A falta de segurança na estrada ainda é um desafio enfrentado pelos caminhoneiros. Diariamente esses profissionais lidam com dificuldades como a falta de infraestrutura e de fiscalização nas rodovias, imprudência de alguns motoristas e ausência de locais seguros para descansar e cumprir a lei que determina o tempo de direção.  

A última pesquisa CNT Perfil dos Caminhoneiros realizada pela CNT – Confederação Nacional dos Transportadores- confirma que a falta de segurança na estrada é sim um dos pontos negativos da profissão. Segundo o documento, 65,1% dos profissionais entrevistados consideram como ponto negativo o fato de a atividade ser perigosa/insegura.

Com relação à segurança, 7% dos caminhoneiros informaram ter tido seu veículo roubado pelo menos uma vez nos últimos dois anos. Outro dado significativo é que 49,5% dos profissionais já recusaram viagens por conta do risco de roubo/assalto durante o trajeto. A pesquisa também revela que 64,6% dos caminhoneiros consideram os assaltos e roubos como o principal entrave à profissão.

Dados da Assessoria de Segurança da NTC&Logística mostram que em 2022 foram registrados 13.089 roubos de cargas que resultaram em um prejuízo para o setor de um milhão e duzentos reais. A região sudeste permanece em primeiro lugar na estatística concentrando 85,18% dos casos (31,32% RJ e 45,23% SP).

A falta de fiscalização e a imprudência na direção também são apontados como fatores que aumentam o clima de insegurança na estrada. Prova disso são os números divulgados pela Polícia Rodoviária Federal. Em 2023 foram computados 78.322 acidentes (mortos e feridos) nas rodovias federais e desse total quase 24% (18.598) envolveram caminhões.

E, por fim, e tão importante quanto os demais fatores para a falta de segurança está a ausência de infraestrutura viária, principalmente quando diz respeito aos pontos de parada. A maioria ainda utiliza os postos de combustíveis para fazer as pausas. Porém, são obrigados a abastecer para poder pernoitar e, mesmo assim, não recebem nenhuma garantia de segurança.  O principal motivo é a circulação de veículos e de pessoas durante o dia inteiro.

Falta de segurança: como os caminhoneiros lidam com a insegurança

Diante desse cenário e sabendo que uma melhoria significante depende basicamente de uma ação eficiente do governo, os caminhoneiros buscam alternativas para driblar a falta de segurança na estrada.

falta de segurançaCarlos Jonathan Nascimento, 29 anos e cinco de profissão, de Recife/PE, acredita que a falta de infraestrutura no Brasil realmente é algo complicado e compromete diretamente a segurança dos caminhoneiros. “Existem muitos trechos com alto índice de roubo de carga então procuro passar por eles durante o dia para evitar ser assaltado. Além disso, busco sempre parar em postos de serviços, com estacionamento fechado, seguranças para eu possa realmente descansar e ficar o menos preocupado possível”, afirmou.

falta de segurançaJá para Richard Cleiton Ritter Bomfim, 33 anos de idade e 10 de profissão, de Sapucaia do Sul/RS, os maiores problemas para o aumento da falta de segurança são as condições das estradas, mais especificamente na região da serra de Santa Catarina. “A falta de infraestrutura é um grande desafio. Em relação aos pontos de paradas não sofro  muito pois a empresa que trabalho já determina os locais autorizados para fazer o descanso. Porém, já aconteceu de chegar em postos e ser impedido de ficar por não ter abastecido. E isso é frequente com os colegas que se sentem obrigados a continuar rodando até encontrar um próximo local”, explicou.

Outros fatores apontados por Richard são a imprudência por parte dos veículos de passeio e a falta de fiscalização que facilita assaltos e roubos. “Alguns motoristas de automóveis insistem em fazer ultrapassagens perigosas e colocam em risco a vida de todos na estrada. E o fato de existir pouca fiscalização, sempre acontece furtos de estepe, geladeira, caixa cozinha e até pertences pessoais dos caminhoneiros”, destacou.

