Motorista experiente e profundo conhecedor de caminhão, Pedro gostava de contar piadas e histórias. Às vezes seus casos não tinham nenhuma graça, mas mesmo assim não perdia a admiração dos amigos e colegas de profissão. Quando o grupo se reunia, lá vinha o Pedro com suas narrativas. Para dizer a verdade, ele era ótimo contador de causos e péssimo nas piadas, ao ponto de ter se tornado referência de piada ruim. Melhor explicando, quando alguém contava uma piada sem graça todos diziam: “Eta piadinha sem-vergonha, até parece que é o Pedro quem está falando. Você aprendeu com ele”? E, assim, seguiam as brincadeiras.

Ótima pessoa, Pedro jamais se ofendia, pois sabia que se tratava apenas de brincadeiras dos amigos e por isso mesmo continuava contando suas piadas e causos sem tempero. Certo dia, o grupo estava reunido em meio a uma viagem quando Pedro veio com uma conversa sobre um tal de macaco rodado que ele jurava ser verdade.

– Que diabo é isso? Um macaco de caminhão velho que já viajou muito? Nada disso, retrucou Pedro. Macaco rodado é uma baita sacanagem que alguns caipiras costumam fazer com motoristas desavisados como vocês. Até parece que nunca passaram por uma estrada deserta no Interior e também nunca viram um ou outro sujeito vendendo macaco na beira da estrada. Se nunca viram vou lhes dizer, aquele é o macaco rodado e vou explicar porquê.

Marcos Roberto, caminhoneiro velho de guerra, também conhecido como Bicho Papão, disse – já se levantando da mesa e em tom de desdenho – que não queria ouvir a história porque ia pegar a estrada muito cedo. Na manhã seguinte, ele partiu e tinha rodado várias horas quando viu um sujeito na beira da estrada levantando um macaco e lhe oferecendo. “Não posso perder esta chance de sacanear o Pedro com aquela história do macaco. “Vou comprar um bicho desse e levar pra ele”, pensou e já foi parando o caminhão no acostamento.

Pagou R$ 20,00 ao rapaz, jogou o animal no banco do carona e seguiu viagem.  O bicho parecia meio mole e sonolento, mas como estava um sol danado, julgou que fosse efeito do calor. Ou estaria doente? Não demorou o macaco pulou pra cima de Marcos Roberto como uma fera, de tal maneira que ele quase perdeu o controle do caminhão antes de parar longe da estrada e pular pra fora da boleia. O macaco também saiu, pela janela, feito um tiro e desapareceu no meio do mato.

Ainda assustado, Bicho Papão pensou: e agora, conto ou a não conto a história para os meus amigos, quando voltar? Apesar da certeza de ser motivo de risos resolveu falar. Pedro, que sempre foi o contador de causos ouviu com atenção e no final arrematou: aí pessoal, eu não disse que a história do macaco era verdadeira. A essa altura, Papão nada sabia, porque era o único do grupo que não quis ouvir a história de Pedro naquela noite.

Para não deixar o amigo aflito, sem saber ao certo o que estava acontecendo, Pedro lhe disse: é o seguinte, Marcão, tem uns caras malvados no interior que vendem macaco pra motoristas desavisados como você, mas é uma grande sacanagem, porque antes de entregar o bicho eles o deixam tonto, totalmente grogue, só para assustar o motorista quando voltam ao normal.  Sei de caso de carreteiro que já se borrou todo quando o bicho ficou bravo. Mas não é o teu caso, né Marcão?

– E como eles fazem isso, por que o bicho virou uma fera dentro do meu caminhão? É simples, respondeu Pedro. Eles seguram o macaco pelo rabo e rodam, rodam, rodam e rodam até o bicho quase desmaiar e vendem para o primeiro motorista que parar.  Depois de algum, quando volta ao estado normal, o macaco vira uma fera dentro da boleia. Esse é o tal macaco rodado daquela história que você não quis ouvir naquela noite, e tem muito bobo que ainda cai nessa.