A rotina do caminhoneiro é marcada por horários apertados para entregar as cargas e falta de infraestrutura adequada para atender as necessidades básicas do profissional. Todos esses fatores comprometem o sono do caminhoneiro por impedir que descansem corretamente. A consequência é o risco elevado de acidentes e o surgimento de doenças como obesidade, depressão, pressão alta, AVC entre outras.

“Todos nós indivíduos adultos devemos dormir entre sete e nove horas por noite. E dormir deve ser um ato diário e não apenas quando dá, ou no final de semana”, explicou Regina Margis, da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, a Abramet. 

Cuidar do sono, conforme explica Regina, é cuidar da saúde de uma maneira geral. Regina Margis ressalta que algumas pessoas desenvolvem tolerância a percepção da sonolência e isso é grave pois não busca tratamento adequado e a médio e longo prazo as consequências podem ser desastrosas.

Mas então vem a pergunta: como melhorar o sono do caminhoneiro se ele não consegue descansar adequadamente já que a estrada não oferece infraestrutura e as empresas estipulam horários apertados para carregar e descarregar?

 Caminhoneiros no Instagram

Na página do Instagram da Carreteiro fizemos algumas perguntas sobre a rotina do sono do caminhoneiro. 51% dos motoristas que participaram disseram não conseguir descansar na estrada. As justificativas são falta de segurança e lugar para parar, horário apertado para chegar ao destino, roubo na estrada, excesso de barulho nos pontos de parada, preocupação, calor.

A média de horas dormidas pelos profissionais varia entre 4 e 6 horas por noite. 65% garantem não ser horas suficiente para se sentirem realmente descansados. 72% disseram já ter cochilado na estrada e 95%  acredita que o cansaço é sim um fator de risco na estrada.

Falta de infraestrutura e horários prejudica sono do caminhoneiro 

A questão do tempo de descanso para os caminhoneiros é antiga e apesar da lei que regulamenta as horas para o motorista parar, ainda é um grande desafio fazer a lei ser efetivamente cumprida. Os fatores que comprometem o sono do caminhoneiro são vários, conforme alegam os profissionais. Entretanto, os principais são falta de infraestrutura na estrada e horários apertados para carga e descarga.

Na opinião de Joaquim Gonçalves Pereira, 18 anos de estrada, a má qualidade do sono do caminhoneiro realmente é um grande problema enfrentado. “O maior vilão é a falta de segurança nos locais onde existe a possibilidade de estacionar para descansar, além de pessoas, geralmente usuários de drogas, que ficam rondando e atrapalhando o sono do motorista”, desabafou. Em relação a Lei do Descanso, Joaquim acredita que funciona porém falta fiscalização.

higor

Higor Pereira, de Natal/RN, tem 41 anos e 16 de profissão, e carrega nos Estados do Piaui, Tocantins, Para e Maranhão. Ele acredita que os caminhoneiros enfrentam vários problemas na estrada que vão desde horários apertados para entrega até a precariedade das rotas e falta de fiscalização. “Quem não gostaria de ter uma boa noite de sono? Mas, como? Se os empresários querem que os motoristas cumpram metas. Além disso, quando paramos não temos segurança para descansar. E assim, muitos acidentes acontecem. Eu mesmo já senti sono Inúmeras vezes. Uma ou duas noites mal dormidas, para quem está dirigindo, é irrecuperável”, explicou.

“Quem não gostaria de ter uma boa noite de sono? Mas, como? Se os empresários querem que os motoristas cumpram metas?”

Para Higor seria muito importante uma política pública adequada e uma fiscalização eficiente nas empresas para fazer cumprir a Lei do Descanso e assim melhorar o sono do caminhoneiro. “As pessoas esquecem que somos profissionais, mas também seres humanos e que temos família. Hoje graças a Deus faço rotas mais curtas então consigo dormir bem”, afirmou.

gabrielPara Gabriel de Moura, de Itubiara/GO, mais de 10 anos de profissão, o sono e o cansaço não são os principais fatores negativos da estrada, são apenas duas consequências. “O desrespeito com a nossa classe é o principal fator. As empresas e as pessoas não nos enxergam como profissionais e sim como marginais, loucos e usuários de drogas. A falta de estrutura prova isso. Não temos um lugar descente para parar. Até mesmo quando estamos aguardando nas empesas para carregar ou descarregar ficamos em locais muitas vezes sujos, sem um banheiro descente ou um espaço adequado para fazer uma refeição mesmo que seja no próprio caminhão. Sem contar as horas que ficamos aguardando. Então, como descansar? Depois de passar por tudo isso, o que o motorista quer? Claro que é ir para a casa e descansar descentemente”, desabafou.

