Preço do combustível mais baixo, maior valor do frete e juros bancários reduzidos para facilitar a troca do caminhão têm sido há anos expectativas de muitos motoristas autônomos. Essas e outras questões já conhecidas estão presentes tanto na rotina de caminhoneiros que trabalham com o próprio caminhão quanto de parte de outros pequenos transportadores fragilizados pela baixa produtividade e rentabilidade.

Quando o carreteiro autônomo consegue trocar de caminhão, na maioria dos casos é por outro poucos anos mais novo. Assim, sua sobrevivência vai ficando mais difícil no mercado cada dia mais competitivo e exigente. Segundo dados do Registro Nacional do Transporte Rodoviário de Carga (RNTRC), a idade média da frota do autônomo é de 20,3 anos, contra 10,11 anos da frota de empresas de transporte. Os números apontam ainda um total de 2.209.940 caminhões cadastrados, dos quais 837.988 são dos autônomos.

Caminhoes mais antigos

Na pesquisa de 2019 da Confederação Nacional do Transporte (CNT), para identificar o perfil do caminhoneiro autônomo, a idade média dos caminhões da categoria aparece como de 18,6 anos. Caminhão mais novo é apontado por especialistas do setor como um item importante para a ascensão do autônomo no mercado de trabalho, além de outras ações, como fazer contas e planejamento para chegar ao veículo seminovo ou Okm.

ALEX NUCCI24 sCANIA

“Do ponto de vista da redução de consumo de combustível, e da manutenção de um caminhão mais antigo, o seminovo ou 0km já contribuem para o autônomo a ter uma diferenciação no mercado frente aos seus concorrentes”, diz o diretor de vendas de soluções de transportes da Scania, Alex Nucci. Ele acrescenta que sistemas de gestão para ajudar o motorista a tirar maior proveito da máquina e plano de manutenção para dar previsibilidade, são vistos pela montadora como soluções que podem contribuir para o autônomo se fortalecer.

Nucci diz entender a dificuldade para ser dado esse primeiro passo, ainda mais quando a diferença de preço de um caminhão usado para um seminovo ou novo é muito grande. “Mas se houver um planejamento para fazer a troca a cada três ou quatro anos, após alguns ciclos o caminhoneiro pode conseguir chegar no caminhão com cinco anos de uso, e numa próxima troca dar o passo para veículo mais novo ou até 0Km”, calculou.

Com experiência de anos de trabalho na área bancária, e relacionamento com clientes de caminhão Scania, adquirida antes de assumir o atual cargo na Scania, Nucci diz acreditar muito em resultado em resultado positivo neste caminho para o autônomo que consegue se programar.

“Conforme ele vai pulando para o caminhão mais novo, as taxas de juros também são menores que as cobradas para o financiamento de um caminhão de 10 ou 15 anos de idade, em que o risco é considerado maior.

Na sua percepção, a conta do motorista autônomo pode reduzir de forma exponencial com o caminhão mais novo. “Ele sai de um veículo que consome mais combustível e mais peças e serviços; sai também de uma prestação maior. Conforme ele vai se programando, o valor da parcela vai reduzindo, assim como os custos de manutenção e de consumo. Por isso eu acredito muito que esse pode ser o pensamento e o caminho”, justificou.

Outro ponto a ser considerado pelo autônomo neste processo, explica Nucci, é a questão da produtividade, pois quando ele vier a oferecer serviço com o caminhão mais novo, o valor do frete será melhor, porque o veículo garante mais disponibilidade. “Vale considerar também a maior velocidade média e até mesmo o leque de oportunidades que se abre cada vez mais, porque os grandes embarcadores buscam garantia de que o produto chegará ao destino no menor tempo e com o menor custo possível”, concluiu.

ACESSO AO CRÉDITO

De modo geral, novo ou usado o motorista autônomo compra caminhão sim”, afirma Wilson Ragusa, supervisor de vendas de caminhões da Volkswagen. Em sua opinião, para melhorar a condição da categoria é necessário melhorar seu acesso ao crédito pois existem ferramentas para esse fim.