Para tentar driblar essas situações, Richard procura manter distância segura dos veículos, manter o limite nas vias e evitar rotas com alto índice de roubo, como é o caso da BR-470, entre Lages e Rio do Sul, e BR-290, entre Guaíba e Livramento. “Acredito que falta mais investimento em infraestrutura por parte do governo e instalação de câmeras em postos para ajudar na segurança. Muitas coisas melhorar entre 2018 e 2022 mas ainda tem um longo caminho para resolver essas questões”, opinou.

falta de segurançaPara Igor Santos, 30 anos de idade e seis de profissão, de Recife/PE,  a questão da falta de segurança é muito complexa pois diversos fatores comprometem para aumentar a insegurança na estrada. Mas também tem opinião de que a imprudência merece um destaque. “No período de alta temporada muitos motoristas de veículos de passeio e com pouca experiência pegam estrada e se arriscam ao ultrapassar os caminhões. Existe também as empresas de transporte que não se importam em cumprir o que diz a lei do tempo de direção e os motoristas trabalham sob pressão, não conseguem descansar o suficiente e comprometem a segurança”, declarou.

Outro ponto abordado por Igor diz respeito a infraestrutura precária principalmente em relação aos locais para o descanso. Ele conta que a maioria dos postos seguros cobram entre R$ 40 e 50 reais o pernoite e as empresas e os caminhoneiros não querem arcar com essa despesa. “A gente acaba buscando outros locais que não cobram  porém também não oferecem toda a estrutura para uma noite tranquila. Acho muito errado cobrar o pernoite do caminhoneiro. Nosso trabalho é pesado e cheio de pressão e precisamos descansar sem preocupação de que alguém pode chegar e te roubar”, opinou.

Alisson Antônio Nesi, 46 anos, 21 de profissão, de Guarapuava/PR, roda em alguns dos principais corredores do Brasil como via Dutra, Fernão Dias, Régis Bitencourt e afirma que a insegurança é grande nos trechos de serra, principalmente quando acontece algum congestionamento seja por acidente ou obras.

“Eu já presenciei um caminhão dos correios tendo a pfalta de segurançaorta estourada. Estava no sentido Curitiba a 400 metros da PRF. Um dos ladrões portava uma arma e ficava olhando a pista enquanto os outros faziam um tipo de corrente humana pra levar as mercadorias para o meio do mato. Também presenciei uma tentativa de assalto. Rodando pelo Rodoanel vindo de Arujá pra Ponta Grossa, dois bandidos saíram do mato e jogaram pedra no intuito de quebra o parabrisa. Consegui desviar jogando caminhão para outra pista e acertou de raspão a porta onde tenho o sagrado coração de Jesus. A proteção  divina foi maior”, contou.

Para Allison a falta de fiscalização e de pontos de apoio para o caminhoneiro permite uma frequencia maior desse tipo de situação e, assim, aumente o clima de insegurança na estrada. Ele acredita que com todos os impostos pagos pelos caminhoneiros, taxas de pedágio deveria ter melhor estrutura para atender os profissionais com segurança.

mulheres motoristasPara Elijane Wosniak,autônoma, 43 anos de idade e 20 de profissão, de Porto Velho/RO, que faz rotas longas e fica até dois meses fora de casa algumas regiões do Brasil precisam de mais fiscalização para garantir mais segurança para os caminhoneiros. “A região do Mato Grosso, por exemplo, tem muito roubo. Então para evitar esse tipo de situação é importante não parar em qualquer lugar,  fazer uma programação antecipada e  manter a manutenção do caminhão em dia para evitar imprevistos”, afirmou.

No caso das mulheres a questão dos locais de parada ganham uma importância maior, conforme explica Elijane. “Sempre busco locais com segurança. Uma vez quando atuava com caminhão pequeno, estava parada e um homem bateu na cabine e queria entrar de qualquer jeito. A minha sorte é que estava próxima de uma barreira do exercito e conseguir chegar até eles e explicar a situação. Mas graças a Deus essa foi a situação de maior risco que vivi na estrada, pois realmente tento me programar para não ter imprevistos”, disse.

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#56 Segurança do Caminhoneiro