Estão abertas as inscrições para o programa Elas no Volante direcionado para mulheres que querem trabalhar como motorista. A iniciativa da Lost Group, empresa que faz parte do grupo Scania, em parceria com o Sest Senat, tem como objetivo investir na captação de mulheres que possuem CNH Categoria E, com pouca ou nenhuma experiência na direção. Além de impulsionar a igualdade de gênero dentro do setor de transportes. Segundo a Secretaria Nacional de Trânsito, o país tem cerca de 4,39 milhões de Carteiras Nacionais de Habilitação para veículos pesados, dos quais 97,19% são de motoristas homens e apenas 2,81% de mulheres.

O próximo treinamento do Elas no Volante será realizado na unidade do SEST SENAT em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, no próximo dia 19 de junho. O Elas no Volante conta com 107 horas de aulas teórica e prática e tem 20 dias de duração. Para participar é preciso ter mais de 21 anos, morar na região de Três Lagoas, onde o curso será realizado, possuir CNH na categoria “E” e ser alfabetizada. As inscrições para o Elas no Volatne podem ser feitas até o dia 14 de junho, de graça, pelo link https://lotsgroup.com/pt/jobs/elas-no-volante-2/  

O programa Elas no Volante abriu portas para Anerilene

Anerilene Alves de Souza, 32 anos, motorista Florestal, participou da primeira turma do Elas no Volante, em 2021, na operação da LOTS em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Das 12 mulheres que participaram do curso, ela e outras oito foram contratadas. “O programa me abriu portas que jamais imaginei alcançar. Sonhava em ser motorista de caminhão desde criança e sou muito realizada em trabalhar em uma empresa que valoriza as mulheres”, ressalta ela.

“O transporte não é um setor predominantemente feminino. Pelo contrário, temos apenas 17% de mulheres neste segmento, por isso, desenvolver este público para o mercado é tão importante. Há uma carência de mão de obra no setor de transporte, e investir na qualificação de mulheres para preencher essas vagas é um caminho para dar oportunidade para essas profissionais e também suprir uma demanda do mercado”, explica Renata Harumi, responsável pelo Elas no Volante da LOTS na região de Três Lagoas.

Participação de mulheres no transporte de cargas está aumentando

A participação das mulheres no transporte de cargas está crescendo de maneira gradual. Alguns números comprovam essa nova realidade e mostram haver uma tendência das grandes corporações em apostarem na adversidade e fazer escolhas com base no talento, comprometimento e competência do candidato. Dados do Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC), órgão de pesquisa parceiro do Setcesp, mostrou que em 2021 aconteceram em São Paulo 32.094 contratações femininas para cargos no setor de transporte. O crescimento é 61% superior a 2020, especialmente nas áreas administrativa e comercial, com representatividade feminina de 52% e 56% sobre a masculina, respectivamente. Já no setor operacional foram registradas 13.741 contratações femininas e 125 mil masculinas.

Programas como Elas no Volante incentivam participação de mulheres no setor

Além do programa Elas no Volante, outros projetos incentivam ingresso de mulheres. Desde de 2015, o projeto do Sest Senat de Habilitação Profissional para o Transporte – Inserção de Novos Motoristas registrou a participação de 2.311 mulheres e em cinco anos a demanda cresceu 60,4% em cursos da instituição voltados para transporte de passageiros, produtos perigosos e escolar. Em 2019, os cursos mais procurados foram Cuidados Especiais no Transporte de Escolares, Custos Operacionais do Transporte de Cargas e A Precificação no Transporte Rodoviário de Cargas.

Apesar do interesse feminino no setor de transporte rodoviário, o número de mulheres habilitadas com CNH para dirigir caminhão ainda é muito baixo em relação aos homens. Segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), com dados de janeiro de 2022 do Registro Nacional de Carteira de Habilitação (Renach) foram registradas 4,39 milhões de CNHs para veículos pesados (caminhões e carretas), das quais 97,19% são para motoristas homens e apenas 2,81% para motoristas mulheres.

“O homem tem mais facilidade para se candidatar a qualquer vaga, mesmo quando está inseguro. Já a mulher precisa sentir segurança plena para se arriscar”, disse Ana Jarrouge, presidente executiva do Setcesp e idealizadora do Movimento Vez e Voz, ação que surgiu com o objetivo de valorizar as mulheres que já atuam no setor de transporte e atrair talentos para aumentar a participação feminina no setor. “É preciso acabar com esse paradigma e encorajar as mulheres a se candidatarem a qualquer vaga que desejarem”, complementou.

Na sua avaliação existem dois setores onde a participação das mulheres no transporte de cargas ainda é baixa e é necessário mudanças: o operacional (motorista, mecânico, analista e gerente de logística, conferente) e o C-Level, que engloba os cargos executivos). “Dentro do Movimento Vez e Voz entrevistamos mulheres que já atuam nessas funções e colocamos elas em destaque para se sentirem valorizadas e ao mesmo tempo encorajar e inspirar outras profissionais a enxergarem que realmente existe a possibilidade”. 

Mulheres no transporte: elas fazem a diferença

Os desafios para aumentar a participação das mulheres no transporte de cargas são muitos, e passam por questões que envolvem infraestrutura e flexibilidade. Ana Jarrouge afirma que as motoristas reclamam da falta de estrutura na estrada e nas empresas para as quais prestam serviços, sendo uma delas a falta de banheiro. Já nos cargos executivos a questão é a flexibilidade de jornada que esbarra em questões como a maternidade, por isso a necessidade de envolver as empresas nesse processo. “Estamos desenvolvendo um manual de boas práticas para orientar as empresas como se posicionam para atrair esse público e mantê-las na atividade”, acrescentou.

