Guardado em terreno de uma empresa na região metropolitana de São Paulo, o Scania 111, ano 1977, havia cumprido sua missão nas estradas e acabado de ser substituído por outro caminhão mais novo. Seu proprietário, decidiu colocá-lo à venda, embora o veículo tivesse ainda uma parcela a ser paga da reforma que havia feito no motor, uma unidade do Scania113. Embora o estado da cabine não mais o credenciasse a carregar em empresa alguma, levando o dono a substituí-lo, o trem de força encontrava-se em dia, com o motor (não mais original), caixa de transmissão e diferencial também em ótimas condições.
Este era o estado do Scania 111 há cerca de três anos quando foi “achado” por Osvaldo Morini, proprietário de uma oficina que leva seu nome e um fanático por caminhões. Segundo afirmou, ao ver o velho jacaré estacionado e com jeito de abandonado, ele se interessou em comprá-lo. Tinha em mente repetir o trabalho feito em um Alfa 210, ano 1976, o qual transformou em um caminhão de passeio, modificação concluída no primeiro semestre de 2002.
Porém, sua primeira tentativa de ver o Scania 111 de perto não foi possível. O vigilante do terreno resistiu à insistência e não permitiu que ele entrasse no terreno para ver de perto o veículo. O jeito foi deixar um cartão com o segurança para que ele entregasse ao proprietário e torcer para que houvesse um contato. Aproximadamente 10 dias depois, Morini recebeu um telefonema do dono do caminhão e pode analisar o veículo com calma.
“Quando vi de perto, e coloquei o 111 para funcionar, notei que a parte mecânica estava muito boa, assim como chassi. Valia a pena comprar aquele caminhão e investir para transformá-lo”, lembrou Morini, acrescentando ter sido difícil negociar com o antigo dono, até chegarem ao valor final de R$ 25 mil, pagos a vista. E assim, ele começou uma nova temporada de trabalho para transformar um Scania jacaré em um caminhão para ele passear, inclusive com sua esposa.
Com o veículo já em sua oficina, a Morini’s Car, localizada em Cotia/SP, na altura do km 25 da rodovia Raposo Tavares, a primeira providência foi a retirada da cabine para recuperação do chassi. “Estava muito ruim e sem condições de ser trabalhada. Tão podre que tive de mandar cortá-la e enviar para a sucata”, lembra. Para substituí-la, ele encomendou outra, confeccionada em fibra, com medidas diferentes da original (mais larga e mais alta), feita em oficina especializada na cidade do Guarujá/SP. O trabalho demorou pouco mais de um ano para ser concluído
Depois de instalada sobre o chassi, começou a parte de acabamento do caminhão, com a fixação dos spoilers laterais, aerofólio e a instalação de um banheiro. A conclusão desta etapa definiu o início da preparação da pintura e a elaboração dos desenhos e grafismos, também executados por um profissional da área. O para-choque foi o último item a ser colocado no caminhão, por um motivo especial, conforme justificou o empresário. “Trata-se de um item a parte, porque instalamos dois pistões que são acionados de dentro da cabine, cuja função é subir e descer a peça, para evitar que ela raspe no chão”, explicou.
Morini sente orgulho em dizer que todo o projeto de transformação saiu de sua cabeça, desde configuração do chicote elétrico, da iluminação, a qual incluiu faróis e várias luzes externas de LEDs e também internas, com 162 LEDs no teto e a tapeçaria com todos seus detalhes. Ao final, depois de quase três anos, ele contabilizou um gasto de aproximadamente R$ 130 mil, incluindo a nova cabine, para-choques, calotas, luzes, tapeçaria, alongamento do chassi e pneus entre outros serviços e peças. “Este é o meu cavalo de passeio. Valeu a pena”, concluiu orgulhoso.
por João Geraldo
fotos: Paulo Fernandes