Embora pouco se discuta, a falta de motoristas para trechos de longas distâncias poderá vir a ser um problema do setor de transporte rodoviário dentro de algum tempo no Brasil. Essa questão foi comentada e até publicada em meios de comunicação alguns anos atrás, época que se falava haver um déficit entre 90 e 100 mil profissionais para atender a demanda. Obviamente a falta era para dirigir caminhões de frotas, embora no mesmo período não faltassem motoristas em busca de emprego, porém, sem a qualificação exigida pelo mercado.

Esse tema veio à tona porque um relatório da ATA – American Trucking Associations (a associação comercial da indústria de caminhões dos Estados Unidos) divulgou que está faltando caminhoneiros no país.  No final de 2018, o setor precisava de quase 70 mil motoristas qualificados para atender a demanda de frete.

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Falta maior de motoristas seria para percorrer trechos de longas distâncias nas rodovias da América do Norte (foto:Unsplash)

De acordo com o relatório, estima-se que será necessário a contratação de 1,1 milhão de novos motoristas na próxima década. Tal volume dá uma média de 110 mil profissionais por ano para substituir os que se aposentam e também para acompanhar o crescimento da economia do país. Anualmente, a frota local movimenta mais de US $ 700 bilhões em mercadorias.

O economista-chefe da ATA, Bob Costello, declarou que nos últimos 15 anos a falta de motoristas diminuiu e cresceu, porém nunca chegou a um nível tão alto como se viu até agora. Ele acrescentou que a preocupação é que a combinação de uma economia de crescimento de cargas junto com a necessidade de motoristas qualificados possam prejudicar seriamente a cadeia de fornecimento.

Com idade média de 46 anos para um motorista treinado e de 35 para outro que está ainda sendo treinado, existe uma visão de que os motoristas estão acabando no país. Costello classificou essa situação como alarmante e alertou para a necessidade de encontrar maneiras para atrair os jovens para a profissão.

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Acredita-se que salários mais atraentes e melhores condições de trabalho podem contribuir para reduzir a falta de motoristas (foto: Unsplash)

A solução, acredita-se pode vir de algumas medidas. Algumas delas são melhores salários e abordagem de fatores negativos que desencorajam possíveis candidatos a abraçarem a profissão. Dar mais tempo para os motoristas ficarem casa com a família e melhorar condições de trabalho, tais como reduzir o tempo de espera para carga e descarga também podem contribuir para reduzir a falta de profissionais. Diante da situação já se fala em permitir que motoristas com 18 anos de idade  comecem a dirigir caminhões estradeiros.

O professor de sociologia da Universidade da Pensilvânia, Steve Viscelli, especialista em transporte, destacou que os três maiores fatores que inibem o ingresso de novos profissionais na profissão são dinheiro, tempo em casa e estilo de vida. Ele acrescentou que a falta de caminhoneiros é resultado de décadas de baixos salários e também pelas horas que trabalham. “Os motoristas precisam ser pagos durante todo o tempo necessário para realizar o trabalho”, disse.

Há também, entre os caminhoneiros, quem diga não ser verdade essa escassez motoristas de caminhão. O que falta é transportadora disposta a pagar o suficiente e melhorar as condições de trabalho para atrair candidatos e que o objetivo da ATA é atrair motoristas jovens para trabalhar por salários menores.

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Dois caminhões e apenas um condutor é uma das soluções tecnológicas em teste nas estradas do país para reduzir custos e com menos consumo de combustível e motorista

Por outro lado, uma startup da Califórnia está desenvolvendo um sistema pelo qual um caminhão automatizado viaja ligado a outro. Na prática, um motorista apenas conduz dois caminhões de um ponto a outro, numa ação denominada  “emparelhamento”.

A Daimler Trucks, por exemplo testa esse sistema, com os veículos viajando o mais próximo possível um do outro. Este seria um primeiro passo para pelotão de caminhões, uma maneira de trafegar que também reduz o consumo de combustível .

Enquanto isso, aqui no Brasil os carreteiros vivem seus problemas, sendo que boa parte já entendeu que manter-se mais o preparado possível já traz alguma valorização profissional e vantagens financeiras.