Para Ana, essas ações são extremamente necessárias, pois o Brasil tem um mercado envelhecido e de carência de profissionais. Ela reforça que as mulheres apresentam um diferencial já percebido, principalmente quando se trata das motoristas. Disse que empresas relatam que elas contribuem para a redução do custo de manutenção, se envolvem menos em acidente, gostam de se capacitar e são mais atenciosas no trato com os clientes. “As empresas têm vagas abertas, mas dizem que não há candidatas. Temos que mostrar isso, que existem vagas e encorajá-las, pois esse é o caminho para tentarmos mudar essa realidade e atrair os talentos para o TRC”, concluiu.

Outra ação com o mesmo objetivo do programa Elas no Volante de ampliar a participação das mulheres no transporte de cargas é o Movimento Voz Delas. Idealizado pela Mercedes-Benz, a iniciativa nasceu de uma demanda de mercado com base em relatos tanto de motoristas quanto de esposas sobre a falta de infraestrutura nas estradas. “Percebemos um número expressivo de mulheres que estavam passando por situações degradantes. Muitas vezes as esposas dos caminhoneiros têm de aguardar do lado de fora da empresa, às vezes à noite, com filho no colo, enquanto o marido carrega ou descarrega o caminhão”, disse Ebru Semizer, gerente sênior de marketing comunicação & inteligência de mercado caminhões da Mercedes-Benz do Brasil.

No caso das mulheres motoristas, Ebru lembra que raramente elas encontram banheiro feminino para tomar um banho durante as viagens. “Foi com base nesses relatos que pensamos em criar um movimento para tentar mudar essa realidade e com isso trazer mais mulheres para o transporte”, explicou. Ela acrescentou que o primeiro passo, foi se aprofundar mais nessas questões para entender quais eram as principais barreiras que impediam uma mulher de tentar ser motorista ou até mesmo acompanhar o marido na estrada.

Tatiane Rabuske, coordenadora de RH da transportadora Ghelere, aposta no treinamento de motoristas para valorizar os profissionais e reduzir a rotatividade na empresa. Os cursos duram 20 dias e apenas após esse período os profissionais estão liberados para começar. “Começamos no ano passado e depois da contratação nesse modelo nossa rotatividade diminuiu bastante”, disse. Ela acrescentou que o treinamento de homens e mulheres, com ou sem experiência alguma, é realizado em caminhão trucado.

Atualmente a transportadora atua com seis mulheres. “Como o nosso objetivo sempre foi ampliar a participação das mulheres em todas as áreas da nossa empresa fomos nos adequando para atrair essa mão de obra. No caso das motoristas, optamos em deixá-las trabalhar com os caminhões automatizados e em rotas mais curtas para ficarem afastadas dos filhos por grandes períodos”, explicou. Em relação à falta de infraestrutura nas rodovias, Tatiane afirmou que trabalha apenas com postos de grande porte e que ofereçam estrutura adequada para receber os motoristas da transportadora, sejam eles homens ou mulheres. Atualmente a Ghelere continua se adaptando para atrair mais mulheres para trabalhar na empresa.

Participação das mulheres no transporte de cargas: “precisamos urgente de investimentos das empresas para educar as mulheres para a atividade”

Há mais de um ano a Fabet vem fortalecendo a inserção de motoristas no setor de transporte. De acordo com a gerente geral da filial SP, Salete M. Argenton, após mais de 12 meses de ações diversas, dezenas de mulheres formadas e atuando, o problema da falta de investimentos das empresas em preparar, formar, educar as mulheres para a atividade continua. “Precisamos urgente de investimentos sérios e de oportunidades para as mulheres ingressarem e mostrarem o seu talento e competência na arte de conduzir caminhões modernos e tecnológicos, seja para operações urbanas, rodoviárias, off road ou internacional. Nossas ex-alunas estão espalhadas pelo Brasil e pelos diversos perfis de transporte, comprovando a qualidade do seu trabalho”, relatou.

Salete explicou que a Fabet incluiu sempre incentivas para aumentar a participação das mulheres no transporte de cargas porém, em todos os cursos a aderência ainda é baixa. Em 2021, com a iniciativa da Mercedes Benz de criar o programa Voz Delas, a instituição decidiu construir um programa de formação voltado especialmente para o público feminino com temas técnicos e fundamentais, como mecânica, direção econômica, tecnologias embarcadas e agregadas, legislação, segurança, pneus, prática supervisionada, entre outros.

Além de uma proposta pedagógica diferenciada, com especialistas de cada área, Salete explica que é construído um ambiente adequado, com equipe de acompanhamento durante o treinamento, restaurante e alojamento próprio, além de laboratórios de mecânica, pneus, rastreamento e veículos modernos com tecnologia de ponta. Ao término do curso tem o setor de egressos que indica para o mercado de trabalho.

O programa já formou centenas de mulheres desde a 1ª turma.  Salete acrescenta que a Fabet conta também com apoio de empresas para que apadrinhar o programa para as mulheres que desejam ingressar na profissão. Reforça que as empresas podem preencher as vagas abertas para os milhares de veículos parados nos pátios das empresas, com profissionais competentes, seguras e eficientes, que cuidam  da vida, do trabalho e do cliente, além de serem uma grande esperança para a redução dos acidentes e a tão sonhada humanização do trânsito.

#11 Caminhoneiras na estrada