A safra é o momento mais aguardado para todos que participam da cadeia do transporte. A expectativa para 2025 é de novo recorde. Após a conclusão do plantio das culturas de 1ª safra e intensificação dos trabalhos de colheita destes produtos, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), atualizou a estimativa da produção de grãos na safra 2024/25 para 328,3 milhões de toneladas.
Esse número é 10,3% se comparado com o volume obtido no ciclo anterior, o que representa um acréscimo de 30,6 milhões de toneladas a serem colhidas em relação a safra anterior. O resultado reflete tanto um aumento na área plantada, estimada em 81,6 milhões de hectares, como em uma recuperação na produtividade média das lavouras, projetada em 4.023 quilos por hectare.

Dados divulgados recentemente pelo IBGE, baseado na estimativa do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) aponta aumento na soja de 13,4% em comparação à safra do ano passado, chegando a 164,4 milhões de toneladas. Para o algodão, são nove milhões de toneladas, acréscimo de 1,8% em relação a 2024. Quanto ao milho, a estimativa da produção é de 124,8 milhões de toneladas, crescimento de 8,8% em relação ao volume produzido em 2024. O arroz também teve bom desempenho projetado, com aumento de 7% em relação ao ano anterior.
O cenário é positivo e animador principalmente para o transportador e caminhoneiro, que muitas vezes aproveitam essa fase para aumentar o faturamento e fazer pequenos investimentos.

Joyce Bessa, diretora de estratégia e gestão da TransJordano, explica que a empresa atende ao agronegócio e movimenta produtos como fertilizantes, soja e açúcar. O serviço prestado acontece desde a coleta nas fábricas ou áreas produtoras, como fazendas, até a entrega nos portos, terminais ou entre unidades industriais. Apesar de operar em todo o Brasil, a concentração maior está no Centro-Oeste durante a supersafra.
Para esse ano, mesmo com as expectativas positivas, Bessa ressalta alguns pontos de atenção. “Sou otimista e acredito que 2025 será um ano de safra recorde. No entanto, o mercado apresenta desafios, como o fechamento de fábricas de fertilizantes, o que pode gerar oscilações. Além disso, já enfrentamos gargalos logísticos, com filas extensas em regiões estratégicas como o Centro-Oeste, impactando os tempos de carga e descarga. A infraestrutura será um fator determinante para o sucesso dessa safra”, destaca.
Bessa ressalta o fato da safra ter um alto volume de movimentação que impulsiona não apenas o agronegócio, mas toda a cadeia produtiva, incluindo indústria e serviços. Esse impacto positivo se reflete diretamente no PIB do Brasil, fortalecendo a economia nacional. “O maior desafio, especialmente na supersafra, é a infraestrutura logística. Filas longas impactam diretamente a produtividade, reduzindo o quilômetro rodado e aumentando o consumo de diesel. Para minimizar esses problemas, investimos em inteligência logística e inteligência artificial, otimizando a alocação dos caminhões e reduzindo o tempo de espera nos pontos de carga e descarga”.

Os longos períodos de espera talvez seja um dos grandes desafios da safra no Brasil, pois prejudica diretamente toda a logística desse tipo de transporte, desacelera o processo de escoamento e interfere diretamente no dia a dia do caminhoneiro.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte de Rondonópolis e região, Afonso Aragão, atua nos principais pontos de embarque e desembarque de safra. Na sua visão, ao longo do trabalho de visita a esses locais espalhados pelo Brasil, a falta de estrutura e organização está entre os principais entraves. Afinal, como Aragão definiu, “caminhão parado é prejuízo para a economia do Brasil”.
“As filas são resultado da falta e estrutura para receber o volume de caminhões e cargas produzidas. Essa realidade se torna um grande desafio durante a safra, principalmente para os caminhoneiros. Esses profissionais, geralmente estão longe de casa e ficar dias nessas filas aguardando para descarregar. E esses locais não oferecem infraestrutura mínima de conforto e segurança. Além disso, temos uma lei que exige o descanso de 11 horas. Mas, como ele vai cumprir? Sem contar que muitos são comissionados e acabam perdendo dinheiro”, disse.

Safra: caminhoneiros reclamam da defasagem de frete 

Para boa parte dos caminhoneiros, a safra não é mais um período de bom faturamento. Todas essas dificuldades, somado ao valor defasado do frete, tem provocado desânimo mesmo diante de estimativas tão positivas. É o que concorda Adieuson de Lucena Alves, 40 anos de idade, 22 anos de profissão, de São João dos Patos/MA. Na ocasião da reportagem, ele estava puxando grão para São Luiz/MA.
“O valor diminuiu bastante o que acaba com toda a margem de lucro. Na minha região, a soja não foi tão boa pois não choveu o suficiente. As expectativas para o ano são de fretes baixos e sem melhora. Infelizmente não existe fiscalização adequada para fazer valer a lei de tabela mínima de frete. E mesmo que exista esse valor não está sendo repassado”, reclama.
Adieuson é autônomo e diz que essa situação de frete baixo e falta de fiscalização prejudica o trabalho. A gente se obriga a carregar com valor inferior para conseguir pagar as nossas contas em dia. Mas não é fácil. Hoje existe uma fiscalização muito severa em cima da condição do caminhão e também do horário de descanso. Outro desafio para o caminhoneiro e agricultor da safra é a falta de melhorias nos pontos de descarga. Temos que aguardar até três dias nas filas nos períodos de pico”, destacou.

