e representantes das fabricantes de veículos pesados, DAF, Mercedes-Benz, Volvo, Ford, Iveco e MAN.
O presidente da Anfavea, Antônio Megale, abriu o painel ressaltando a queda do mercado de caminhões a partir de 2012. Em 2011, o mercado comercializou 170 mil veículos e em 2016 amargou uma queda de 70%, passando para 51 mil unidades. A previsão para 2017 é de uma ligeira melhora fechando em aproximadamente 52 mil unidades, porém esse número ainda não pode ser confirmado.
Megale destacou a variação mensal e do acumulado de 2017 em relação ao mesmo período em 2016. Existe uma redução da queda. Entre janeiro e abril foram comercializadas – 24,1% unidades em comparação com o exercício anterior. Já no acumulado de janeiro a maio essa queda passou para 19,4%. “Estamos olhando com muita atenção esses números. Embora haja uma redução da queda ainda está muito longe de chegarmos ao número do ano passado. Se em 2016 a situação já era dramática, em 2017 o problema é ainda maior”.
Mas apesar dessa realidade, Megale destacou que existem alguns fatores interessantes. Primeiro a safra recorde desse ano, fechada em 234 milhões de toneladas, que naturalmente contribui para a recuperação do agronegócio. Outros pontos são os investimentos em infraestrutura, importante para a retomada, crescimento do PIB – puxado pelo agronegócio e a grande expectativa dos empresários. “Sem as reformas trabalhistas, previdenciárias, entre outras, o Brasil vai ter dificuldade de ter esse equilíbrio fiscal e retomar a confiança dos investidores”, destacou Megale.
Qual o caminho da retomada?
Para os representantes das fabricantes a retomada no mercado de caminhões depende de estabilidade política e econômica e previsibilidade. “Precisamos pensar em algo previsível. Estamos em um momento complicado, mas é também uma grande oportunidade para deixarmos de fazer “cirurgias emergenciais” e passarmos para um “ transplante completo de órgãos”. Precisamos de soluções que não criem uma bolha como foi no passado. Precisamos trabalhar para aumentar a competitividade do País globalmente”, destacou o presidente da Volvo Bus Latin America, Fabiano Todeschini.
Todeschini, destacou que atualmente a Volvo do Brasil perde mercado para as próprias plantas na Suécia. “É mais barato vender da Suécia para a Colômbia do que do Brasil para a Colômbia. Por esse motivo quanto mais competitivos nós formos, melhor vai ser para o mercado brasileiro. Mas, para isso, é necessário ter estabilidade nas políticas. Tenho grande expectativa na rota 2030, que tenha uma política bem definida, de longo prazo, que nos permita olhar para frente. Precisamos de simplicidade e menos burocracia, destacou.
Para o vice-presidente da Iveco, Marco Borba, é inadmissível que o Brasil esteja em uma classificação tão baixa de competitividade. Hoje a dificuldade de exportar um veículo é muito grande por conta dos impostos. “Nós somos empresários de multinacionais e com certeza temos muita tecnologia lá fora que poderiam ser incorporadas no País para benefício do consumidor brasileiro e clientes latino americano. Por isso endosso a importância de uma política a longo prazo e de visibilidade. O plano para 2030 tem que ser fechado e estar acima de qualquer governo que assuma o cargo. Estamos falando de um plano de 20 anos e que não pode ser mudado a cada quatro anos com as alterações de governo. Hoje nós não temos isso. Até na questão de financiamento. Não conseguimos em outubro dizer qual a regra do finame para janeiro e isso dificulta a venda. Temos que trabalhar juntos para corrigir a rota”.
O presidente da Mercedes-Benz, Philipp Schiemer, acredita que o Brasil e o mercado de caminhões vivem uma situação dramática e é necessário tomar decisões emergenciais e criar soluções a longo prazo. “Na crise é onde temos as maiores oportunidades e quando realmente começamos a modificar as situações. Porém o Brasil precisa se tornar mais competitivo para as mudanças começarem a aparecer. Quem pensa que o mercado fechado vai salvar a indústria está enganado. Todos vamos ter que ceder um pouco. O governo de alguma maneira vai ter que incentivar a exportação, facilitar os trabalhos internos, reduzindo o custo Brasil, com juros elevados, legislação trabalhista cara. Esses itens deveriam ser ajustados. Como empresário temos que abrir o mercado, mas temos que ter condições de exportar mais. Temos que importar mais as tecnologias para poder exportar. Devemos pensar em um projeto para o País para o futuro, afinal queremos o Brasil inserido no mundo moderno”, opinou.
Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN Latin America, reforçou a questão da simplicidade e previsibilidade para iniciar a caminhada rumo a retomada. Ele cita as questões do Finame, dos impostos, taxa cambial, políticas. “Precisamos ser simples na previsibilidade. O governo tem que deixar as fabricantes trabalhar com situações estabelecidas, para que o nosso cliente não tenha expectativa que amanhã vai ter uma taxa de juros mais baixa ou subir de maneira drástica, ou que ano que vem não vai ter o Finame. Enfim, nós precisamos ter as regras claras para que todos trabalhem em conformidade. O caminho está aberto, apesar da situação crítica do País.
Alouche acredita que apesar de 2011 ter sido um ano pontual com várias condições que levaram ao resultado de 170 mil caminhões comercializados, o Brasil é grande o suficiente para voltar a esse patamar. “Quando analisamos a Alemanha por exemplo, já está tudo pronto, as estradas, as hidrelétricas, toda parte de infraestrutura, a chance percentual de crescer é limitada. Tanto é que quando o mercado cresce 5% é um fenômeno e quando cai 3% é crise total. E aqui entre 2011 e 2016 o mercado caiu 70% e apesar de estarmos um pouco enfraquecido lutamos porque acreditamos que o mercado vai voltar e quando voltar vai ser com força total”, explica.
O diretor de vendas, marketing e serviço para caminhões, João Pimental, acrescentou que acredita em uma retomada do mercado, porém não tem como precisar quando por contas das instabilidades políticas. “Acredito que esse cenário volátil vai permanecer por algum tempo ainda. A gente percebe que o cliente ainda não tem confiança para investir e vai postergar as compras. Enquanto isso temos que fazer a nossa lição de casa, melhorar a nossa eficiência, buscar alternativas, investir nas exportações, buscar ser competitivos nessas exportações. Acredito que já nos adequamos a nova realidade do País e quando o mercado voltar estaremos mais competitivos. A minha preocupação está em sustentar a rede nesse período e manter a confiança dessa rede no mercado de caminhões. Outro ponto é a renovação de frota. Se realmente tivermos um programa bem estruturado teremos um forte aliado na retomada além de melhorar a segurança, meio ambiente”.
Já o presidente da DAF, Michel Kuester, destacou que a DAF acreditava estar investindo em um País de transparência e previsibilidade mas que o atual momento econômico mostra características opostas. “ Essa transparência é importante. O Brasil tem que ter regras claras e previsíveis para nos ajudar a ser mais competitivos. Mas apesar do momento, em seis anos de Brasil nunca ví os clientes desejando tanto comprar caminhão. O momento é positivo mas precisamos dessas discussões para criar soluções a longo prazo para ajudar o mercado voltar a crescer”, finalizou.