Certa vez transportando por este sertão pelos lados de Mato Grosso, me aconteceu algo que jamais conseguirei esquecer. Viajava sozinho e tudo parecia estar correndo normalmente, quer dizer até eu encontrar uma senhora que estava na beira da estrada. De longe consegui ver que ela estava passando mal. Porém, quando me aproximava percebi que ela estava grávida e a todo momento ela se curvava  e passava a mão sobre a barriga. Sei que nos dias de hoje parar na estrada é muito perigoso mas o local era deserto e a moça precisava de ajuda.  Decidi parar e ajudá-la.

– Posso ajudá-la em alguma coisa?

– Estava esperando o ônibus e de repente comecei a sentir dores, estou com medo do meu bebê nascer.

Preocupado, e um pouco desesperado com toda aquela situação, coloquei a mulher no caminhão e resolvi que iria levá-la ao hospital mais próximo, afinal de contas com mulher grávida não se brinca.

No caminho, ela me contou que saiu de casa dizendo ao marido que iria ao médico para uma consulta de rotina, pois ainda não era tempo de ganhar o bebê. Dirigir o mais rápido possível já que a cada minuto ela gemia cada vez mais forte. Fiquei apavorado, pois ainda faltava muito para chegar à cidade mais próxima e cada vez mais eu sentia que as coisas não estavam bem.

Até que não aguentando mais, pois a estrada estava péssima e o caminhão se mexia muito, ela pediu que eu parasse.

– Não vai dar tempo, o bebê vai nascer agora e não da para chegar ao hospital.

Não podia acreditar no que tinha ouvido. Apavorado pedi para que ela aguentasse mais um pouco, mas ela gritava de dor .

Mesmo sem saber se aquela era a melhor solução parei embaixo de uma árvore, pois o sol era muito forte, peguei um lençol e forrei o chão, na sombra. Ajudei a moça a descer e a deitei. Olhei para os lados e não havia nada além de estrada e mato. Percebendo o meu desespero ela pegou na minha mão e me implorou para que lhe ajudasse no parto e não deixasse o bebê morrer.

Naquele momento comecei a agir por impulso e pedi a Deus que me ajudasse. Já enfrentei muitos problemas por essas estradas  porém nunca imaginei viver uma  situação dessas. Estava nervoso e a mulher gemia de dor. Comecei a pressionar a barriga da moça e pedi que fizesse força e de repente aconteceu, o bebê começou a sair . Apesar de estranho e assustador foi a  cena mais linda desse. Não acreditava que eu havia colocado aquela criança no mundo.

Peguei minha toalha de banho e o enrolei, e mesmo sem ter cortado o cordão umbilical, a mulher, completamente traspassada, sorriu ao ver que seu bebê era um lindo garotão. Coloquei a criança na cabine do caminhão e carreguei a mulher no colo pois ela estava muito fraca. Em seguida, partimos em direção ao hospital que ficava a 20 minutos dali.

Chegando no hospital as enfermeiras levaram a mãe e a criança para que fossem tomadas as providências necessárias. Eu fiquei esperando, até saber que eles estavam passando bem. Depois que estavam instalados eu fui no quarto e um dos médicos me deu os parabéns. A mulher mais uma vez segurou a minha mão e eu, que sempre fui durão, chorei quando ela me disse que não poderia me pagar já que era muito pobre, mas que Deus iria sempre me guiar e dar um dobro tudo o que havia feito por ela e pelo seu filho. Depois ela perguntou o nome e disse que esse seria o nome de seu filho, e que ele iria crescer sabendo sempre como veio ao mundo. Eu disse a ela, que não tinha feito nada demais  e apenas estava sendo um instrumento de Deus , pois foi ele que me iluminou naquele instante. Olhei para o bebê mais uma vez. E me emocionei ao ver como ele era grande e forte. Dei os parabéns e me despedi da mãe. Eu jamais irei me esquecer destas cenas que vivi. E foi assim que fui médico por acaso, só por umas horas.