Conectividade, combustíveis alternativos, formas de energia limpa e veículos autônomos são realidades presentes atualmente no dia a dia da indústria de veículos comerciais e do setor de transporte rodoviário, tanto de carga quanto de passageiros, em todo o mundo. O alto custo para o transporte utilizando combustível fóssil (leia-se óleo diesel), mais as emissões de CO2 por ele causadas têm acelerado as pesquisas das montadoras em todo o mundo em busca de outras formas de energia.

A necessidade de novos caminhos fica mais evidente quando consideradas as previsões de que o transporte vai aumentar em 50% até 2030. Uma proposta curiosa para substituir o motor diesel é a estrada elétrica, a primeira do mundo, com trecho de dois quilômetros.

Instalada na estrada E16, em Gävle, na Suécia Central, onde está concentrado um parque cientifico com 15 empresas, a estrada elétrica foi desenvolvida também por meio de incentivos do governo local, governo sueco e iniciativa privada, na qual a Scania é uma das empresas. Os idealizadores defendem que a eletrificação de veículos de carga com pneus é uma solução viável.

“O que se tem hoje em Gävle é o projeto concluído e já em fase de demonstração, explica o líder de projetos da Scania”, Christer Thorén. Disse que o foco agora é mostrar os benefícios da eletrificação, e que há interesse em desenvolver a inovação na Suécia, onde mais de 80% do transporte é feito por veículos com pneus.

A estrada elétrica é vista como uma solução viável em trechos de rodovia onde o caminhão é mais exigido, como aclives, por exemplo, e consequentemente o consumo de combustível é maior, assim como as emissões. Os caminhões Scania que rodam na estrada elétrica foram equipados com um coletor de corrente com pantógrafo (igual aos ônibus elétricos) que se conectam com a linha aérea de fios instalada ao lado direito da rodovia, com tecnologia da Siemens, também parceira do projeto.

Com motor elétrico montado entre o mecânico e a caixa de câmbio – a qual conta com um sistema de refrigeração especialmente desenvolvido – o caminhão é na verdade um híbrido, que fora da estrada eletrificada passa a operar normalmente com o motor diesel Euro 6.

Se o modo elétrico entra em operação, o motor mecânico para de funcionar e o sistema de direção do veículo também muda, passando do hidráulico para o elétrico. Quando o pantógrafo abaixa, o motor a diesel volta a funcionar. A ideia, conforme disse Thorén, é levar o projeto para outros pontos da Europa. Além da redução de consumo de diesel e de emissões de CO2, técnicos dizem que a instalação do sistema elétrico custa 10% do preço de uma rodovia.

O vice-presidente mundial de caminhões da Scania, Christopher Podgorski, lembra que a empresa tem a maior linha de soluções em combustíveis alternativos para a redução de CO2, comercialmente viáveis. A lista inclui motores movidos a gás natural, biogás, biodiesel, Etanol, HVO (diesel sintético produzido a partir de matérias-primas renováveis, tais como gorduras animais ou vegetais) e motores híbridos.

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Túnel de vento climático construído pela Scania em sua matriz, na Suécia, ajuda a projetar futuros veículos com melhor desempenho e mais eficiência de combustível

Segundo o executivo, o gás têm sido o carro-chefe da empresa, porque em vários municípios da Europa os veículos têm permissão para circular. Em termos de redução de emissões, exceto o gás e o biodiesel natural, que reduzem as emissões em até 20% e 66% respectivamente, os demais combustíveis atingem nível de 90% na redução de CO2.

Outro ponto destacado pelo o executivo para a redução das emissões e também dos custos operacionais do transportador é a conectividade. Se hoje a indústria ainda produz veículos movidos a diesel, que emitem CO2 ela deve ser também parte da solução do problema, contribuindo com um transporte sustentável. Nesse ponto, Podgorski destaca o uso da conectividade, uma importante ferramenta dos fabricantes de caminhão para alavancar os negócios dos transportadores e também contribuir para o meio ambiente.

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Caminhão híbrido com motor elétrico é uma das apostas da Scania e do governo sueco como solução para reduzir emissões de CO2 no futuro

Para isso, diz ele, o modelo de negócio da Scania é a oferta de solução em transporte, procurando entender não somente as questões do transportador, mas também os problemas dos seus clientes e encontrar meios de atendê-los também, disponibilizando pacotes de serviços conectados. “A empresa vive o negócio do cliente, pois com a parceria é possível ter alguma influência na receita do cliente, pois o sucesso dele é também o nosso sucesso”.

Mattias Lundholm, vice-presidente de serviços e soluções conectadas, disse que a Scania tem mais de 250 mil veículos conectados em todo o mundo, estando 90% deles em operação no continente Europeu. No Brasil, País em que a ferramenta CE-300 começou a ser disponibilizada pela Scania em novembro de 2016, são cerca de 1.250 veículos. Tanto aqui quanto na Europa, a ferramenta pode ser instalada em veículos de qualquer marca e disponibiliza dois níveis de informações e opera em dois níveis de serviço oferecidos pela montadora.

Um deles, o Análise, gratuito e com informações básicas. Já o pacote pago, chamado de Desempenho (Monitoring, na Europa) permite à Scania fazer a especificação do caminhão utilizado e obter redução de até 12% no consumo de combustível, explicou Lundholm. Ele explicou que na Europa apenas 10% dos caminhões conectados não utilizam o pacote pago porque as empresas não querem dividir informações de suas operações com a Scania.

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A conectividade, já presente em 250 mil caminhões em todo o mundo, é mais uma solução para reduzir a poluição e aumentar a produtividade

Válido por 10 anos, o pacote Análise possibilita que tanto a Scania quanto o concessionário tenham uma visão da frota por meio de relatórios semanais e mensais, com dados operacionais recebidos por e-mail. O transportador tem acesso ao Portal de Gestão de Frotas e utilizar informações de uso do veículo para planejar as paradas de manutenção.

O pacote Desempenho, por sua vez, incorpora as funções do Análise e permite leitura e identificação de dados da operação de forma mais detalhada com informações operacionais do veículo e também do motorista individualmente. De acordo com a Scania, o serviço indica se há necessidade de o profissional ser treinado ou reorientado em pontos específicos para a redução de combustível e corrigir hábitos inadequados de condução. O objetivo é também aumentar a disponibilidade da frota e diminuir gastos com manutenção corretiva.

Christopher Podgorski salientou que o trabalho desenvolvido pela Scania é para que a empresa seja reconhecida como uma verdadeira parceira do transportador na transição para uma atividade livre de carbono. Outra forma de reduzir as emissões é através de um transporte mais eficiente. Hoje, por exemplo, 45% dos caminhões rodam vazios ou quase vazios. “Porém, com uma programação mais eficiente é possível ter melhor produtividade além de outros benefícios”, destacou.