“Não temos um lugar descente para parar. Até mesmo quando estamos aguardando nas empesas para carregar ou descarregar ficamos em locais muitas vezes sujos, sem um banheiro descente ou um espaço adequado para fazer uma refeição “

Gabriel reforça que o motorista sabe que é importante descansar para promover um trânsito mais seguro. Porém, questiona de que maneira fazer isso se a rotina de trabalho do caminhoneiro é cercada de situações que o colocam em risco a todo momento. “Em resumo, não temos lugar seguro, somos desrespeitados e não existe estrutura adequada na estrada para permitir uma noite de sono tranquila ou momentos de descanso”, opinou.

antonio

Para Antônio Benedito de Souza (QRA Vamp), de 54 anos, 35 de profissão, de Guarulhos/SP, os caminhoneiros não conseguem descansar adequadamente. A principal dificuldade são os horários estipulados pelas empresas. “O caminhoneiro muitas vezes não consegue dormir mais de seis horas. As vezes chega a descansar apenas duas horas entre um trecho e outro. E assim acordam cansados. No caminhão, nem sempre tem uma cama confortável. E o corpo não relaxa. Portanto, para mim, o sono é assim um dos grandes problemas da estrada.”

Antônio chama atenção para a realidade dos caminhoneiros na estrada e algumas questões que comprometem a segurança. “A maioria dos caminhoneiros já sentiu sono e mesmo assim segue viagem e outros inclusive chegam a cochilar provocando acidentes. Outro ponto é que muitos colegas usam rebite e drogas para poder seguir. Mas quem sou eu para falar para um parceiro. Estou na estrada há 35 anos e eu vejo muitos usarem. Por isso eu repito, o sono faz os motoristas encontrarem alternativas perigosas para poder aguentar. Porém, isso compromete a segurança de todos os usuários”, explicou.

“Por isso eu repito, o sono faz os motoristas encontrarem alternativas perigosas para poder aguentar. Porém, isso compromete a segurança de todos os usuários”

Na opinião do Antônio, um pouco da responsabilidade está nas mãos do caminhoneiro. “É importante ter a consciência que o sono ou as substâncias usadas para manter a pessoa acordada prejudicam sim a segurança e pode provocar acidentes fatais. Está faltando motoristas sérios e comprometidos”, afirmou.

sergioSérgio Marques de Almeida, 50 de idade, 31 anos de profissão, de Petrópolis/RJ, também acredita que o sono é um grande vilão na estrada. “Por falta de não dormir,  tentar fazer o horário, que  muitas vezes são apertados e não existir lugares adequados para o descanso  os motoristas acabam não respeitando o descanso de 11 horas e fazem uso de drogas ilícitas o que acaba comprometendo a segurança de todos na estrada. É importante o caminhoneiro ter a consciência de que dormir, cuidar da saúde e se alimentar bem, está diretamente ligado a segurança”, aconselhou.

“É importante o caminhoneiro ter a consciência de que dormir, cuidar da saúde e se alimentar bem, está diretamente ligado a segurança”

Wagner Rubio Arroyo, São Paulo/SP, tem 20 anos de estrada, tem opinião de que dirigir cansado é uma ação ilegal que certos motoristas fazem. Wagner afirma ser difícil manter a rotina da estrada, porém, é importante ter consciência dos perigos que envolvem dirigir cansado.

Como saber se tenho distúrbio do sono?

wagner

“Vou dar um exemplo de uma situação. Sai do Guarujá/SP, onde descarreguei um container, e fui para Santos pra carregar outro e subir até Salto para descarregar. Saí por volta das 1h30 da manhã e às 5h10 cheguei no cliente. Cansado e com sono, parei no final da Anchieta para acessar a área de restrição, tomei um café e peguei uma coca cola. Depois dei um cochilo até umas 7 horas, depois descarreguei e voltei para casa. Cheguei 1 hora da tarde tomei um banho e dormir. Normalmente eu durmo em casa depois que eu saio de madrugada para ir descarregar ou carregar, adotei essa regra depois de fazer muitas vezes essas jornadas sem dormir direito. Hoje eu curto muito mais meu filho e me sinto mais seguro”, relatou.

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