A escassez de motoristas de caminhão se tornou urgência e preocupa cada vez mais o setor de transporte rodoviário de cargas. O desinteresse dos jovens pela profissão dificulta a renovação da força de trabalho, enquanto grande parte dos profissionais em atividade já está com idade avançada e próxima de se aposentar.

Uma pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) revela que 26,9% dos motoristas estão na faixa etária de 40 a 49 anos. Diante desse cenário, o setor teme que um grande volume de profissionais se aposente nos próximos anos sem reposição adequada.

Ademais, outro dado  relevante, levantado pela Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), indica que mais de 37% dos motoristas autônomos deixarão a profissão até 2026. Sendo assim, para transportadores, a solução exige medidas urgentes para atrair jovens ao segmento.

Gustavo Krás, coordenador do núcleo Comjovem Porto Alegre, atribui a escassez de motoristas a diferentes fatores. Segundo ele, as mudanças nas profissões ao longo do tempo e a falta de interesse da juventude impactam diretamente a categoria.

“Os jovens de hoje pensam diferente. Ser motorista exige desprendimento, pois envolve viagens longas e distanciamento da família e dos amigos. Em virtude disso, a juventude está muito focada no entretenimento, a profissão acaba perdendo apelo”, analisa.

Outros desafios que afastam os jovens da profissão de motorista

Além disso, outros desafios também afastam os jovens. A insegurança nas estradas, os horários apertados e os salários pouco atrativos, exceto em alguns casos, tornam a profissão menos desejada. Apesar disso, Krás defende que a carreira ainda é uma boa oportunidade.

“Mesmo com as dificuldades impostas pela legislação, os salários podem ser muito bons. Para quem não tem qualificação específica, a profissão pode oferecer ganhos atrativos e estabilidade financeira”, destaca. Nesse sentido, ele acredita que o setor precisa investir na base para atrair novos talentos.

Por outro lado, Delmar Albarello, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), aponta a legislação como outro fator crítico. Ele cita como exemplo a lei que exige descanso obrigatório no sétimo dia de trabalho. “Essa regra muitas vezes impede que o motorista aproveite o tempo com a família, causando desmotivação e dificultando a atração de novos profissionais”, ressalta.

Projetos nas escolas para mostrar vantagens de ser motorista

Para Albarello, uma solução seria implementar projetos nas escolas para mostrar aos jovens as vantagens da profissão, os benefícios financeiros e a qualidade de vida. “A sociedade precisa enxergar que ser caminhoneiro pode ser uma carreira interessante”, afirma. Ele também destaca a evolução tecnológica do setor. “Os caminhões modernos têm tecnologia de ponta, proporcionando mais conforto e tornando o trabalho menos desgastante”, conclui.

Outra medida para reduzir  a escassez de motoristas é aumentar a participação feminina. Hoje, as mulheres representam apenas 0,5% dos caminhoneiros autônomos, segundo pesquisas recentes da CNT. Portanto, expandir as oportunidades para esse público pode ser um passo importante para equilibrar o mercado de trabalho e fortalecer o setor.

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Escassez de motoristas é problema Global

Em âmbito global, a escassez de motoristas de caminhões e ônibus já é um problema mundial. De acordo com o relatório de 2022 da IRU (União Internacional dos Transportes Rodoviários), a demanda crescente por transporte e o envelhecimento dos profissionais agravam a situação na Europa

Nesse contexto, O estudo aponta que a diferença entre aposentados e novos motoristas pode triplicar a taxa de vagas não preenchidas. Até 2026, mais de 60% das posições podem ficar abertas.

Por fim, se nada for feito para tornar a profissão mais atraente e acessível, a Europa pode perder mais de dois milhões de motoristas já no próximo ano. Isso afetaria metade das cargas transportadas e milhões de viagens de passageiros.