Wilson VW

“Ações em conjunto com o governo também são muito bem-vindas, como são os casos de programa de renovação de frota”, acrescentou. Ragusa destaca ainda a grande a grande importância da categoria para a indústria de caminhões, pois muitos motoristas autônomos trabalham agregados a grandes transportadoras ou realizam o transporte de cargas contratados por médias e pequenas empresas.

Sobre qual poderá vir a ser o futuro do autônomo frente às baixas margens de lucro e a necessidade de atualização, e de maior profissionalização, no entendimento de Ragusa de trata-se de um profissional com necessidade cada vez maior de atualização e estar conectado. “A VWCO segue se adaptando para apoiar o motorista nesse sentido, sempre disponibilizando novas ferramentas, como também produtos mais interativos, inteligentes e conectados. Oferece também oferece treinamentos para sua rede, que se torna multiplicadora para os motoristas”, finalizou.

Para o diretor comercial da Iveco, Ricardo Barion, o caminhoneiro autônomo tem papel fundamental para a indústria ao movimentar o mercado de usados e seminovos. No entanto, ele acredita que este perfil vem mudando com o crescimento de opções de crédito para este transportador adquirir o caminhão novo. Ele cita como exemplo as condições do banco da montadora, cuja linha de crédito mais usada pela categoria é o CDC, com 0% de entrada e até seis meses de carência para a primeira parcela, incluindo a condição de taxa também zero em 12 meses com 50% de entrada, referindo-se a um modelo específico da marca.

Ricardo Barion Iveco

Barion cita também o consórcio como opção para a aquisição de caminhão por oferecer condições de parcelas reduzidas até a contemplação. “Quem planeja a compra se beneficia dos custos mais baixos em relação ao oferecido pelo modelo modelo financeiro. E com o veículo nas mãos, o caminhoneiro tem oportunidade de melhorar seu faturamento com parcela acessível e sem juros, pois o consórcio cobra apenas a taxa de administração e Um fundo de reserva que são diluídos no total do prazo da cota”, explicou.

No entanto, pondera que a melhoria de condição do caminhoneiro autônomo está associada ao aumento do valor do frete, à redução dos custos com combustível e pedágio. Barion cita também a idade avançada da frota e a necessidade da ampliação do crédito e melhores condições nas estradas e cidades para que este profissional não tenha prejuízos com reparos no caminhão provocados pela falta de infraestrutura. “O poder público precisa valorizar mais o caminhoneiro autônomo, pois ele transporta boa parte da economia brasileira”, adicionou.

Já o diretor de vendas e Marketing Caminhões da Mercedes-Benz do Brasil, Ari de Carvalho, aponta a relevância do autônomo como prestador de serviços para empresas de transporte e logística, ajudando-as a atender as demandas de seus clientes, especialmente em momentos de picos de entrega. “A qualidade do serviço e o comprometimento dos caminhoneiros autônomos levam muitas empresas a optarem por esse tipo de parceria, o que também comprova a importância do profissional autônomo”, observa.

Ari de Carvalho Diretor de Vendas e Marketing Caminhoes da Mercedes Benz do Brasil 2

Carvalho ressalta a importância do autônomo para garantir a liquidez de caminhões novos, porque é ele quem compra os usados e, assim, viabiliza que as grandes empresas comprem modelos novos. Em sua opinião, os autônomos conhecem como poucos a realidade do transporte no Brasil, por isso temos ouvido cada vez mais o que eles têm a dizer para que a Mercedes-Benz possa criar soluções para cada demanda.

Na sua visão, para a o caminhoneiro melhorar sua condição financeira, além de suas qualidades profissionais como motorista especializado em veículos de carga, ele deve se dedicar a outros conhecimentos, como, por exemplo, planejamento e educação financeira. “Isso lhe trará muitas vantagens, pois sabendo colocar tudo na ponta do lápis ele poderá controlar suas despesas e alcançar um melhor custo operacional em sua atividade de transporte, otimizando os seus ganhos e, principalmente, os seus lucros”, disse.