Paulo Ubirajara Galdino Bezerra, 22 anos de profissão é de Campina Grande/PB, mas atualmente mora com a fampilia em Sinop/MT, para facilitar o trabalho na safra. Na sua opinião o movimento foi bem franco entre novembro e dezembro do ano passado. “Confesso que as minhas expectativas não eram boas. Porém no início do ano o movimento e o preço ficaram bons e fiquei animado. O preço de Sinop a Miritituba/PA ficou R$ 315,00. Porém, hoje esse valor já caiu para R$ 240,00”, explica.
Para Paulo alguns fatores prejudicam o bom desempenho durante a safra. Ele cita a questão da manutenção. “É difícil arcar com essa despesa já que o preço tende a cair ao longo dos meses. Quem trabalha com soja tem que estar atento a essas oscilações. É preciso se organizar para quando chegar os meses de baixo faturamento não se enrolar. Seria muito bom se os preços pudessem ser mantidos”, desabafou. Outros fatores que interferem em um bom desempenho na safra são o cumprimento das onze horas de descanso, escoamento eficiente por conta das filas de até 30km e falta de motorista.

Para o autônomo Jaque Luciano Drescher, de Nova Mutum/MT, 53 anos de idade e 33 de profissão, as expectativas para esse ano eram boa. Porém, em apenas 40 dias se decepcionou com os valores dos fretes no Mato Grosso. “Sou proprietário de quatro rodocaçamba. Um tinha deixado para rodar na estrada e três trouxe para o trabalho na lavoura. Porém, acabou os produtos da lavoura e os preços caíram. A margem do nosso lucro está muito baixa. O transporte vai entrar em colapso”, disse.
Jaque acredita em uma colheita frustrada no Sul, estima quebra de até 50% e reflexo no Mato Grosso. Na sua opinião, boa parte da classe dos autônomos deve deixar a profissão pois é cada dia mais difícil dar conta das despesas com um faturamento tão baixo. “Esse problema é observado também em empresas grandes. Em 2024 muitas empresas não aguentaram. O aumento dos custos e a queda nos preços reduziram os investimentos por parte dos produtores. O agronegócio movimenta o transporte. Portanto, quando está instável reflete na economia do País.

Oseias de Lima Guimarães, Sinop/MT, é autônomo e tem 18 anos de profissão. Está trabalhando em uma fazenda na região de Alta Floresta, em Nova Monte Verde/MT. Ele conta que as chuvas trouxeram dificuldade para o transporte pois as estradas são de terra e isso dificulta a colheita e o transporte. Mas, apesar desses fatores, Oseias acredita que a safra será boa com resultados positivos para boa parte dos envolvidos.
“Mas, no caso do caminhoneiro, o frete ainda preocupa, pois ele não tem acompanhado o aumento das despesas. Sou autônomo e a minha margem está baixa. Antes conseguia lucrar com pelo menos 40% e hoje esse valor caiu para 25%, os outros 75% fica para o diesel, pedágio e manutenção do caminhão”, disse.
Na sua opinião, toda essa instabilidade do frete na safra não traz uma previsibilidade boa para os motoristas de caminhão. “O respeito com a classe dos caminhoneiros era grande antes. Não sei explicar, mas sinto que existiu uma época onde ganhava-se menos mas se conseguia mais e o frete era melhor”.

Kaciély da Silva Rodrigues, 30 anos, de Sinop/MT, decidiu no final do ano passado sair da estrada para trabalhar em uma fazenda como motorista. Fez sua primeira safra na lavoura em janeiro. Em relação aos pontos negativos ela citou a falta de estrutura para atender a mulher que decide atuar nesse tipo de transporte. “A falta de banheiro, continua sendo a principal reclamação e pesa bastante. No momento da descarga tive que lidar com os olhares dos homens mais velhos. Então acabava me fechando dentro da cabine quando estava sozinha”, contou.
Porém, Kaciély cita que um dos fatores mais positivos dessa migração foi poder estar mais perto da família. Atualmente ela trabalha com a família. “Estar próximo de quem se ama é ótimo. Além disso, o ganho é melhor em relação ao faturamento, já que alguns custos foram eliminados, e também a segurança por não estar no dia a dia da estrada”, disse Kaciély que na ocasião da reportagem aguardava para iniciar a sua primeira participação na safra do milho.

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