Um dos principais desafios é atrair jovens para ser motorista de caminhão. A escassez de mão de obra é cada vez mais perceptível e preocupa transportadores, embarcadores e entidades do setor. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) tem alertado os poderes Executivo e Legislativo sobre o cenário desestimulante para o transporte rodoviário de cargas.
Dados da Fetrabens – uma das nove federações que fazem parte do Sistema CNTA, realizou estudo que estima que mais de 37% dos motoristas autônomos se aposentarão até 2026. Hoje são cerca de 615 mil profissionais autônomos com o RNTRC em dia para transportar.
“A longo prazo a não renovação de mão de obra trará a falta de profissionais e problemas na logística do transporte rodoviário de cargas, com sobrecarga e pressão sobre caminhoneiros atuantes”, opinou Alan Medeiros, assessor institucional.
Pesquisa Nacional Realidade do Transportador Autônomo de Cargas 2024, realizada pela CNTA, identificou baixa presença de jovens na profissão de motorista de caminhão. Dos 1006 entrevistados, somente 2% dos entrevistados têm menos de 25 anos e 17% estão na faixa etária entre 26 e 35 anos. Por outro lado, 19% têm entre 56 e 65 anos e 4% possuem 66 anos ou mais. A maior parte dos caminhoneiros tem entre 36 e 55 anos (58%).
Motorista de caminhão: fatores afastam jovens da profissão
ROTINA DE TRABALHO:
a maioria dos caminhoneiros autônomos brasileiros tem rotina de trabalho variando de 9 a 12 horas diariamente (65%), mas um em cada quatro profissionais afirma permanecer na função mais de 13 horas por dia. Além disso, 35% afirmam trabalhar entre 21 e 25 dias mensalmente e 36% entre 26 e 31 dias. Isso representa uma média de R$ 39,50 por hora trabalhada e uma renda mensal média de R$ 10 mil.
34% dos entrevistados responderam que permanecem em descanso de sete a nove horas e 28% disseram descansar menos de sete horas por dia. Metade dos profissionais não tira férias todos os anos e 46% disseram que pretendem sair da profissão no futuro.
SAÚDE COMPROMETIDA
De cada cinco profissionais entrevistados, um afirmou que nunca realiza check-up de saúde; 15% fazem check-up a cada 3 anos, 16% a cada dois anos e 49% pelo menos uma vez ao ano. Vinte e um por cento disseram nunca ir ao dentista. Quando questionados sobre o uso de substâncias psicoativas, 35% dos caminhoneiros entrevistados disseram que fumam e 25% admitiram ter usado estimulante (rebite) pelo menos alguma vez. Com relação a remédios, 31% afirmaram que tomam medicamento de uso regular. Quase metade (47%) afirmou ter algum problema de saúde.
FALTA DE SEGURANÇA
A falta de segurança é um fator importante quando o jovem considera seguir a profissão de motorista de caminhão. 50% dos caminhoneiros entrevistados disseram nunca se sentir seguros nas rodovias, 34% raramente, 13% na maioria das vezes e apenas 3% afirmaram sempre. Além diss, 46% dos caminhoneiros disseram terem sido vítima de furto/roubo de carga ao menos uma vez e 9% já foram assaltados três veze sou mais.
IDADE MÉDIA DOS CAMINHÕES
A Idade média dos caminhões e a falta de programas adequados para a renovação da frota também desanima o ingresso na profissão. Segundo a pesquisa, a média de idade dos caminhões é de 11 anos, a maioria dos entrevistados (64%) disse estar com o veículo quitado e 15% afirmaram sentir necessidade de trocar o caminhão. O impacto do preço do óleo diesel para abastecer o caminhão é considerado “muito alto” para 68% dos caminhoneiros autônomos.
LEIS NÃO CUMPRIDAS
Os transportadores autônomos também foram consultados sobre a percepção do cumprimento de leis no transporte de cargas. A “Lei da Estadia” (Lei 11442/07), que determina o pagamento ao caminhoneiro pelo tempo de espera para carregar e descarregar superior a cinco horas, não é cumprida nunca na avaliação de 38% dos entrevistados; 31% disseram que a lei é cumprida raramente; 19% na maioria das vezes; e 12% sempre.
O Vale-Pedágio (Lei 10209/01), valor que deve ser pago ao transportador a cada viagem pelo dono da carga, nunca é respeitado na visão de 30% dos autônomos; 28% afirmam que a lei é cumprida raramente;17% na maioria das vezes; e 25% sempre.
Os caminhoneiros também apontaram suas percepções quanto ao cumprimento da Lei do Piso Mínimo de Frete (Lei 13703/18). Um em cada três autônomos afirmou que raramente esse direito prevalece nas negociações e 35% disseram “nunca”. Dezoito por cento apontaram que o piso é respeitado na maioria das vezes e 14% “sempre”.