Ainda de acordo com o executivo, esse conhecimento contribui também para a assertividade na hora da compra de um caminhão novo ou seminovo. “Isso porque o planejamento vai possibilitar a projeção sobre qual é a melhor opção, se um financiamento por CDC (Crédito Direto ao Consumit), Finame, Leasing, consórcio, a troca envolvendo usados ou outras alternativas”, relacionou.

Diante das margens de ganho cada vez menores, da necessidade de atualização e de maior profissionalização do caminhoneiro autônomo, Ari de Carvalho acredita que o futuro da categoria passa também pela familiarização e atualização em relação à Internet das Coisas, a conectividade e tecnologias digitais. Não somente porque os caminhões estão cada dia mais avançados, trazendo recursos modernos, como também em razão do avanço dos processos de logística e transporte.

“O mercado está cada vez mais 4.0, como os nossos caminhões e os serviços oferecidos pela nossa marca; o caminhoneiro autônomo terá de seguir nesse caminho. Isso levará ao seu crescimento profissional e a muito mais ganhos com seu caminhão e com sua atividade de transporte”, concluiu Carvalho.

COMPRA DO SEMINOVO

De todo modo, os caminhoneiros autônomos são uma categoria importante para os fabricantes de caminhões, conforme reforça o diretor executivo de caminhões da Volvo, Alcides Cavalcanti. “Em 2021, cerca de 20% das nossas entregas foram para autônomos. Se olharmos somente para a linha VM, composta por caminhões semipesados e pesados, esse número chega quase a 30%, afirmou.

O executivo destacou que mesmo num cenário de desafios há caminhoneiros autônomos investindo em veículos mais modernos, para melhorar sua competitividade e aumentar seu lucro. Ele cita também o segmento de modelos seminovos comercializados em rede nacional pela marca, no qual a Volvo  tem grande demanda da categoria ou pequenos frotistas, conforme disse.

alcides cavalcanti 2

Alcides Cavalcanti destaca ainda que quase 50% dos atendimentos nas concessionárias da rede Volvo são para caminhões de 4 a 10 anos de idade e boa parte deles de motoristas autônomos. “Ou seja, a rede Volvo tem grande foco em atender bem esses profissionais”, afirmou. O executivo concorda também que o melhor caminho para esse profissional melhorar sua condição financeira seja sempre o da compra escalonada de caminhão, com planejamento financeiro e visão a longo prazo. “Normalmente o autônomo inicia com um caminhão usado, depois passa para um seminovo e finalmente consegue chegar a um 0km”,

No entanto, ele lembra que para fazer essa escalada é preciso contar com veículos de custo operacional baixo, que consomem pouco combustível e com custos de manutenção compatíveis.  Conta que Volvo tem muitos casos de clientes que compraram  modelos seminovos diretamente da montadora e com a rentabilidade obtida com os veículos conseguiram depois comprar veículos novos da marca.

Alcides Cavalcanti lembra que independente da profissão, o mercado é cada vez mais competitivo. E no caso do caminhoneiro autônomo, mesmo trabalhando com caminhões cada vez mais modernos, fáceis e seguros de dirigir, é necessário se atualizar sempre em termos de visão de negócios, calculando receitas e despesas para ter sempre lucro a longo prazo.

O diretor executivo de caminhões Volvo acrescenta que mesmo diante dos desafios atuais, a profissão de caminhoneiro e o trabalho dos motoristas autônomos continuará em expansão. Sobre o futuro da categoria, diz que os profissionais continuarão a ter um papel fundamental no transporte rodoviário de carga. Para 2021, ele aposta em um crescimento na demanda por caminhões, pois o Brasil é um País onde 60% das mercadorias seguem por rodovias.