Associação mundial ECR Brasil avalia os efeitos das medidas restritivas ao transporte de cargas na capital paulista

Anunciadas no começo de abril deste ano pelo prefeito Gilberto Kassab, as medidas restritivas ao transporte de cargas na cidade de São Paulo poderão onerar os custos da indústria, varejo, operadores logísticos e consumidor final. A avaliação é de Claudio Czapski, superintendente da associação ECR Brasil, ou Resposta Eficiente ao Consumidor (Efficient Consumer Response, em inglês). A entidade nasceu nos Estados Unidos e reúne cerca de 100 empresas associadas, por meio do qual integrantes de toda a cadeia de abastecimento como varejo, atacado, distribuidores, indústria, serviços e outros trabalham em conjunto na busca de padrões para melhorar os processos e eficiência, reduzir custos e atender às necessidades dos consumidores.

O novo decreto se apóia nas medidas: cumprimento do rodízio pelos caminhões, proibição de entregas com veículos de cargas entre 5h e 21h e a expansão da área de restrição dos atuais 24 km² para até 100 km². Como solução para as entregas diurnas a estabelecimentos comerciais e domicílios, propõe o uso de veículos menores, como furgões, vans, e eventualmente VUCs (Veículo Urbano de Carga). O superintendente reflete sobre o efeito de substituir um caminhão por uma dezena de veículos de menor porte, que ocuparão mais espaço das ruas, irão consumir mais combustível, gerarão mais poluição e terão custos mais elevados.

A solução irá conflitar com legislação em vigor, a Lei do silêncio, que proíbe cargas e descargas noturnas, além do problema da segurança, pois se durante o dia já é difícil impedir o roubo de veículos de cargas, à noite a situação poderá piorar. \”Além disso, os estabelecimentos irão consumir mais energia elétrica, além de ter turnos adicionais, e todos os demais quesitos para recebimento de mercadorias, cujos custos poderão comprometer desde a viabilidade das empresas até a competitividade de seus custos, uma vez que será necessário incorporar o novo ônus aos preços de venda\”, avalia.

O prefeito Kassab tem apontado como exemplos de distribuição de mercadorias as megalópoles Paris e Nova York, porém possuem infra-estrutura de transporte com capacidade para que as pessoas possam ir e vir sem a necessidade de utilizarem veículos particulares. \”O cenário paulistano é bem diferente, pois se a oferta de assentos em veículos de transporte público não for compatível com as necessidades da população, não temos outra alternativa senão utilizar nossos próprios automóveis, que representam um \’mal\’ necessário em nosso custo de vida\”, orienta Czapski.

O executivo finaliza que as soluções passam por estudos técnicos detalhados, mapeando a situação de cada rua ou área da cidade. A questão demanda investimentos em infra-estrutura, como alternativas de transporte de passageiros, com o metrô como solução preferencial, ainda que o desenvolvimento de novas linhas em São Paulo se dê em ritmo incompatível com as necessidades da cidade.  \”E pela revisão de toda a infra-estrutura logística da cidade, que carece de áreas apropriadas ao transbordo de carga, à integração de diferentes modais ou mesmo à restrição de passagem pelo perímetro urbano da imensa frota de veículos de carga, que por aqui trafega sem nada trazer ou deixar, mercadorias, serviços ou impostos\”, conclui.

Por Magno Pereira